Catador de papel vira colecionador de livros

26/10/2019

Há cerca de dez anos o autônomo Puskas Viana Diniz, 57, foi contagiado pelo “vírus” da literatura. Ele iniciou a atividade de catador de papel, quando passou a encontrar entre os achados impressos os livros que passou a colecionar até chegar aos impressionantes 3 mil títulos, empilhados pelo chão, sobre prateleiras, ou guardados em sacos, no sebo organizado por ele mesmo na Rua 23 de novembro, 219, no centro de Iguatu.

No sebo onde é possível visualizar livros por todos os lugares, funciona como se fosse uma loja de múltiplas funções onde são feitas doações, compra, venda e troca. “Daqui, o leitor ou colecionador não sai de mãos vazias”, garante o livreiro Puskas. Os títulos são os mais diversos. Desde literatura portuguesa e francesa, filosofia, sociologia, genealogia, autoajuda, psiquiatria, geografia, história, romances policiais, ciências. Um dos títulos mais antigos é de um autor francês Pr. Gillet (L’éducácion du Caractère), que foi trazido por um padre brasileiro, Miguel F. Campos, datado de 24 de outubro de 1908, portanto há mais de um século.

Homem-livro

O ex-catador de papel, hoje organizador da biblioteca improvisada, disse à reportagem que lê livros avidamente e se tornou um apaixonado pela leitura, a partir de quando começou a guardar os livros. Isso já se vai quase uma década e ele acrescenta que não sabe enumerar o quão sua vida mudou ao ler sobre os temas mais diversos, ao adquirir conhecimento, saber de cultura, saúde, cidades, estados, países, gente, crenças. Puskas, como qualquer apaixonado por leitura, mesmo num pequeno espaço físico, consegue estar conectado com um universo de informações, ciência, cultura, entretenimento, diversão. Juntar papel reciclável para vender continua sendo a principal fonte de renda para ele, acrescente ao ‘negócio’ o escambo dos livros, que no fim das contas dão ao bibliófilo, talvez mais razão de existir. “Eu sou um livreiro, vendedor de livros, amo fazer isso, sou apaixonado, minha vida gira em torno dos livros”, frisou.

A luta do homem-livro é não deixar a ideia morrer. Puskas é como um pássaro, livre para voar. É solteiro, não se apega muito a bens, é pai de um único filho, que por ter crescido vendo seu pai lidando com os livros se tornou também um fissurado por leitura, influenciado, muito provavelmente, pelo charme das histórias e letras.

Puakas Viana Diniz, começou por acaso a colecionar livros, hoje ele já tem mais de 3 mil títulos

Saiba mais

Puskas recebeu do pai Joaquim Diniz o nome do jogador húngaro que encantou o mundo jogando pela seleção da Hungria e pelo Real Madri. Foi artilheiro da Copa do Mundo de 1954 e jogou no Brasil em 1957. Na Hungria, Puskas significa ‘Carabina’, uma alusão ao chute forte e certeiro do atleta. Foi justamente num jogo no Brasil na década de 1950 que o pai Joaquim se encantou com o futebol do húngaro e resolveu homenagear o craque colocando seu nome no filho. Ao contrário do craque húngaro, o Puskas iguatuense desenvolveu suas habilidades para outra veia socioeconômica: juntar e distribuir conhecimento.

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