O Parnasianismo foi um dos mais significativos estilos literários do Ocidente. Tem no orna et lima horaciano o seu tour de force.A correção formal e a estrita observância ao Cânon. É também profundamente denso de sentidos, filosófico. In uno verbo:foi o derradeiro grande sopro do Espírito Clássico na literatura. Surgido e irradiado a partir da França, aqui no “degredo” Brasil foi perseguido e maltratado ao tempo do infame Modernismo. Mas sabei, leitor: toda a poesia do Modernismo brasileiro não vale a obra de um Olavo Bilac ou de um Alberto de Oliveira.
Brindamos os leitores com um soneto clássico de um dos mestres franceses do Parnaso. Leconte de Lisle foi um verdadeiro mentor seguido em toda a Europa e aqui entre nós. Nosso Parnasianismo foi heroico e resistiu até a segunda metade do século passado. Mesmo depois das perseguições iniciadas com a leviana e irresponsável Semana de Arte Moderna. O soneto que se lerá foi vertido por nós in origine. Versos alexandrinos com cesura medial, rimado e mantendo a fiel relação entre littera et sententia.Legite:
La Mort d’um Lion
Étan un vieux chasseur altéré de grand air
Et du sang noir des boefs , il avait l’habitude
De contempler de haut les plaines et la mer
Et de rugir en paix, libre en solitude.
Aussi, comme un damné qui rôle dans l’enfer,
Pour l’inepte plaisir de cette multitude
Il allait et venait dans sa cage de fer,
Heurtant les deux cloisons ave sa tête rude.
L’horrible sort, enfin, ne devant plus changer,
Il cessa brusquement de boire et de manger,
Et la mort emporta son âme vagabonde.
Ô coeur toujours en proi de la rébellion,
Qui tournes, haletant, dans sa cage du monde,
Lâche, que ne fais-tu comme a fait ce lion?
A Morte de um Leão
Um leão caçador, velho, de nobre ar
Saciado, costumava olhar a amplidão…
E rugia em paz fitando a relva e o mar,
Completamente libre em sua solidão.
Mas, preso, qual no inferno, em meio à multidão
Um proscrito caminha apenas por errar…
Em sua jaula de ferro, andando, a se agitar,
Na inquietante prisão batia-se o leão.
Horrível sorte, enfim. Não podendo escapar,
Deixa então de beber e de se alimentar
E vem, pois, a morrer c’oa alma em prostração.
Coração, tu que estás sempre em rebelião,
Ofegante a bater-te entre as jaulas do mundo,
Por que não fazes tu tal qual este leão?
Tradução: Everton Alencar
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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