Certo dia resolvi sair a pé, à esmo pela cidade, pelas ruas menos movimentadas. Numa delas, um homem baforando um cachimbo; lembrei-me de que há tempos não fumo cachimbo.
Aquele ambiente cheio de moscas por sobre a mesa escura, os encartes de mulheres seminuas (desses que encontramos em qualquer oficina e borracharia de toda cidade), os famigerados copos americanos… Que me remeteram há tempos de outrora, onde bebia cachaça com limão de tira-gosto e fumava cachimbo.
Pois bem, adentrei no recinto onde homens com o dobro da minha idade me olhavam com desdém, não me dando crédito, fitando o olhar para o meu cabelo ”engomado” e de pouco gris.
Fingindo não me importar, pedi meia dose de cachaça, com seriguela de acompanhamento. Olhei para um grupo fechado de carteadores. Eles, de tão compenetrados, sequer notaram minha presença.
”’Solzim’ quente, né?!” – Falei para o ”homem do cachimbo”, que se mostrou muito simpático para comigo: um transeunte insolente.
Já com mais intimidade, sentindo-me à vontade, pedi um trago do seu cachimbo, em troca, lhe daria cigarros.
Feito o acordo, com o cachimbo em mãos, pus a tragá-lo… Tonteei com o forte fumo inalado. Senti o mundo girar e o coração bater mais forte ao ser acometido pelos efeitos químicos e saudosos que aquele mísero cachimbo me ofereceu.
Após o êxtase, fiquei ali contemplando a gente humilde dentro e fora daquele lugar. O mundo se torna mais belo quando até mesmo um simples trago é degustado com o sabor da vida que pulsa nas veias ameaçadas pelo próprio fumo.
O ambiente simples e o que ele nos proporciona, ainda é o melhor lugar para se estar.
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Resolução de um ledor
Nesta época do ano, é comum as pessoas fazerem as suas famigeradas resoluções de ano novo. Considerando os feitos no decorrer do ano que se encerra, com o advento do ano novo, muitos redefinem valores, metas, conduta; vislumbram, por assim dizer, um 2025 diferente, melhor do que foi o ano que fenece.
Eu, particularmente, não costumo fazer tais resoluções. Mas confesso que há algo que quero para o ano que se avizinha: ler muito mais do que já li em todos os anos. Considero o meu desempenho, enquanto leitor, em 2024, medíocre. Claro que há as ocupações como a faculdade e o trabalho, que exigem e sugam muito do meu tempo, mas, ainda assim, não acho justificável ter lido tão pouco este ano.
Por mês, considerando um livro pequeno sendo composto de cem a duzentas páginas, o mínimo aceitável é que se deva ler ao menos três mensalmente. Isso daria, ao final do ano, um total de trinta e seis livros lidos – mas, claro, a minha meta é ler sessenta livros no decorrer do ano de 2025.
Tão importante quanto o hábito de ler, é escolher livros verdadeiramente enriquecedores e absorver bem o conteúdo. Não adianta ler por ler; é preciso reter toda a informação, de modo que a mesma possa vir a ter uma aplicação prática passa a vida do indivíduo.
Bem, ainda com relação às leituras de 2024, pude desfrutar de bons livros como Cartas na Rua, de Charles Bukowski, A Tulipa Negra, de Alexandre Dumas, e Robinson Crosoé, de Daniel Defoe. Creio que estes foram os três livros que mais gostei de ter lido este ano.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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