“Eu matei a mim mesmo e não a velhota! Ali, eu massacrei a mim mesmo, de uma vez só e para sempre!… A velhota, foi o diabo quem matou, e não eu…” – Crime e Castigo.
“Noite escura. Lá fora começa a nevar. A primeira neve do ano. No conforto da sua casa, Jonas acorda a meio da noite, chama pela mãe, mas o único rasto que encontra são as pegadas úmidas no chão das escadas. No jardim, a mesma figura solitária que vira durante o dia: o boneco de neve, agora banhado pelo luar, com os olhos negros fixos na janela do quarto. E no pescoço um agasalho: o cachecol cor de rosa que oferecera à mãe.” – Boneco de Neve
“Toda a vida da Terra se resume a minha pessoa, e meu coração é o único a pulsar nesse mundo despovoado.” – Viagem ao Centro da Terra.
Neste ano de 2021, tive a oportunidade de ler três livros verdadeiramente impactantes. A literatura europeia é, sem sombra de dúvidas, um celeiro de monstros sagrados da escrita. Eu poderia citar uma série de autores estupendos, todavia, vou me limitar a falar sobre um livro de cada um desses: do russo Fiódor Dostoiéski (1821-1881), do norueguês Jo Nesbø (1960) e do francês Júlio Verne (1828-1905).
Em Crime e Castigo (1866), Raskólnikov nos conduz a um passeio pelos dilemas filosóficos e existenciais. Acompanhamos a sua conturbação mental, suas agruras empíricas, seus sonhos, suas paixões e, sobretudo, toda a fragilidade humana em seu estado mais aturdido mediante um duplo homicídio. Ler Crime e Castigo nos aproxima de nós mesmos. Penso que acabamos por nos reconhecer na personagem, na trama… É como se nos enxergássemos nele. Ou melhor, passamos a considerar mais intensamente a natureza débil do homem.
Aos fãs de suspense e mistério policial na linha da aclamada Agatha Christie (no qual aproveito o ensejo para indicar a leitura do seu excelente Assassinato no Expresso do Oriente [1934]), recomendo a leitura do Boneco de Neve (2007), do escritor norueguês Jo Nesbø. Nele, Harry Holly nos conduz a uma viagem motivada pela caça a um excêntrico assassino. Trata-se de um inusitado serial killer no seio da pacata Oslo, capital da fria Noruega. Considero-o um livro rico em narrativa e detalhes sutis, que nos faz pensar, num momento, em um indivíduo como possível assassino, no outro, já mudamos de suspeito. Com maestria, o criativo autor prova ser merecedor dos elogios dos críticos.
Agora, caro leitor, a minha última recomendação de leitura é a do impressionante e cativante Viagem ao Centro da Terra (1864), do precursor da literatura de ficção científica, Júlio Verne. Este livro impressionante nos transporta para o interior da teoria da Terra oca, de uma maneira que nos faz crer na veracidade proposta pelo imaginário do autor francês. Não tenho lembrança de já ter lido algum livro com emoção similar a este que vos relato, amigo leitor. Lidenbrock, Axel e Hans – personagens centrais – embarcam em uma aventura da qual o leitor também se enxerga participativo, posto que as descobertas nos levam a viajar para além do enredo, posto que passamos a vislumbrar os mundos perdidos das eras passadas. Não vejo como não ficar perplexo ante tal literatura.
Por fim, preclaro leitor, estes foram os três livros que me marcaram neste ano de 2021. De tão incríveis, achei por bem indicá-los, pois penso que tais espetaculares obras devam ser lidas pelo maior número possível pessoas. Se lhe aprouver, embarque nessas viagens que certamente lhe engrandecerão intelectualmente.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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