Comida de rua ganha adeptos e incrementa renda de autônomos

15/02/2020

Em um tempo em que o táxi dá lugar ao Uber, o cinema perde espaço para os filmes pela internet e a rede hoteleira perde hóspedes para as casas de aluguel, outro segmento, o de restaurantes, pode ser impactado pela nova febre do mercado: os pequenos negócios de venda de comida pronta na rua. Iguatu já exibe os seus e a clientela dá boa resposta ao consumir os alimentos, ajudando a engrossar a demanda.

A crise econômica, que trouxe o desemprego em grande escala, ajudou a criar o novo segmento econômico, mesmo que informal, mas composto por homens e mulheres que enxergaram na venda de comida pronta a oportunidade de sobreviver. Na cidade, eles já povoam vários lugares e com tendência de aumentar. Vende mais quem adere a uma fórmula simples: boa comida, saudável, bem preparada e com preço acessível.

Diariamente, os consumidores têm à sua disposição em locais diferentes da cidade, principalmente no período da noite, os pontos de venda de comida pronta. Os idealizadores dessa nova modalidade econômica, geralmente, preparam os alimentos em casa, depois ocupam os espaços em vias públicas, calçadas e praças, para comercializar. Já possível é encontrar pontos de vendas na Av. Fransquinha Dantas, Perimetral, 13 de maio, 12 de outubro, Praça Caxias, Adeodato Matos e Júlio Cavalcante.

Sabores, clientela e preço

Com seus pratos regionais, baião, farofa, espetinho, churrasco, feijoada, mungunzá, e as massas variadas, pratos doces e salgados, os pequenos negócios atraem para si um público consumidor flutuante que ninguém conhecia. Nesta fatia estão trabalhadores da lida braçal, executivos, estudantes e profissionais liberais que buscam comida pronta para suprir suas necessidades. Com pequenas estruturas (inclusive com mesa e cadeiras) colocadas ali mesmo na rua, os empreendedores vão a cada dia conquistando a simpatia e o paladar dos consumidores.

Marta Teixeira está no grupo de consumidores assíduos. Ela frequenta um quiosque móvel na Av. Fransquinha Dantas e revela: “Adoro! A comida aqui é saborosa, fresquinha e o preço é bom, até a variedade dos pratos me agrada também. Sempre venho aqui e gosto muito”, disse.

Carla Lima Pereira, 26, tem uma marmitaria em casa na Rua Monsenhor Couto, próximo ao parque de exposições, onde divide as atividades com duas auxiliares, Eva e Priscila, e vende quentinhas para almoço. Mas foi na rua onde ela descobriu um nicho de negócio dez vezes maior. Começou com três mesas, onde colocava as panelas com a comida e vendia para quem passava na Av. Fransquinha Dantas. Menos de um ano conseguiu montar um pequeno trailer equipado com cozinha, geladeira, fogão e armários, onde acondiciona os alimentos e monta os pratos para atender a clientela. Ao lado do trailer, cadeiras e mesas cobertas com toalhas coloridas oferecem ao consumidor um ambiente típico da cozinha de casa, aconchegante e ao ar livre. O movimento começa por volta das 17h e fica encerrado às 22h. Para funcionar, Carla, o esposo e as auxiliares precisam montar e desmontar a miniestrutura todo dia, mas sem isso o negócio não estaria funcionando. Ela usa um automóvel da família para puxar o trailer levando e voltando para casa, diariamente.

Grito de liberdade

Perto dali, na Rua Júlio Cavalcante, outra mulher deu seu grito de liberdade. Janaína Barreto, após trabalhar dois anos numa instituição privada de ensino superior, também fez sua descoberta. E foi após um problema de saúde quando precisou se afastar das atividades do emprego formal que ela enxergou, a partir do público frequentador do local, a oportunidade de empreender. Janaína prepara tudo em casa e leva as panelas e depósitos com as comidas no carro. Lá, ela coloca as mesas e em cima as panelas com os alimentos, os mais variados, de sanduíche natural a massas, sucos e a comidinha de panela quentinha. Está dando certo. O pequeno negócio foi descoberto pela clientela, a maioria estudantes universitários, que se aglomeram em volta da pequena estrutura para comer, ali mesmo em pé, sem muita formalidade ou cerimônia.

Pamonha e canjica

Na Av. Perimetral, próximo ao semáforo do cruzamento com a José de Alencar (Av. dos Quixelôs), há dez anos um casal de autônomos, José Teixeira de Oliveira, 53, e Maria de Lourdes, 47, sobrevive e sustenta a família vendendo milho cozido, pamonha e canjica. Começaram levando nas mãos um isopor com as pamonhas, o milho e canjica. Em uma década, a clientela cresceu e eles transportam os produtos em caixas térmicas usando um reboque puxado por uma motocicleta. Maria de Lourdes ressaltou que tudo é preparado em casa. “A gente começa a preparar, após o almoço, para que as comidas ainda estejam quentes na hora do pessoal levar para casa”, lembrou. Num mês normal de vendas o casal consegue produzir e vender em média 800 pamonhas, cerca de 40 por dia, 200 por semana.

Pastel da Rural

Há dez metros do carrinho de pamonha está a Rural da Josiane Ferreira, 49, onde ela frita pastéis na hora e vende para os transeuntes. O veículo exibe a mesma cor (vermelho com branco) da Rural do patriarca da família de sete filhos, Raimundo Nonato, 85, que há 40 anos vende pastéis na feira livre, no mesmo local, em frente ao Mercado Público. A receita do pastelzinho, segundo Josi, há quatro décadas em poder da família, não revela de jeito nenhum. “É nossa galinha dos ovos de ouro, né? Nós não revelamos, senão nosso negócio perde a sua principal característica”, disse.

Josiane contou que a ideia de ampliar o negócio iniciado pelo pai há quase meio século surgiu quando a irmã dela, Gracivânia, voltou de São Paulo e estava desempregada. São as duas irmãs que se revezam no pequeno negócio.

Vigilância Sanitária

Por se tratar de manipulação de alimentos e comida pronta, os quiosques móveis devem ter permissão da Vigilância Sanitária, para orientação de como acondicionar os produtos, o tempo em que esses insumos ficam fora da geladeira, como devem ser embalados e transportados.

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