Baixo nível hídrico do Orós prejudica atividades de pesca e piscicultura

05/10/2019

Devido aos últimos anos de seca, as atividades da piscicultura e da pesca artesanal estão praticamente paradas em Orós. Um dos principais fatores está relacionado ao baixo nível hídrico do manancial. A situação de escassez hídrica prejudica a economia local, ocasiona desempregos e acúmulo de dívidas para as famílias dos piscicultores envolvidos nas atividades.

Quando não está viajando para entrega de peixes no Estado de Alagoas, José Inácio está na casa dele, no bairro Mutirão, tecendo galão e tarrafas de pesca. As peças, ele faz na sala, usa uma parte da porta como suporte para o trabalho. Além de ser o local mais bem ventilado da casa. “Aqui vou me distraindo, vai passando um ou outro, a gente puxa uma prosa. Corre um ventinho e assim vamos levando a vida”, destaca.

São muitas horas dedicadas ao trabalho que exige também muita paciência. “A gente tem que ter muita paciência e presta atenção para não errar e nem perder a meada da coisa. Tem que ir tecendo fio a fio. Aqui a gente passa uns vinte dias e até mais, dependendo do tamanho da peça”, complementa.

Com o fechamento das fábricas de gelo, Fabiano que já foi vendedor de mel ganha a vida salgando o pescado que chega oriundo de outros estados como Bahia e Pará

Normalmente uma peça tem cerca de três metros de diâmetro. Mas fazer redes e tarrafas não é a principal atividade do José. Ele também é pescador, todavia, por conta da seca, foi obrigado a deixar a pesca artesanal de lado. “Já pesquei em todo canto do Brasil, vários estados do Nordeste, ultimamente estava no Castanhão, mas a pesca lá ‘fracou’, voltei para casa. Uma vez por outra saio aqui para o Orós. A gente sai e volta sem esperança. O pouco que ainda dá para pescar serve mesmo só pra gente comer em casa. Não compensa nem vender”, lamenta, comentando sobre a situação hídrica do Orós, segundo maior reservatório cearense, depois do açude Castanhão, no Vale Jaguaribano.

Não tem água

O açude Orós está com pouco mais de 7% da capacidade de armazenamento. A atividade pesqueira não é mais rentável, visto que foi a mais afetada pelo longo período de seca. “Aqui, a criação de peixe nas gaiolas já foi bastante lucrativa. A gente ganhava bem, mais de um salário sossegado. Hoje, a gente não cria mais nada. Não tem água”, acrescenta o pescador Francisco de Souza.

Em média os piscicultores que trabalhavam em grupo de até 12 pessoas tinham renda mensal de cerca de R$ 1.500. “Eu chegava a tirar até mais um pouquinho desse valor, pois tinha um ganho um pouco maior porque mantinha 30 tanques rede no açude. Mas perdi tudo. Deixei cinco gaiolas no açude, abandonei”, afirma o piscicultor. Francisco de Souza disse ainda que atualmente contabiliza prejuízos de mais de R$ 60 mil.

Situação não diferente de outras pessoas que apostaram na piscicultura, que já foi a maior geradora de trabalho e renda no açude. Além da seca, a mortandade de peixe contribuiu com o declínio da atividade no Orós. “Já perdi muito peixe. A gente saía tudo tranquilo, quando chegava no outro dia: tudo morto. Quatro, cinco toneladas de peixe morto”.

A criação da tilápia através do sistema de tanques rede se tornou inviável diante da seca. Famílias que dependiam da piscicultura em Orós estão desempregadas, são poucos os trabalhadores que se arriscam na pesca artesanal. “Aqui faziam festa, era fila de barco, de canoa saindo e voltando tudo carregada de peixe. Hoje, praticamente não sai mais nada. Quem ainda se arrisca é só pra trazer comida pra casa”, pondera o pescador Luiz Gonzaga de Souza.

Por conta da seca, mais de 90% do pescado que é comercializado no mercado do peixe, às margens do Orós, vêm de outros estados, a tilápia vem da Bahia e outros pescados do Estado do Pará. “Aqui era cheio de gente trabalhando. Faltava espaço. Era lotado de carro pra todo lado. Até as fábricas de gelo fecharam. Mas graça a Deus que ainda tem esse trabalho aqui pra gente”, disse Fabiano Monte, ressaltando que já trabalhou de vendedor de mel, agora tira o sustento salgando peixe.

Turismo, agropecuária e esperança

O baixo nível do aporte do açude prejudicou também o turismo e outras atividades agropecuárias. “O açude está seco, as terras ficaram longe. Mas todo dia enquanto der, pego meu barco e vou lá ver como estão minhas vacas. Coloco água e comida e volto pra cá”, comenta o agricultor Osmar Vieira, que tem uma pequena propriedade no Sítio Mata Fresca, na outra margem do Orós onde cria um rebanho bovino com 15 cabeças de gado.

Para os trabalhadores o maior desafio vai ser retomar a atividade, quando muitos perderam os equipamentos de trabalho. Estão desestimulados, mas ainda na esperança que o período de inverno seja mais favorável a partir do próximo ano e que o açude volte a acumular um bom aporte hídrico.

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