Comendador Ananias Arruda e dona Donaninha: um amor eternizado na forma de um templo

27/11/2021

Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor.

As fotos dessa história foram feitas em fevereiro de 2015. Andando pela Serra de Guaramiranga seguindo rumo a Pacoti, você passará por uma construção que muitas falam ser mal-assombrada. Nas nossas andanças de moto descobrimos histórias que até mesmo quem mora na vizinhança desconhece.

No caminho para Pacoti fizemos uma parada na Capela de Donaninha – Igreja de Jesus Crucificado. O que parece ser uma casa ou um mausoléu mal-assombrado é na realidade uma construção que representa uma bela história de amor entre o Comendador Ananias Arruda e sua amada Ana Custódio dos Santos, Donaninha. Casaram-se em Baturité (CE), em 17/09/1911.

Senhora Donaninha sofreu um infarto fulminante falecendo naquele local, em 1941, aos 46 anos de idade. O grande amor que tinha por Donaninha o fez erguer um monumento para que todos que por ali passassem lembrassem do grande amor que ele sentia por ela. Assim foi construída a Capela de Jesus Crucificado, réplica da capela que existia na casa onde viviam em Baturité. A capela contava com algumas imagens de santo que foram retiradas para evitar que fossem roubadas. As imagens se encontram em um museu de Baturité. Há um projeto (Proposta 1547476, número 12823/2009) que pretende recuperar a capela em sua forma original e restituir ao local de origem as imagens e adereços da capela que se encontram depositados no Museu da Fundação Ananias Arruda em Baturité e, ainda, transformar o local num centro de atração turística. O projeto ainda não andou.

O Comendador Ananias Arruda foi comerciante, agricultor, criador e jornalista. Não casou novamente, porém sua residência hoje foi transformada em um museu pelo seu sobrinho Miguel Edgy Távora Arruda. Foi Comendador da Santa Sé, Ordem de São Silvestre, e também da Ordem de São Gregório Magno, pelo Papa Pio XII, a mesma Ordem a que pertence o Comendador Sucupira, meu saudoso avô. Ao Comendador Ananias Arruda foi dada pelo Papa Pio XI a autorização de manter no Oratório de sua residência o Santíssimo Sacramento, privilégio que foi renovado pelos Papas Pio XII, João XXIII e Paulo VI até a data de seu falecimento que aconteceu em 1980 aos 94 anos de idade. Recebeu também autorização para dar comunhão. Como não tiveram filhos, a herança passou para mãos de parentes que abandonaram aquele belo monumento ao amor.

Quando passar por lá, pare, desça e tire uma foto com a sua amada, pois ali está uma prova rara de amor eterno, pois o Comendador Ananias Arruda ficou viúvo até a sua morte.

Não tem nada de assombração, apenas o espanto de ver uma capela erigida para registrar um amor para a vida toda. Coisa rara hoje em dia.

 

 

 

In memoriam do meu amigo de estrada e padrinho de casamento, Pires, vítima de COVID-19 em 2021.

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