Diante da pandemia provocada pelo novo coronavírus, a classe artística foi e vem sendo uma das que teve os trabalhos mais prejudicados principalmente pela perda de espaços com fechamentos de casas de shows, teatros e até mesmo a proibição de qualquer evento, para evitar aglomerações. O jeito, como muitos fizeram, é recorrer às redes sociais ou tentar ser um dos escolhidos para receber recursos financeiros de editais. Entre um desses trabalhadores do setor do entretenimento, o A Praça conta um pouco da trajetória de José Cleodon de Oliveira, 64, “Mestre Cleodon de Oliveira”, como é conhecido e aclamado pela classe artística. Artista plástico, produtor e gestor cultural, dramaturgo, poeta, diretor de teatro, ator bonequeiro, e como ele mesmo diz: “Um apaixonado pelas artes e dedicado a cultura desde os anos 80”.
Mas o trabalho do teatro de bonecos ainda infelizmente não tem visibilidade e valorização principalmente no interior. “Vai ser sempre uma arte, uma cultura viva. Trabalho sempre persistente. Isso a gente tem que fazer. Não podemos parar. Em Fortaleza é um trabalho mais visto, mais valorizado realmente que no interior. Em Fortaleza existe um movimento mais consistente de grupos de resistência de muitos anos”, ressaltou Cleodon de Oliveira, que tem um trabalho também focado em outras linguagens, como apresentado mais acima. “Nós que desenvolvemos um trabalho em Iguatu por um bom tempo, trabalho que gerou vários e vários talentos. Artistas que fizeram seu nome continuam nesse trabalho apesar de todas dificuldades pertinentes a nossa arte”.
Radicado em Fortaleza, sempre que pode vem a Iguatu. “Nesse período de pandemia me afastei, desde março que não vou a Iguatu. Temos focado nesse período com esse trabalho mesmo dentro de casa mesmo, estamos trabalhando com essa questão voltada para projetos e editais. Mas pretendo retornar a Iguatu, não para morar mas para dar um apoio cultural para galera que sempre estou me comunicando com eles. Fiquei triste e também surpreso com essa ideia de extinguir a Secretaria de Cultura, uma luta que tivemos para conseguir essa pasta. Agora possivelmente voltar a ser um departamento ligado à Secretaria de Educação. Espero que isso não aconteça”, comentou.
Resistência e reconhecimento
Diante dessa falta de espaço para apresentações para o grande público, tem sido mesmo as redes sociais que o mestre tem buscado continuar nessa luta de resistência. Recentemente participou de uma live com Cláudio Magalhães, da Companhia Epidemia de Bonecos, grupo bastante antigo de Fortaleza. “Na próxima semana, vamos estar em cartaz nas redes sociais com o espetáculo ‘O Bicho do Rio’, apresentação com teatro de bonecos voltado para o público infantil”.
Em Fortaleza desde 2010, levou toda sua bagagem cultural, e desde 2011 passou a executar o projeto Atenda e o Conto pelos Pontinhos de Cultura para o Bairro Ellery. Com isso em 2012 ganhou o prêmio de literatura no edital da SECULTFOR, realizando as ações na escola Tupinambá da Frota, no Bairro Bela Vista. Presidiu também o Instituto Nordeste XXI, realizando oficinas de teatro, Cia de Bonecos e Formação de Jovens Atores. Nesse tempo fez diversas apresentações para o SESC e escolas públicas e particulares na capital cearense, desenvolveu o projeto A Tenda e o Conto na Escola João Paulo I no Bairro João XXIII no programa Mais Cultura nas Escolas.
Cleodon é considerado pelos atores de Iguatu como o grande mestre da dramaturgia iguatuense pela contribuição, resistência e devoção à arte que faz e tem o prazer de repassar. “Sem dúvida, o mestre Cleodon é uma referência pra gente. Por ser um artista completo. Tudo que ele faz, a gente tenta aprender um pouco de cada. Pra mim principalmente pelo trabalho com o teatro de bonecos, como contadora de história influencia muito”, declarou a atriz, produtora cultura e contadora de histórias, Carlê Rodrigues, fruto do Projeto Arte Criança. “Ele incentiva muito a gente a não desistir. A apesar da distância, a gente sempre tem se falado”.
Trajetória
No ano de 1978, Cleodon sofreu um acidente que causou descolamento de retina. Em virtude do problema foi submetido a diversas intervenções cirúrgicas na visão, em Fortaleza e São Paulo, o que possibilitou a recuperação parcial, estando hoje com apenas 10% da visão total. Iniciou sua vida de militância política no PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e participou da UJS – União da Juventude Socialista onde foi coordenador de cultura. Participou do movimento PJMP (Pastoral da Juventude do Meio Popular), ocasião em que fundou o Grupo Metamorfose de Teatro, em abril de 1985, na paróquia do Prado, vivenciando assim sua primeira experiência de teatro, tornando-se ator e diretor até os dias atuais, dirigindo o grupo até o ano de 2005. Na mesma época passou a escrever poesias e textos dramáticos. Mais tarde descobre então a arte de confeccionar bonecos e cria a Companhia Chacoalho Teatro de Bonecos, a qual assume profissionalmente até os dias atuais.
“A arte precisa ser disseminada. Senti a necessidade de repassar meus conhecimentos para outras pessoas, e juntamente com o escritor Nonato de Moura, fundamos o Projeto Arte Criança – PAC, um importante instrumento serviço sociocultural, que revelou grandes talentos nas mais diversas linguagens artísticas”.
Nas artes plásticas começou muito cedo, primeiro com desenhos e em seguida com pinturas. Parou essa arte retomando somente no ano de 2002, no entanto, sempre a utilizou como hobby, por prazer. Como poeta começou em parceria com Almir Mota, hoje escritor da literatura infantil e contador de histórias. Publicou suas poesias em folhetos, jornais e revistas literárias. Como gestor e produtor cultural, produziu vários espetáculos de teatro, participou efetivamente de festivais fora e dentro do estado, como FNT, FETAC, Mostra Estadual de Teatro Amador, Teatro de Rua contra a AIDS, Festival Inhamuns de Teatro de Bonecos e Circo, Assaré em Arte e Cultura.
Em Assaré, criou os projetos a Tenda e o Conto e O Canto do Patativa, onde atuou durante sete anos. Ajudou a fundar a AITA (Associação Iguatuense de Teatro Amador) e o CAC (Centro de Ativação Cultural Humberto Teixeira). Produziu a MOITA (Mostra Iguatuense de Teatro Amador), a Exposição de Máscaras e Bonecos no SESC e o Festival do Dia Mundial do Teatro em Iguatu, em parceria com os grupos teatrais do município. Foi um dos principais articuladores pela conquista do Teatro Municipal Pedro Lima Verde.
Cia Chacoalho Teatro de Bonecos
Em 1992, criou a Cia Chacoalho Teatro de Bonecos em Iguatu. A companhia estreou com a peça infantil “Chapeuzinho Vermelho” no CAC – Centro de Ativação Cultural Humberto Teixeira. Montou a oficina Cria de Bonecos e o projeto de incentivo à leitura A Tenda e o Conto. Participou de vários festivais como o FETAC, a MOITA e o dos INHAMUS e a Feira do Livro Infantil do SESC. Muitos outros espetáculos foram montados durante sua trajetória de 21 anos de atuação. E desde quando mudou para Fortaleza em 2010 a Cia Chacoalho passou a atuar na capital, onde vem participando de vários projetos e ações culturais.
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