Aumento da taxa de juros SELIC: causas e consequências

27/09/2024

Marcelo Ximenes Teles da Roza

Mestre em Economia -UFC

Professor da Faculdade São Francisco do Ceará-FASC

No último dia 18, o Banco Central do Brasil (BACEN) aumentou a taxa Selic em 0,25 %, passando de 10,5% para 10,75% ao ano. Foi o primeiro aumento da taxa básica de juros da economia desde agosto de 2022 e o primeiro no atual governo Lula. É importante frisar que a taxa Selic é a taxa que o governo paga suas contas e por isso é uma taxa de referência, ou seja, quando a taxa Selic aumenta, todas as outras taxas de juros do mercado tendem a aumentar. Vale ressaltar que a taxa real de juros brasileira, que é a taxa de juros descontada a inflação, é a segunda maior do mundo, perdendo apenas para Rússia. Mas por que o BACEN aumentou a taxa de juros e quais as suas consequências práticas no dia a dia da população?

Para responder a essas questões, inicialmente é importante lembrar que o Banco Central é o órgão responsável por controlar a inflação do país. A inflação por sua vez deve ser contida porque o aumento generalizado e contínuo do nível geral dos preços corrói o poder de compra da moeda, ou seja, com a mesma quantidade de dinheiro a população compra menos produtos que no período anterior. Dito isto, o argumento do BACEN para aumentar a taxa Selic é que as melhoras na atividade econômica e a diminuição do desemprego geraram pressões de alta sobre as expectativas do Preços ao Consumidor (IPCA).

Mas a taxa de juros, onde entra nessa história? A taxa de juros é o principal remédio para o controle de um tipo de inflação, a chamada “Inflação de demanda”, que ocorre quando existe um excesso de Demanda Agregada sobre a Oferta de bens e serviços. A Demanda Agregada pode ser entendida como a forma que a nação gasta a sua renda é definida pela soma agregada do Consumo, dos investimentos, dos gastos do Governo e das exportações liquidas (exportações menos as importações).

Ao aumentar a taxa de juros, o objetivo do Banco Central é reprimir a demanda agregada. Isso ocorre porque com uma taxa de juros mais alta, o crédito fica mais caro, desestimulando o consumo, principalmente bens como eletrodomésticos, automóveis, veículos e residências, bens esses que normalmente são adquiridos por meio de financiamentos. Trocando em miúdos, com as taxas de juros mais elevadas, comprar “fiado” vai ficar mais caro e a tendência é que os consumidores adiem suas comprar para outro momento.

Outro impacto importante do aumento da taxa de juros sobre demanda agregada é no componente investimentos, que é um dos maiores motores do crescimento econômico e geração de emprego. Com uma taxa de juros alta, os empresários que pretendem realizar empreendimentos ficam desestimulados, pois aqueles que têm recursos próprios preferem colocá-los no mercado financeiro ao invés de produzir, gerar emprego e correr riscos. Por sua vez aqueles empresários que pensavam em recorrer ao crédito para realizar seus investimentos tendem a desistir, pois com uma taxa de juros alta os custos do financiamento podem diluir sua lucratividade. Resumindo: com os juros altos, empresários deixam de investir, produzir e gerar empregos e preferem canalizar seus recursos para o mercado financeiro com taxas rentáveis e com baixo nível de riscos.

E qual o papel do Governo nesse processo? Cabe ao Governo equilibrar suas contas, pois ao gastar mais do que arrecada o Governo acaba por colocar mais moeda no mercado, pressionando a demanda agregada e consequentemente a inflação, o que induzirá a novos aumentos da taxa de juros.

O ponto positivo, se é que podemos dizer assim, é que, com uma taxa de juros brasileira mais alta, parte do capital especulativo do planeta, buscando retornos mais atrativos, tendem a migrar parte dos seus capitais para o Brasil, fato esse que pode ser impulsionado pela queda da taxa de juros nos EUA. Com uma maior entrada de capital estrangeiro no país, a tendência é de valorização do Real e baixa no preço do Dólar, o que ajuda em conter os preços dos produtos importados, que muitas vezes são bastante significativos para a população como é o caso dos derivados do trigo, petróleo, medicamentos etc.

Não é difícil perceber que com taxas de juros elevadas o crescimento econômico do país, a geração de emprego e renda ficam prejudicados, colocando os formuladores de políticas econômicas em um desagradável dilema de escolher entre inflação, crescimento econômico e desemprego. Por fim, é claro que a taxa de juros é um remédio importante para o combate à inflação, porém deve ser usado com equilíbrio e sensatez, pois além de ser bastante amargo gera muitos efeitos colaterais, causando fortes transtornos de curto, médio e longo prazo sobre a população do país.

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