O medo da morte sempre é secundário. Que o digam os suicidas! O maior medo do homem é o da decadência. A morte antes da morte. Qualquer memória está manchada pela decadência. Os bares por onde andamos. Não posso mais sentir o cheiro do cigarro de menta que fumei naquele bar cadavérico, ouvindo o lamento de Oswaldo Montenegro. A música agora é baixa; o dono do bar fala sussurrando, devido ao câncer. Amaldiçoa o cigarro que fumou por anos. Fala no Deus que antes era alvo de suas blasfêmias. Fecha as portas mais cedo.
O amor, decantado outrora, fenece. Não há mais apaixonados suicidas. Não há mais o sabor da caça. Todos temem o politicamente correto. Homens retraídos envelhecem num átimo. Falam de política, que é o assunto mais sacal do mundo. Não se ouve falar nos cabarés, das aventuras proibidas. A fidelidade conjugal azeda a alma. Homens difíceis são homens forjados nas grandes decisões; nas grandes angústias. Que amam as grandes amantes.
A vida se tornou litigiosa… a censura, imperiosa, dá as cartas. Não falem mais que tal mulher é gostosa, é machismo. Não lance olhares fixos, é assédio. No entanto, a realidade se impõe. Beleza e riqueza continuam a dominar o mundo. Feministas falam em quebra de paradigmas, de padrões. Mas não abrem mão das academias, das dietas, do mundo “fitness”. Homens se tornam sensíveis demais, como diz uma canção moderninha.
Negando-se. Anulando-se. A decadência ruge.
Reinado do discurso “empático”; que de empático nada tem. Mentem sobre a natureza humana. Criam anomalias. Colocam nas mãos de todos um poder imaginário que apenas poucos possuem, de fato. Nietzsche ainda nos choca pela lucidez desconcertante: “É preciso defender os fortes contra os fracos”. Sim, é. Entenda-se: os fracos são os ressentidos. Àqueles que sabem, de saída, que não poderão chegar ao topo por seus méritos. Cria-se a democracia dos imbecis, que são maioria.
Mas lembre-se: tudo isso tem a ver com a decadência. A brutal verdade, a verdade medonha: seremos amados quando não formos mais jovens e belos? Conseguiremos manter o charme, o carisma e o fascínio quando nosso corpo depor contra nós?
Oscar Wilde dizia que só os superficiais não julgam segundo a aparência. Não caia nos cacoetes verbais modernos. Quase ninguém repara na virtude.
Olhe a sua volta. O que vê? Por acaso os mansos e sábios estão em alta? Porventura mulheres belas buscam os honestos, porém pobres e desprovidos de beleza? Alguns dirão que este que vos escreve é um pessimista à la Cioran. Disse alguns? Minto. Quem, hoje, lê os grandes autores? Que passeiam pelos porões da alma humana em dor? Pensar dói. E não pensar ludibria. Nesta roleta russa, você escolhe qual a bala que irá te crivar. De um modo ou de outro, a decadência está à espreita.
Mais Augusto dos Anjos e menos Augusto Cury.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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