Ave Parnasianismo! Leconte de Lisle (1818-1894)

18/07/2020

O Parnasianismo foi um dos mais significativos estilos literários do Ocidente. Tem no orna et lima horaciano o seu tour de force.A correção formal e a estrita observância ao Cânon. É também profundamente denso de sentidos, filosófico. In uno verbo:foi o derradeiro grande sopro do Espírito Clássico na literatura. Surgido e irradiado a partir da França, aqui no “degredo” Brasil foi perseguido e maltratado ao tempo do infame Modernismo. Mas sabei, leitor: toda a poesia do Modernismo brasileiro não vale a obra de um Olavo Bilac ou de um Alberto de Oliveira.

Brindamos os leitores com um soneto clássico de um dos mestres franceses do Parnaso. Leconte de Lisle foi um verdadeiro mentor seguido em toda a Europa e aqui entre nós. Nosso Parnasianismo foi heroico e resistiu até a segunda metade do século passado. Mesmo depois das perseguições iniciadas com a leviana e irresponsável Semana de Arte Moderna. O soneto que se lerá foi vertido por nós in origine. Versos alexandrinos com cesura medial, rimado e mantendo a fiel relação entre littera et sententia.Legite:

La Mort d’um Lion

Étan un vieux chasseur altéré de grand air

Et du sang noir des boefs , il avait l’habitude

De contempler de haut les plaines et la mer

Et de rugir en paix, libre en solitude.

Aussi, comme un damné qui rôle dans l’enfer,

Pour l’inepte plaisir de cette multitude

Il allait et venait dans sa cage de fer,

Heurtant les deux cloisons ave sa tête rude.

L’horrible sort, enfin, ne devant plus changer,

Il cessa brusquement de boire et de manger,

Et la mort emporta son âme vagabonde.

Ô coeur toujours en proi de la rébellion,

Qui tournes, haletant, dans sa cage du monde,

Lâche, que ne fais-tu comme a fait ce lion?

A Morte de um Leão

Um leão caçador, velho, de nobre ar

Saciado, costumava olhar a amplidão…

E rugia em paz fitando a relva e o mar,

Completamente libre em sua solidão.

Mas, preso, qual no inferno, em meio à multidão

Um proscrito caminha apenas por errar…

Em sua jaula de ferro, andando, a se agitar,

Na inquietante prisão batia-se o leão.

Horrível sorte, enfim. Não podendo escapar,

Deixa então de beber e de se alimentar

E vem, pois, a morrer c’oa alma em prostração.

Coração, tu que estás sempre em rebelião,

Ofegante a bater-te entre as jaulas do mundo,

Por que não fazes tu tal qual este leão?

Tradução: Everton Alencar

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

MAIS Notícias
DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL
DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL

  (....) Non nobis, Domine, non nobis...   Quando me detenho a refletir sobre a relação entre o homem e a Divindade, não procuro eco ou lenitivo na obra de Homero. O bardo dos primórdios da Hélade (supondo que tenha havido realmente um só Homero) nos fala sobre deuses...

DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL
DEVANEIOS MITOLÓGICOS I EROS PRIMORDIAL

    Quando me detenho a refletir sobre a relação entre o homem e a Divindade, não procuro eco ou lenitivo na obra de Homero. O bardo dos primórdios da Hélade (supondo que tenha havido realmente um só Homero) nos fala sobre deuses volúveis, movidos por caprichos e...

Christina Rossetti
Christina Rossetti

“Even so my lady stood at gaze and smiled...” Dante Gabriel Rossetti   Christina Georgina Rossetti (1830-1894) foi uma das máximas ladies da honorável Victorian Poetry. Ricamente educada desde a infância, sabia grego, latim, várias literaturas e era profundamente...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *