Com quantas atividades se faz uma carreira profissional

O legado do ex-impressor tipográfico, mecânico de máquinas de escrever e calcular, e vendedor, que hoje curte a aposentadoria restaurando livros e criando capas duras de trabalhos acadêmicos

06/03/2021

Almir Maq ganhou esse apelido desde a época em que trabalhou consertando máquinas de escrever e calcular. Hoje ele gasta o tempo restaurando revistas e livros antigos, e criando capas duras para encadernação de trabalhos científicos, teses de mestrado, monografias, doutorado e outros títulos acadêmicos. Uma arte que exige tempo, paciência, dedicação e a perícia de um profissional que se reinventa a cada fase da economia mutante do Brasil.

Se colocar a carreira profissional dele numa lista, dá para identificar pelo menos umas seis profissões. De metalúrgico a mecânico de máquina de escrever e calcular, mecânico de balança digital, impressor de tipografia, guilhotinador de papel, vendedor e agora restaurador de livros e outros documentos. Literalmente, Almir Venâncio é o ‘homem das muitas profissões’. Embora admita que fez tudo por amor, segundo ele algumas dessas profissões já nem existem mais. “Ao longo da minha vida tentei sempre aprender algo novo e sempre tentei ensinar aos mais jovens, principalmente aos meus filhos”, lembrou.

Origem

Filho de Iguatu por adoção, José Almir Venâncio, hoje com 65 anos, chegou aqui com os pais ainda adolescente, com 12 anos. Veio da cidade de Acopiara, sua terra de origem. Estudou até o ensino fundamental tendo passado pelas escolas Carlota Távora, Manoel Carlos de Gouvêa e o antigo grupo escolar da Assembleia de Deus, onde aprendeu a lidar com as letras, ofício que tem sido o guia de sua longa trajetória lidando com papel, tinta, impressão, e agora a arte da restauração de livros e documentos antigos, e a criação de capas duras para trabalhos acadêmicos.

Talvez seja esta última atividade uma das mais importantes da carreira dele. Não que as outras não tenham sido relevantes, mas atualmente Almir Maq trabalha como artesão restaurando livros velhos, capas de revistas, livros de cartórios, encadernando e fazendo capas duras para trabalhos acadêmicos ou teses de mestrado, doutorado e outros trabalhos científicos. Em seu atelier na Av. Agenor Araújo (próximo ao Largo da Telha), ele dá vida a velhas capas de livros ou revistas desgastadas pelo tempo fazendo essas velharias novas outra vez. Uma arte que não se encontra mais por aí. Na visão do restaurador, não importa muito o valor econômico que recebe por cada restauração, “o que vale mesmo é o prazer de transformar o velho em novo e proporcionar a essas relíquias um novo tempo de uso. É algo que não tem preço”, assegurou. Para ele o dinheiro que entra é apenas um complemento de renda da aposentadoria, mas que o trabalho se dá mais pelo prazer de restaurar, transformar e dar formatos novos a objetos literários que estavam sem vida.

Artesanal

Tanto a restauração de livros, assim como a criação das capas duras são trabalhos feitos artesanalmente. Usando uma prensa de madeira que ele mesmo construiu, o restaurador recorre a um tipo de papelão especial, e o crepe, (material semelhante ao plástico fino, para revestir o papelão e dar origem às capas duras). Com um papel fino especial revestido com uma película dourada, e com o auxílio da máquina de impressão a calor de 100º C, Almir imprime os títulos, brasões e marcas das instituições de ensino superior nas capas em cores amarelo ouro ou prata brilhante. Para montar os textos, o artesão usa as chamadas ‘fontes de tipos’, coleção de pequenas (letras de metal) tipográficas (as mesmas usadas nas tipografias), para identificar nas impressões os autores e as respectivas instituições de ensino.

Em cada obra e suas etapas, do início ao acabamento, Almir Maq segue quase que como um ritual, que exige atenção, concentração e habilidade, etapa após etapa, desde o corte do papel, escolha da cor da capa, a secagem da cola, impressão, até a montagem final já com o trabalho científico dentro. Tudo milimetricamente medidos, obedecendo a critérios técnicos e minuciosos, e com o olhar de lince de um perito, na arte de criar e restaurar. Um trabalho em que o autor dedica tempo, paciência e técnica, mas que vale a pena ver o resultado final.

Ao longo de sua vida José Almir Venâncio ‘Almir Maq’ tem sido na sua essência um cidadão socialmente ativo e colaborador nas ações de interesse coletivo. Carrega consigo a marca da solidariedade e do trabalho comunitário. Foi assim ao se especializar em cooperativismo e associativismo e quando ingressou no movimento maçônico. Ele integra o quadro social da Loja Maçônica Dr. Manoel Carlos de Gouvêa.

Família

Antes de se tornar o artesão habilidoso que é, Almir venceu outras etapas importantes de sua trajetória profissional. Trabalhou como metalúrgico, na Metalúrgica São Francisco (de seu Bubu), e nos anos 70, início de carreira, trabalhou em duas tipografias, (da Diocese) e (Senhora Santana). Entre uma tipografia e outra ele ainda se aventurou durante seis meses em São Paulo, mas acabou regressando para Iguatu. O motivo do retorno rápido tinha nome e endereço: Terezinha de Alcântara Venâncio, namorada da época, mulher com quem se casou e vive até hoje um amor que já dura 45 anos. O casal teve quatro filhos: Joseilton (que cursa Zootecnia) no IFCE, Jailton, servidor público concursado, já graduado em Letras, atualmente (acadêmico de Educação Física pela URCA), Patrícia (graduada em Ciências da Religião) e Airton Josemir, um pequeno empresário que segue os passos do pai atuando no ramo de gráfica expressa.

Auge

Sua vasta carreira profissional ainda inclui o trabalho de vendedor das máquinas de calcular da marca Olivetti, pela extinta empresa ABF (Antônio Benedito e Filhos), mecânico de balanças digitais e manutenção das máquinas de escrever e calcular, aquelas que lhe deram o pseudônimo que virou apelido e a marca da empresa fundada por ele nos anos 90, ‘Almir Maq’, que existe até hoje. Naqueles anos, quando prestava serviços de manutenção em máquinas de escrever e calcular, Almir Venâncio viveu o auge da carreira. Atendia a toda a rede bancária de Iguatu e região e ainda era o mais requisitado pelas empresas de Iguatu que tinham os equipamentos que necessitavam de conserto. Almir recorda que havia uma demanda gigante de trabalho, mas que tudo ficou para trás com o advento do computador. Hoje, as máquinas de escrever e calcular que lhe deram nome, prestígio e fama, se tornaram obsoletas e não passam de ‘ferro velho’. Viraram relíquias de uma fase de ouro de sua trajetória, da qual ele se orgulha do que construiu e conquistou e lembra com saudosismo. “Era tanto convite para atender conserto de máquina de escrever e calcular em empresas, e bancos que a gente nem conseguia dar conta de tudo”, lembrou.

O fato é que Almir Maq se autoproclama um homem feliz e realizado. Pela vida que tem hoje, pela família que conseguiu edificar e por uma legião de amigos que conseguiu juntar ao longo de sua trajetória. Homem de boa índole, coração generoso e solidário. Tendo nascido com o espírito de servir ao outro, não saberia ele quantificar, matematicamente esta tem sido sua tarefa.

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