As lições da doença II Barbarismos e uma palavra vazia

06/06/2020

Nestes molestos e nefandos tempos, auspicioso leitor, há mister clássicas leituras e cultivar o nobre vernáculo. Sofre o corpo, sofre a alma, sofre o nosso idioma com tantos erros. A mancheias os vemos na Imprensa e nas vulgares Redes Sociais. Cuidemos de falar bem; cuidemos de escrever bem. Ecce quaedam exempla:

  1. Álcool em gel. Erro. Barbarismo: galicismo. A expressão é bastarda e equivocada tal como “mesa em mármore”, “cobertura em couro”, “televisão em cores” (“televisão a cores” também é erro, mas de outro tipo: solecismo). Castiçamente digamos: Álcool gel, álcool em forma de gel; mesa de mármore; cobertura de couro e televisão colorida.
  1. Lockdown. Erro. Barbarismo: anglicismo. Pedante palavra inglesa. O sentido original é de isolamento carcerário total. Bloqueio sanitário rígido. O português tem uma palavra muito mais expressiva e etimologicamente mais adequada. Confinamento. Do latim: cum + finis: dentro de limites.
  1. Drivethru. Erro. Barbarismo: anglicismo. Totalmente imprópria semanticamente. O vocábulo, surgido no inglês norte-americano, associa-se à entrega de alimentos através das janelas dos automóveis. Vacinas não são alimentos. Vernacularmente diríamos: vacinação dentro dos automóveis.
  1. Delivery. Erro. Barbarismo: anglicismo. Palavra fútil e sensaborona. Está no português indevidamente há muito tempo. Entrega é o correto. Entrega em domicílio. Substantivo com a preposição “em”. Entregamos a domicílio. Verbo com a preposição de movimento “a”.
  • Home office. Erro. Barbarismo: anglicismo. Insignificante e desnecessária expressão de uso frequente nesta época. Falemos o idioma de Camões: trabalho em casa.
  • Fazer uma live; assistir a uma live. Erros. Barbarismo (anglicismo) e solecismo. Live: outro desagradável e fútil termo inglês que não se deveria tolerar em nosso português. É o verbo to live (viver) e o adjetivo live (vivo).A locução adverbial vernacular é “ao vivo”. O correto é dizer “assistir a uma transmissão ao vivo; fazer algo ao vivo”.
  • A palavra vazia: Empoderamento. Erro. Palavra não existente no cânone lexical do vernáculo. O VOLP não a registra. Substantivo muito usado pelas “amáveis” feministas, assim como o verbo empoderar, que também não está compilado nos dicionários sérios da língua. Impropriedades, palavras espúrias. Neologismos absolutamente inúteis.
  • Quarentena. Erro. O substantivo configura uma catacrese de desvio estilístico. A não ser que o isolamento dure exatamente quarenta dias.
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