Durante esta semana os trabalhos de limpeza dos cemitérios em Iguatu foram intensificados para receber os visitantes, hoje, sábado, 02, dia dedicado aos mortos, finados. Não diferente de anos anteriores, é esperada uma intensa movimentação, conforme a empresa que administra os dois cemitérios: Parque da Saudade e Senhora Sant’Ana, cerca de 15 mil pessoas devem passar pelos dois campos santos.
“Além dos trabalhos diários de manutenção e limpeza, no sábado são intensificados esses trabalhos para atender melhor os visitantes. Desde o início da semana que algumas pessoas antecipam essa visita aos túmulos e jazigos. As missas também três atraem muitas visitantes”, destacou Alan Chagas, auxiliar administrativo.
Muitos aproveitam para ganhar um dinheiro extra com a venda de flores, arranjos, coroas, velas e água. Além também das pessoas que já costumam fazer o trabalho de zelar pelos túmulos, como Alzenira Gomes, há 30 anos fazendo esse tipo de trabalho. “Esse ano está bem fraco. Os serviços foram poucos. Antes a gente ganhava bem mais dinheiro. As famílias apareciam bem mais cedo para mandar limpar, lavar os túmulos. No sábado às vezes a gente consegue fazer algum bico”, comentou.
Diferente de anos anteriores, os dias que antecedem o de Finados havia movimentação mais intensa nos preparativos dos dois cemitérios. Ainda segundo a administração dos espaços, o fluxo bem maior que acontecia antes da pandemia da Covid-19, aos vem sendo retomado. “Algumas pessoas estão vindo durante a semana, ainda evitam aglomerações, além do calor mais intenso nesse período. As pessoas idosas aparecem mais pela manhã, também”, ressaltou Alan.
Cerca de 25 mil pessoas devem passar pelos dois cemitérios no Dia de Finados. Serão celebradas missas nas capelas dos cemitérios, logo cedo. Às 6h, 8h, 10h e às 18h, são os horários de missas na Capela de Santa Rita de Cássia, no Senhora Sant’Ana. Já no Parque da Saudade, às celebrações estão marcadas para 7h, 9h, e 16h. Além também das missas que acontecem nas paróquias e capelas da zona Rural. No Cemitério Vertical Caminho da Paz, tem missa às 8h.
Maria Augusta e Zé Coveiro
Nesse período aumentam as visitas a alguns túmulos do cemitério Senhora Sant’Ana, como o de Maria Augusta, considerada santa popular em Iguatu, morta pelo próprio pai, que tentou abusá-la, quando ela tinha 12 anos de idade, em junho de 1963. Na sepultura dela as pessoas colocam flores, brinquedos e acendem velas.
Outra personagem também que faz parte da história do cemitério Senhora Sant’Ana é José André, Zé Coveiro, como é conhecido. Atuou por 57 anos como coveiro, mesmo aposentado diariamente é possível encontrá-lo no local. “Eu mesmo com um problema, uma dor nessa perna esquerda, ainda venho por aqui. Melhor do que ficar em casa só, por aqui vejo gente, acompanho o trabalho do pessoal. Fico na sombra. Passa um fala um pouco. Mas, está bem diferente de antigamente. Antes demorava uns vinte dias para enterrar uma pessoa, agora praticamente todo dia tem enterro”, pontuou.
Caminho das Almas
De acordo com Michel Prudêncio, produtor cultural, que desenvolve o projeto Caminho das Almas, que promove passeio cultural no cemitério Senhora Sant’Ana, o dia de Finados é a inspiração para o desenvolvimento da atividade. O passeio tem como ponto algumas sepulturas mais visitadas e outras desconhecidas, entre essas do inglês Edward Francis Walsh Born, natural de Yonkers, Nova Yorque, nascido em no dia 29 de abril de 1888 e falecido em 10 novembro de 1921, em Iguatu. A visita é um encontro, momento de ouvir e contar histórias, observar túmulos, a arquitetura dos sepulcros, observar personagens da história, personagens anônimos da cultura da cidade. Outro local também visitado é o mausoléu onde foi sepultado o político e ex-prefeito iguatuense Roberto Costa, o da família Papaleo, sepultura com uma estrutura bem diferente, o cruzeiro das almas, além da Maria Augusta, o local simples com pintura à base de água, onde está sepultado Francisco Prudêncio, maestro Mano, pai do Michel. “Aqui está enterrado o maestro Mano, que foi maestro da Banda Municipal de Iguatu, durante 30 anos, foi professor de música, fez um grande trabalho nas periferias da cidade, ajudou a capacitar muitos profissionais da música daqui que passaram pela sua sala de aula. O cemitério é um local que me faz bem. Me criei nessa região, sempre participei de programação por aqui, quando vinha para enterro, acompanhava minha tia quando vinha acender velas no Cruzeiro. A gente sempre cultuou nossos antepassados, nossos mortos e estar aqui, particularmente, sinto muita paz. Me sinto iguatuense porque a gente se reencontra com vários iguatuenses aqui nesse espaço. A gente vem ver quem já se foi e acaba se percebendo”, ponderou.
Michel destaca que muitas das tradições típicas dos sertanejos estão se perdendo. “Alguns rituais não existem mais como as carpideiras, que choravam nos velórios, o ritual de levar o corpo, de velar o corpo em casa. Antigamente também tinha o caixão comunitário. Muitos foram sepultados assim, aqueles mais pobres”, relembrou.
De acordo com a programação dos cemitérios, logo cedo por volta das 5h já começa a movimentação que se estende durante todo o dia, encerrando no período da noite.
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