Há cerca de quatro anos o Bar Mandacaru foi tema de reportagem no A Praça; na época a ideia do periódico foi homenagear o lendário bar, pelo seu legado com o centro comercial e a cidade
Um misto de tristeza e saudosismo se abateu sobre a Rua Epitácio Pessoa, no Centro de Iguatu, com o encerramento das atividades do bar Mandacaru. Fundado pelo comerciante Luiz Vicente Sobrinho, ‘Luiz Océlio’, em 1963, ao longo de mais de cinco décadas o estabelecimento comercial que virou referência da boemia e de pratos e sobremesas regionais marcantes da culinária, como churrasco, o doce de leite liso, a paçoca, doce de banana e os salgados (coxinha, pastel, sanduíche).
O nome Mandacaru foi para homenagear o filho de um grande amigo de Luiz Océlio. Em 1963, ele comprou o local, depois de trabalhar por um ano na roça. “Percebi que o caminho da roça não era para mim”, disse.
Nos anos 70 e 80, o bar Mandacaru viveu seus anos de maior glória. Eram os áureos tempos do algodão, quando o dinheiro circulava em maior volume no comércio. Segundo os frequentadores, era comum os pecuaristas chegarem pela manhã e só saírem no fim da tarde. “Lá os caras bebiam e quando já estavam encharcados, davam banho de cerveja nos cavalos”, lembrou o comerciário José Almeida de Melo, 59, que trabalhou no comércio na época e lembra com detalhes a rotina do local.
Personagens
O fechamento do Mandacaru ainda repercute. Pessoas que frequentavam o local lamentam o episódio. O bar ainda tem valor sentimental para quem viveu e cresceu lá, como a senhora Francisneide Alves Bezerra Cavalcante, 52, filha de Cândida Severo Bezerra, 71, que trabalhou por 21 anos na função de cozinheira no local. Dona Cândida reside atualmente no bairro Vila Jardim. Ela sofre de Alzheimer e está sob os cuidados dos filhos. Francisneide lembrou que a mãe a levava para o local quando ia trabalhar e ela ficava lá acompanhando o dia-a-dia do estabelecimento. “Cresci ali, vendo seu Luiz Océlio, vendo os clientes sendo atendidos, minha mãe trabalhando. É tudo muito vivo na minha memória”, disse.
A reportagem localizou também no bairro Cocobó, Maria de Fátima Pereira da Silva, ‘Fafá’, 62. A cozinheira que substituiu dona Cândida. Fafá era a responsável pelo famoso doce de leite liso, a paçoca, a coalhada americana (feita com leite fervido), o doce de banana, os bolos, entre os demais o bolo mole e outros pratos. Fafá disse que sente saudades da rotina de trabalho, a convivência saudável com Luiz Océlio e sua família. “Muito me orgulha ter feito parte da história daquele bar, ali eu vivi 16 anos de minha vida, convivendo com o centro, vendo as pessoas chegarem para comer, pedindo bolo, doce, paçoca. Me dá muita saudade”, disse.
Adriana Costa, 34, trabalha na calçada do extinto bar Mandacaru vendendo bilhetes de loteria. Ela disse que o estabelecimento fechado é como se uma parte da rua estivesse faltando. “Fica muito esquisito, porque quando estava aberto era o tempo todo gente chegando e saindo, e agora fechado fica muito triste”, disse.
Saúde e rendimento
O último dia de funcionamento do bar foi em 18 de março deste ano. Francisco Orcélio, 51, um dos filhos de Luiz Océlio, lembrou que aquele 18 de março, (uma quarta-feira), véspera de feriado de São José, foi um dia comum, no entanto, triste, pois ele, naquele dia, já sabia que o bar nunca mais voltaria a funcionar. “Para mim, foi um dia que demorou a passar, parecia que o bar não queria sair da gente, foi marcante porque tudo que nós temos, tudo que meu pai construiu, foi de lá”, disse.
Francisco Orcélio explicou que o fechamento do bar foi motivado pelos problemas de saúde de seu pai, Luiz Vicente Sobrinho, que há cerca de um mês quebrou a perna numa queda acidental, dentro de casa. A mãe dele, a senhora, Inácia Landim Silva “Ilná”, também tem problemas de saúde. Orcélio disse que foi a necessidade de ficar em casa para cuidar dos pais idosos e doentes que o fez também aderir à ideia de fechar o estabelecimento. Segundo ele, o Mandacaru também não estava mais gerando rendimentos. “Ali meu pai chegou a vender 45 caixas de cerveja, num dia, foram momentos marcantes, de glória, inesquecíveis”, ressaltou.
Orcélio disse que para ele também foi difícil reforçar a decisão do fechamento. “Cresci lá, vivi lá, acompanhei meu pai, vi as mudanças da cidade, a partir do Mandacaru”, ressaltou. Orcélio acrescentou que seu pai lamenta todo dia o fechamento. “Ele não queria fechar, mas não tínhamos escolha, ou cuidava do bar ou cuidava deles”, frisou.
À venda
Os móveis e equipamentos, alguns ainda da época da fundação, estão disponíveis para venda. Um congelador que tem 80 anos de vida é uma das peças mais valiosas, do ponto de vista histórico.
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