Dizem que ele é selvagem. Pelo menos é o que aponta a letra da banda brasileira Titãs, no seu clássico “Homem Primata”, do álbum “Cabeça Dinossauro”. Bem, para além das músicas tipicamente contra o sistema, anárquicas ou até mesmo revolucionárias, deixando a rebeldia propriamente adolescente de lado, separando os homens dos meninos, talvez seja prudente analisarmos o capitalismo de maneira mais sensata e lúcida.
Primeiramente porque o capitalismo foi o sistema que mais gerou riqueza. A Revolução Industrial tirou da miséria os ingleses, que se encontravam vivendo na mazela do feudalismo – em que a única igualdade entre os vassalos era a pobreza mesmo. Em um sistema de livre concorrência, de livre mercado, como é o caso do capitalismo, a liberdade se faz por excelência, afinal, a oferta e a demanda regem “naturalmente” (como a clássica “mão invisível” do sr. Adam Smith) o valor, a produção, satisfazendo com isso a necessidade da clientela que é, para todos os efeitos, o motor harmônico desse mecanismo.
O empreendedor é funcionário de todos os seus clientes, haja vista que, se não atender às suas necessidades, a bancarrota do seu negócio será inevitável. Ao proprietário dos meios de produção cabe a decisão de como produzir, quanto produzir e, de olho na concorrência, aprimorar o seu produto gastando menos com mais. Os insumos devem ser levados “na ponta do lápis”, afinal, são eles a matéria-prima, o objeto de dispêndio e de lucro (sim, ao mesmo tempo). O risco é grande, mas a busca pelo lucro requer coragem para promover estratégias.
Este resumo elementar que fiz das engrenagens basilares do livre mercado, caro leitor, não foi à toa. Serve para promover uma certa reflexão quanto a sua importante liberdade e poder enquanto indivíduo inserido no âmbito capitalista. É você quem manda! É você quem abastece a máquina! Somos todos nós! Coisa que não seria possível em uma comunidade socialista.
Em uma comunidade socialista, sem livre mercado e concorrência, nem mesmo o dinheiro teria capacidade de auferir juízo valor a coisa alguma, pois só em uma sociedade de livre mercado isso é possível. E outra coisa: como, em um sistema comunal, onde nada é de ninguém, mas coletivo, seria possível conferir o que seria bom para determinado indivíduo (sim, a individualidade, aqui, passa a inexistir), e qual valor especulativo justo essa mercadoria teria?
Claro que o sistema capitalista tem lá suas imperfeições e crises cíclicas. Não há como negar. Para tanto, cabe aqui mencionar a importância da ação do Estado ante tais crises. Todavia, refiro-me a um Estado mínimo, não maximizado. Tal gestão estatal deva intervir mediante empréstimos ou concessões que possam auxiliar e evitar, com isso, uma derrocada empresarial e, por conseguinte, desempregos – que causam prejuízo também ao governo, pois, como sabemos, todos nós pagamos impostos. E não há bom pagado desempregado, não é mesmo?
Sabemos das imperfeições humanas. O capitalismo não tem por essência pregar um mundo dos sonhos romantizado, como é o caso do socialismo. Se o capitalismo é selvagem ou não, isso é definido de acordo com a perspectiva de cada amigo leitor. Esse cronista que vos escreve prefere a “selva” à ilusão pueril do mundo socialista que, quando promoveu uma certa autonomia, como no caso da União Soviética, foi tão somente pelo fato de não ter abolido as bases capitalistas, que coexistiram mediante a tirania… Socialistas não são tolos, sabem que a riqueza advém do livre mercado…. O que eles fazem, no entanto, é controlá-la, dominá-la… extingui-la, não. Déspotas sempre arranjam um jeito de dominar também o mercado. Assim o foi também no nazismo. Ou pensam que o famigerado Hitler extinguiu o sistema capitalista daquela época? De modo algum… Apenas o dominou, tomou para si e determinou, assim, o que produzir, quando produzir e por quanto vender tal mercadoria, bem de consumo. E ao proprietário, coitado, coube a este apenas o dever de gerenciar o que é seu, tendo como verdadeiro dono o tirano da vez. É assim que o espólio acontece nas verdadeiras ditaduras!
Quem acha que o capitalismo é puramente malvado, ou leu pouco, ou foi doutrinado pela mentalidade esquerdista, ou sequer acompanha o que acontece atualmente em países ditos socialistas. A América Latina que o diga, caro leitor.
Para que o amigo leitor possa refletir sobre, finalizo esta coluna com uma dica de boa leitura:
“O cálculo econômico em uma comunidade socialista” – Ludwig von Mises.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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