Em meio a um cenário praticamente inexistente, com apenas uso de objetos entre esses chapéus, uma mala e uma enxada, além de um figurino bem singelo, elementos que compõem aliados ao jogo de luzes e som que o espetáculo “Entre Idas e Vindas” acontece. A emoção a cada passo é sentida. A estreia aconteceu recentemente de forma virtual, através de um projeto do Sistema Fecomércio, pelo Sesc. A próxima apresentação para o público acontecerá na segunda-feira, 25, na Semana da Dança, no teatro do Sesc, a partir das 19h. “Pra gente vai ser uma emoção sem igual, nesses dois anos de pandemia, a gente vai poder voltar aos palcos, com um trabalho novo e com plateia. Estamos ansiosos para esse momento”, relatou o presidente da Associação Cultural e Artística 5º Elemento, Thiago Souza.

“O melhor da vida é que ela pode ser simples e ao mesmo tempo complexa. Tudo vai depender de qual janela você observa. É como se você vivesse a estranha aventura de andar em um trem, onde nas idas e vindas tivesse de encontro paradas onde você pudesse exercer a humildade, passar por trilhas sinuosas, lentas, perigosas e labirintos cheios de humanidade.
E nós somos essa junção, um misto de sensações instigados a vagar em nossos pensamentos e sentimentos buscando sempre um motivo para que a vida valha a pena. As nossas idas e vindas são sempre pautadas em sonhar: sonhamos com uma casa melhor, com um salário melhor, com partidas e despedidas que nos levem a evoluir e quando esses sonhos não são alcançados, nos sentimos fracos, incapazes e insignificantes perante uma sociedade que vive de sonhos também, e uma vontade própria de realização que nos domina todos os dias”, relatou Thiago, ressaltando um pouco do que foi pensado sobre o espetáculo que entre idas e vindas trata o ir e vir de forma metafórica: ora representa o caminhar, ora representa o acabar silenciado pela morte do corpo no sentido mais figurado da palavra.

Valorização do nordestino

O estudo coreográfico teve como referência a obra “Morte e Vida Severina” do escritor João Cabral de Melo Neto. O espetáculo valoriza ainda a figura do nordestino, caminhando pela sua garra e fé inigualável. “Geralmente a gente trabalha em dois formatos. Esse trabalho “Entre Idas e Vindas”, como somos um grupo voltado mais para competição. Em 2019, em parceria com outro coreógrafo, Mikael Costa, “Oxe!” um espetáculo campeão. Fiquei pensando em misturar as danças urbanas e encaixar um xote, um xaxado, um coco, toda essa mistura nossa do nordeste mesmo. Como acabamos alongando mais para o espetáculo, acabou ficando mesmo esse nome “Entre idas e vindas”, explicou Thiago.

“Além dessa questão, tem a questão da saudade, tanto no sentido espacial, de distância, mas também como sentido da saudade pela morte. Voltado para essa questão da dor, da perda, do trabalho duro. No segundo bloco, já fala da realidade do nordestino numa capital, com todas suas desilusões e no final ele bem, retornando para seu espaço, seu lugar, para o seio familiar”, contou.

Thiago disse que o trabalho tem que dialogar com o espectador. “Por exemplo, se houver uma mudança nas músicas, já dá um sentido diferente. Sai daquilo que foi planejado. Por isso que há toda uma preocupação de escolha das músicas. Várias noites escutando, estudando as letras”.

Trilha sonora e coreografia

O forte também do espetáculo é a musicalidade, a trilha sonora traz cantores nordestinos entre esses Alceu Valença, Belchior, Fagner, Elba Ramalho e Zé Ramalho. “Participar desse espetáculo foi bem desafiador principalmente para os integrantes mais antigos da companhia, por estarem mais ligados ao hip-hop. Para mim, já não foi tão difícil, porque eu já venho da vertente da dança de salão, um pouco da contemporaneidade, um pouco desse aflorar do nordestino. São coreografias que remetem muito ao sentimento. Então não trouxe muitas dificuldades, quando a gente está no palco a gente busca passar o expressar o sofrimento, as angústias, medos, aflições, então não foi algo de outro mundo. De acharmos impossível de encontrarmos dentro desse percurso do espetáculo. Espero que as pessoas gostem”, comentou Sara Clares, dançarina da companhia.

A direção do espetáculo é do coreógrafo Thiago Souza.