R$ 200,00 é a renda que Josefa Lúcia Vieira, ‘Xuxa’, 53, consegue para comer, ajudar os dois netos de 5 e 7 anos, pagar aluguel, água e luz e manter a casa onde mora sozinha na Travessa Pe. Cícero, bairro Cocobó. O dinheiro é oriundo da única atividade que ela desempenha como catadora de recicláveis, papel, vidro, plásticos e metais, ferro, alumínio e cobre.
O material, que Xuxa consegue juntar em 15 dias de trabalho árduo, é vendido para reciclagem e ela apura em média 100 reais. Juntando o dinheiro de duas quinzenas é fácil descobrir quando tem num mês para suas despesas pessoais, alimentação, água, luz, aluguel e ainda ajudar com os dois netos, de 5 e 7 anos.
Foi dona Xuxa que a reportagem encontrou numa bicicleta abarrotada de sacolas com os materiais que cata na rua para vender. Ela mesma adaptou a bicicleta para carregar o material, colocando um banco com as pernas para cima e dentro, outro assento menor, também de cabeça para baixo. As pernas que ficam para cima, ela usa como ganchos para pendurar as sacolas com os materiais. Há situações em que a bicicleta está tão carregada de sacolas com materiais, que ela mal consegue carregá-la.
No momento da abordagem ela estava no bairro Bugi, mas é sabido que percorre a cidade de ponta a ponta em busca dos recicláveis para juntar e vender. Esta é a principal atividade econômica dela há mais de 30 anos. Daqui a dois anos, pelas regras atuais da seguridade social, teoricamente ela já pode se aposentar, mas isso é incerto, já que ela não paga o INSS como autônoma e dificilmente vai poder comprovar tempo de serviço como agricultora, por não ter exercido a atividade. Em três décadas trabalhando como catadora não recolheu nada de encargos: INSS, FGTS, nunca recebeu 13º salário, nem tirou férias.
Rotina
Xuxa mora sozinha num pequeno imóvel alugado na Travessa Pe. Cícero, no Cocobó. A única filha de 22 anos, que é mãe de seus dois netinhos, não mora com ela. Parte da renda que consegue compra mantimentos e envia para as duas crianças. Xuxa leva uma vida muito simples. Ela não sai para o lazer, muito menos vai às compras. As únicas idas ao comércio são para trabalho. Cumpre expediente de domingo a domingo, geralmente em jornadas que duram cerca de 8 horas. Sai de casa cedo logo após acordar e tomar sua única refeição em casa, um café simples. O almoço, improvisa na rua mesmo e o jantar é doado pela vizinha, dona Kelly, a esposa do carroceiro, que mora ao lado. Nas ruas por onde passa, recebe a solidariedade das pessoas que sempre lhe oferecem algo para comer. “Só faço comida em casa quando tem os ingredientes, se não tem, não faço”, contou.
Como todo mortal, Xuxa também alimenta um sonho: comprar uma caixinha de som para ouvir suas músicas, seu melhor passatempo quando está em casa. O único aparelho celular que tinha, no qual podia ouvir rádio, uma paixão dela, por ser um equipamento antigo e ultrapassado, acabou queimando e nunca mais pôde comprar outro. Atualmente o único equipamento que ela usa para ouvir rádio é emprestado.
Aniversário
Ironia do destino ou não, no próximo dia 31 deste mês, último dia do ano, ela aniversaria. Vai completar 54 anos de idade. Pela aparência sofrida do rosto marcado pelo desgaste físico das longas jornadas de trabalho, a mulher tem aparência de ser bem mais velha. Contudo, Xuxa não reclama. Para ela importa estar viva, com saúde e disposição para o trabalho. Saúde para ela é solução. Com a idade que tem, saúde é a única coisa que esbanja. Josefa não é hipertensa, não tem diabetes, nem qualquer outra doença orgânica. Sua saúde e disposição são seu maior patrimônio social, econômico e financeiro.
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