Na casa do agricultor Gilton Cândido, morador do Sítio Estrada, na região do Distrito José de Alencar, tem dois tipos de cisternas: a de enxurrada que tem capacidade para armazenar 52 mil litros m³, de onde ele tira água para alimentar os animais, e a de 16 mil litros voltada para o consumo de casa. Se não fossem esses equipamentos, a situação estaria bem pior. “Nossa salvação, porque é delas que a gente vem se sustentando nesse tempo de casa. A de enxurrada tá bem cheia ainda, pegou uma boa recarga no inverno passado e se sustentou com essas chuvas que deram. A que a gente usa pra casa foi mais fraca a recarga. A gente precisa do carro-pipa pra ter água em casa. Essas cisternas é que ajudam a gente a viver e manter nossa criação de galinhas, e ainda tiro pro meu cavalo”, ressaltou.
No Sítio Estrada, moram cerca de cento e trinta famílias. Pelo menos trinta delas não têm nenhum tipo de cisterna em casa, de acordo com levantamento da Associação Comunitária de Moradores. “A comunidade cresceu nos últimos três anos, tem casas novas, outras que moradores na época quando foram distribuídas as cisternas algumas pessoas não quiseram, mas diante de anos de seca que a gente passou a enfrentar, estamos vendo o quanto faz falta. Mas vamos esperar que esse programa volte a contemplar todas as famílias que ainda faltam”, ponderou Francileudo Barbosa, presidente da Associação.
Na casa da aposentada Maria Sinhá de Lavor não tem cisterna. Ela usa água do sistema de abastecimento comunitário para os afazeres domésticos. Água para beber e cozinhar, tem que ser comprada. “Não tenho cisterna em casa. Na época não deu participar do programa pela questão do local para construir. Faz muita falta. Quando não compro, pego um balde para beber da casa da minha filha”, disse.
Demanda crescente
A região de José de Alencar é uma das mais afetadas pela seca nos últimos anos. As cisternas dependem da água através de carros-pipa. De acordo com Venâncio Vieira, secretário do Desenvolvimento Agrário de Iguatu, desde quando foi iniciada a construção desses equipamentos, todas as localidades rurais foram contempladas com cisternas, mas há uma demanda crescente em mais de 1.200 cisternas de primeira água, e pouco mais de 1.500 cisternas de segunda água.
Nos últimos seis anos, o programa de cisternas registrou redução de 94% na construção dos equipamentos. De acordo com a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Rede de organizações da sociedade civil, que reúne cerca de 2000 entidades, entre elas sindicatos de trabalhadores rurais, associações de agricultores, cooperativas de produção, igrejas, entre outras, na região semiárida do Brasil há cerca de 350 mil famílias que demandam por cisternas de primeira água. Esse número mais que dobra chegando há 800 mil quando esse tipo de tecnologia é voltado para a produção. “Aqui no Ceará, já foram instaladas mais de 337 mil cisternas de primeira água, mas ainda há uma demanda de 65 mil unidades. Em relação aos reservatórios de segunda água, esse déficit é de mais 180 mil equipamentos. Entre 2019 e ano passado houve apenas finalizações de obras referente a convênios firmados com o Ministério da Cidadania em 2017”, afirmou Marcos Jacinto, coordenador da ASA, apontando como um cenário preocupante.
De acordo com o Programa Cisternas do Governo Federal, em toda região Nordeste, o número de cisternas construídas ano passado ultrapassa os 3,8 mil, nas categorias 1ª água, 2ª água e escolar em todo o país. O Programa Nacional de Apoio à Captação de Água de Chuva e outras Tecnologias Sociais (Programa Cisternas) faz muita diferença na vida dos moradores do semiárido brasileiro. Ainda segundo o programa, o público são famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de água, com inclusão para povos e comunidades tradicionais. Para participar, as famílias devem necessariamente estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
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