Um espaço simpático, cercado de verde, com acolhimento capacitado, e o melhor de tudo, um acervo rico, em muitas informações sobre as religiões de matrizes africana. Essa é a Sala de Leitura Velho Abel, que foi inaugurada na segunda-feira, 22, no Centro Religioso de Umbanda e Candomblé Ilê Așe Ogum Onirê, no Bairro Bugi.
O terreiro abriu espaço voltado para atender as pessoas interessadas em pesquisar, conhecer e estudar mais sobre essa religião. 21 de janeiro é a data dedicada ao combate à intolerância religiosa. “Dia 21, foi o dia do combate à intolerância religiosa. A intolerância tem a ver com a ignorância e ignorar é não conhecer. Muitos dos desafetos contra a nossa religião, muitos dos problemas que nós temos enfrentados é que as pessoas não conhecem, não têm informação. É um espaço ainda modesto, mas com muitas informações a respeito da religião e com isso, não vamos esperar só o dia 21 de janeiro de cada ano para combater a intolerância religiosa, mas o ano inteiro a gente está discutindo, divulgando informação”, ressaltou o ministro religioso Lúcio Oliveira.
A iniciativa de criar esse espaço foi justamente pela procura principalmente de estudantes, universitários, profissionais que estão cursando pós-graduação, mestrado das mais diversas áreas sobre a religião. “Já algum tempo muitas pessoas têm recorrido a nossa casa, pedindo informações, solicitando palestras, eventos. Mais recentemente uma universitária de Psicologia, de Icó, esteve aqui procurando para fazer um trabalho da graduação dela. Isso incentivou a gente a criar um espaço específico para leitura, consulta, discussão, enfim para contribuir com a educação. Temos um acervo com pesquisadores renomados internacionalmente das mais diversas áreas, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Psicologia, entre outras, e de editoras que são renomadas no país, editoras sérias. Além disso, vamos ter acesso à internet aos sites das instituições de pesquisas, das universidades que trabalham a questão da religiosidade, que trabalham especificamente a questão das religiões de matrizes africanas, que são expressões no Brasil várias de Norte a Sul. Esse nosso espaço é para isso. Que as pessoas estejam aqui”, pontuou o religioso, destacando ainda que por conta da Lei 10.639, (Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 que alterou a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.) “ É obrigado na questão do ensino, da história da África, da contribuição da África na cultura brasileira, desde o ensino fundamental até cursos de pós-graduação, essa temática é recorrente, essas pessoas se sentem desamparadas, sem saber como iniciar uma pesquisa, sem saber a quem recorrer, buscar informações para fazer os trabalhos escolares, TCC (Trabalho de Término de Curso), Artigos. Então estamos disponibilizando nosso acervo e o espaço para as pessoas para que haja essa troca. E o nosso terreiro então está dando essa contribuição à sociedade de modo em geral”.
Matriz Africana
Outra preocupação com a criação da Sala de Leitura é ofertar pessoas capacitadas para auxiliar no atendimento ao público, no sentido de orientar as pesquisas. “Estamos buscando a qualidade, da seriedade não só das informações, mas de as pessoas também estarem contribuindo, orientando. Por exemplo, a professora Marlete Araújo, que é pedagoga, tem mestrado em Educação, é psicopedagoga, tem especialização na área de Educação Inclusiva, é uma pessoa que tem formação científica que poderá contribuir desde o nível elementar até a pós-graduação, no sentido de orientar as pessoas como melhor conduzir seus trabalhos”, explicou Lúcio Oliveira, que também é professor do Instituto Federal de Ciências e Educação, IFCE. “É preciso esclarecer que nosso terreiro não é só terreiro que faz ‘macumba’, temos sim, nossas obrigações, nossas giras, nossas sessões, mas temos também essa função divulgar conhecimento, e educar, formar e por isso a necessidade de pessoas com formação, com conhecimento científico adequado para dar uma contribuição de qualidade para a sociedade. Isso é fundamental”, disse.
Alana Lima, que é bacharel em Direito, também membro do Centro Religioso, destacou a importância para a formação e conhecimento sobre as religiões de matriz africana. “Esse local não é só voltado a nós que fazemos parte diretamente do terreiro, é para todas as pessoas. Mas é incrível, até mesmo para nós filhos de Santos que estamos aqui, mas para além das informações que a gente pega do nosso Pai de Santo, a gente também tem essa oportunidade de ter esse contato com outras fontes, até outras culturas diferentes da nossa que podem agregar muito. Essa oportunidade através desses livros é um espaço incrível. Até porque aqui mesmo em Iguatu a gente tem essa deficiência de ter mais acesso a livros, livrarias, essa cultura da leitura. Espero que esse espaço possa crescer cada vez mais, que as pessoas se aproximem também para desmistificar esse preconceito, essa falta de conhecimento em relação a nossa religião”, pontuou.
É o que também pensa a mestra em Educação, pedagoga, professora Marlete Araújo, que foi convidada para integrar a equipe da Sala de Leitura. “Esse espaço vai dar a oportunidade de as pessoas saberem como é a realidade, uma contribuição para a sociedade ver e entender a importância do Candomblé, da Umbanda, das religiões de matrizes Africana e tirar essa xenofobia, essa intolerância que existe. Esse preconceito. Essa religiosidade afro tem a ver com a gente, com o Brasil. Não podemos discriminar, esse espaço é uma forma de inclusão social, vai ajudar a entender e servir como um leque de pesquisa porque quando a gente procura alguma coisa de religiosidade afro a gente vai para o computador, muitas vezes ao invés de nos informar, tirar as dúvidas, às vezes surgem mais dúvidas, esse espaço vai auxiliar nesse sentido de oportunidade das pessoas de ter um acesso a um acervo variado com muitas informações específicas com auxílio de uma pessoa capacitada”, explicou.
Infraestrutura
Com surgimento desse espaço, aparecerão também necessidades principalmente financeiras para tocar o projeto, por isso é importante também o apoio das pessoas em contribuir com esse importante equipamento de estudos e pesquisas. “A coisa está nascendo. Montar uma estrutura física dessas, montar cadeiras, mesa, estantes, armários, computador, daqui a pouco começam a surgir as necessidades, questão da energia, da água, colocar um ar condicionado para ficar mais agradável, diante do calor que a gente enfrenta no Iguatu. É toda uma infraestrutura que estamos iniciando, são os primeiros passos. Com a procura das pessoas, novas necessidades irão surgir e a gente vai buscar na medida do possível contemplar, para que o trabalho seja realmente de qualidade”, acrescentou, informando também que por enquanto as pessoas interessadas em utilizar a sala devem fazer um agendamento prévio. “Essa sala vai ser o Departamento do Instituto de Valorização da Cultura Afro Brasileira. Quem quiser ajudar, pode fazer a doação de qualquer valor através do depósito bancário.
A agência é do Banco do Brasil, 0122-8 a conta: 6359-5, ou mesmo pelo PIX, que é número do nosso CNPJ: 10.384.638/0001-27. Nosso Ilê é registrado em cartório, tem CNPJ na Receita Federal e nós temos uma conta no Banco Brasil, quem quiser contribuir para que a gente possa ampliar cada vez mais, estamos recebendo doações, agradecemos demais. Oxalá que abençoe, qualquer contribuição que vai ajudar a manter e ampliar nosso espaço”, concluiu o religioso, Lúcio Oliveira.
Para conhecer mais sobre o Ilê Asé Ogun Onirê, pode acessar o perfil do centro pelas redes sociais @ileiguatu.
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