Data vênia, considero que estou no caminho certo – o inverso -, o caminho próprio de quem encontra-se radicalmente contrário a tudo o que apregoam atualmente. Ou, como costumo dizer: quanto mais me criticam nesse aspecto, mais sei que não tenho parte alguma com eles, pois sou o antagonista mor de tudo o quanto defendem.
Claro que, em um mundo de gente que não se imagina sem a sua turminha de idiotas, a solidão lhes parece algo assustador (e é). Felizmente, me bastam uns poucos similares a mim, onde o encontro, ou melhor, a confraria se faz em tempos não necessariamente frequentes; dispensamos apegos em demasia.
Vivemos, para nossa salvação, em meio aos séculos passados, em companhia da cultura superior por meio dos livros que nos alimentam a alma. Ler é um exercício solitário e cansativo, não espere tal empenho e costume de quem perde tempo em encontros pseudos, regados a toda sorte de aforismos, sofismas e tautologias abjetas, dignas do maior desprezo da nossa parte.
Confundem convicção com preconceito. Não perderemos tempo com discussões risíveis. Chamem-nos pedantes, aceitamos o epíteto. São tempos difíceis, sabemos. Mas colaborar, estar nesse antro de feras descerebradas é, definitivamente, tornar-se, pouco a pouco, um deles. Melhor embriagar-se até esquecer o próprio nome.
Aliás, penso que a bebida e a música devam ter sido inventadas justamente para essa finalidade: esquecer que convivemos com outros seres piores do que nós mesmos, afinal, temos consciência do quão ridículo somos. Eles, isso nunca. Na verdade, muito pelo contrário: se julgam o que há de melhor na existência humana.
Ano passado escrevi um conto de final de ano para o jornal A Praça, onde mencionei algo sobre não mudar em nada a respeito de quem se é. Pronto. Reafirmo isto neste ano de 2022, e no porvir, e em todos quantos ainda viverei (se a morte não me achar antes, em meio às garrafas e bitucas de cigarro).
Não tenho nada a oferecer que seja reconfortante para quem quer que esteja a ler este texto. Como Nietzsche, não vim construir ídolos, mas destruí-los. Não tenho palavras positivas, de amor, de fé ou esperança… Se as tivesse, usava-as em benefício próprio. Aprendi a ser egoísta, talvez. Enfim, não desistam de quem são (a menos que sejam como os idiotas aqui citados), pois o desgosto do sacrifício acompanha a glória da liberdade.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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