Demorou, mas na última semana de fevereiro as águas começaram a escorrer sob as pontes do Rio Jaguaribe, em Iguatu. A primeira cheia deste ano foi registrada na última terça-feira, 25, quando o rio apresentou o volume de 1,61cm. Até ontem, sexta-feira, 28, o nível estava em 1,47 cm. Mesmo ainda pouca a água mudou a paisagem do rio que estava seco.

De cima da passagem, na ponte Demócrito Rocha, na rodovia CE-060, a passagem da água de tonalidade ainda barrenta chama atenção de alguns curiosos. “Passo por aqui todo santo dia. Estava demorando essa água chegar. Mas até que fim. Dá uma esperança pra gente de ver o rio tomando água de novo. Tomara que venha mais chuva e que ele tome água pra escorrer pro Orós”, comemora o agricultor Antônio Marques.

A primeira cheia acontece ainda tímida. “Foi só água das chuvas registradas nestes últimos dias. Deve ter estourando alguma barragem pequena aí por dentro do rio, que contribuiu para o aumento do nível do rio. Mas ainda não é a cheia dele mesmo não. Tem muita barragem grande para cima que não está sangrando. Tem que ter mais chuva pra fazer ele descer com água com mais volume”, aponta o observador hidrológico José Cieudo da Silva.

Observador

José Cieudo duas vezes por dia faz anotações sobre o nível do volume do rio, às 7h e às 17h. “Eu faço esse acompanhamento todo dia, no inverno ou no verão, tendo água no rio ou não. Anoto o volume que apresenta na régua. As anotações envio para a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais e para a Agência Nacional das Águas – ANA”.

O Rio Jaguaribe recebe recarga hídrica de Arneiroz, Aiuabba e Saboeiro, municípios do Alto Jaguaribe. Já quem mora mais abaixo sempre no período de inverno vive a expectativa da cheia do rio. “A gente principalmente que mora mais próximo do rio passa boa parte do ano por dentro dele seco, pelas estradas de terra que tem. Agora assim escorrendo água, a gente vem admirar e também ganhar um dinheirinho extra”, comemora entusiasmado a chegada da água o vendedor Naldo Pereira.

Alegria para uns, medo e sacrifício para outros

Por outro lado, o aumento do volume da água impede a passagem de veículos pelos trechos que ligam as comunidades ribeirinhas. A passagem do rio que dá acesso ao Distrito de Gadelha é uma das mais movimentadas. Quem precisa se deslocar para a localidade ou para o centro da cidade, se arrisca fazendo a travessia em balsas de madeira. “Todo dia tenho que ir deixar minha filha na casa da avó dela. Ela mora no Gadelha e eu no Fomento. Quando o rio está seco, é rapidinho. Agora assim, temos que se arriscar, mesmo a correnteza não estando forte, dá medo, mas temos que passar. Não compensa rodar mais de 12 km pela estrada para ir bem aqui pra frente. Só ver o rio com água é uma alegria grande pra gente”, destaca a operadora de caixa Sila Maria.

De barreira a barreira

Agricultores aproveitam a cheia do rio para ganhar dinheiro extra. “A gente cobra R$ 3,00 a travessia, seja de pessoa ou com a moto. Dá para ganhar um dinheirinho que ajuda na mistura de casa. Aproveitar esses dias, pode ser que a água baixe ainda mais, ou que aumente com a cheia. O que a gente quer é ver o rio cheio de barreira a barreira”, afirma Naldo Pereira.

De acordo com dados da a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais, CPRM, o acumulado de chuva em janeiro foi de 52,3mm em Iguatu. Já em fevereiro, até o dia 28, foram registrados 269mm de chuvas. A expectativa é que março, considerado o mês mais chuvoso do ano, tenha mais precipitações. “É o que a gente espera”, finalizou Cieudo.

Maior volume de chuvas dos últimos três anos

Dados informados pelo escritório regional da EMATERCE em Iguatu revelam que em fevereiro de 2020 (369mm) o volume de precipitações pluviométricas superou as chuvas caídas no mesmo mês em 2018 (294mm) e 2019 (192mm)

No acumulado do ano de 2020, até este ontem, 28, segundo dados coletados pelo pluviômetro da EMATERCE (Av. Carlos Roberto Costa ‘Perimetral), posto de coleta nº 59, da FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia, choveu em Iguatu 415mm. Em linhas gerais já corresponde a mais de 50% da média anual de chuvas para a região que gira em torno de 750mm.

Fevereiro já é o mês com o maior volume de chuvas dos últimos três anos (2018, 2019, 2020). Até este sábado, 29, choveu 369 milímetros. Em fevereiro de 2019, as precipitações pluviométricas não passaram de 192mm, e fevereiro de 2018 choveu 294mm.

Erivaldo Barbosa, gerente do escritório local da EMATERCE, informou as quantidades chovidas a cada dia. O órgão dispõe de um mapa com as informações pluviométricas, incluindo dia, mês e ano, onde cada informação é simbolizada por uma cor diferente. A cor, segundo o gerente, é como uma legenda para cada informação que está no mapa. O instrumento de comunicação é detalhado e fornece dados precisos das quantidades chovidas apontando maiores e menores chuvas, média chovida, intervalo entre as precipitações e os resultados acumulados. Tudo com o objetivo de facilitar e viabilizar o programa de distribuição selecionadas do Governo do Estado.

De acordo com os dados, no mês de fevereiro, a distribuição das chuvas seguiu o período compreendido entre os dias 05 até 26/02. A chuva do dia 05/02 foi de 71mm. Depois daí choveu no dia 16/02, 25mm; dia 17/02, 07mm; dia 18/02, 39mm; 19/02, 14mm; 21/02, 83mm; 22/02, 06mm; 23/02, 42mm; 24/02, 06mm; 25/02, 08mm; 26/02, 48mm.

Ainda conforme o escritório regional da EMATERCE, o mês de janeiro de 2020 foi de chuvas bem abaixo do esperado. Foram apenas duas precipitações pluviométricas. No dia 01 de janeiro choveu 08mm. Após esta, a outra ocorreu no dia 31, com registro de 38mm.