A violência doméstica é também endêmica. Uma ferida social que parece não cicatrizar. Está atrelada a múltiplos fatores e tende a não cessar, apesar do rigor da Lei, que prevê punições e das prisões e cumprimento de penas por parte dos agressores.
Na quinta-feira, 14, nossa reportagem encontrou L.R.M, 23, na calçada da delegacia. Com hematomas pelo corpo e marcas no pescoço e no rosto, a mulher, que achava ter encontrado o companheiro ideal para compartilhar seus dias, viu o sonho de uma vida feliz ir pelo ralo. Foi agredida verbal e fisicamente porque o marido, um homem que trabalha como lavador de carros, reclamou que a esposa estava demorando para esquentar seu jantar. Pior, as cenas de horror foram presenciadas pelo filho do casal, de 3 anos de idade. A vítima disse que o esposo havia saído para beber ainda cedo da tarde e voltou à noite, embriagado e cobrando coisas a ela.
Com a crise da pandemia da Covid-19, que trouxe a reboque o isolamento social e a quarentena, isso tem gerado ociosidade e, como consequência, o consumo excessivo de álcool e outras drogas, que evolui para os conflitos familiares, agressões verbais e físicas, e a violência como saldo.
Desgaste
Classificada entre os crimes de natureza ‘grave’, as ocorrências de violência doméstica em Iguatu e nas cidades da região têm aumentado. Ao contrário do que se imaginava que com o isolamento social os casos diminuíssem, houve crescimento. Especialistas ouvidos pela reportagem atribuem a violência doméstica como tragédia anunciada. De acordo com os estudiosos, “é o lado mais cruel e mais dramático da pandemia, porque leva as pessoas ao ócio, consequentemente, à delinquência, vem o uso do álcool e outras drogas, e com o fato da obrigatoriedade da convivência, dia e noite, leva ao desgaste dos relacionamentos, e aqueles que não têm estrutura alguma, tornam-se ainda mais vulneráveis; uns a cometerem violência e outros a sofrer a violência, realmente, dramático e lamentável”.
O delegado regional de Polícia Civil, Marcos Sandro Nazaré, avaliou que houve redução dos crimes considerados de natureza leves como ‘embriaguez e desordem’, lesão corporal, ocorrências de trânsito envolvendo lesões corporais graves e vítimas fatais. Segundo ele, considerando que o isolamento social fez diminuir o fluxo de pessoas nos locais, tirou grande parte da frota de veículos das ruas, com isso há naturalmente a redução das ocorrências. No entanto ele enfatiza que os casos de violência contra a mulher potencialmente aumentaram.
O experiente delegado, que está respondendo também pela Delegacia de Defesa da Mulher-DDM, em razão da ausência da delegada titular, que está licenciada, Marcos Sandro afirmou que é visível o volume de ocorrências envolvendo os casos de violência, dentro de casa. E mais grave, o aumento da escalada de agressões ocorre, não somente na sexta, sábado e domingo, mas durante a semana.
Homicídios
Mas o aumento da violência não está somente no âmbito doméstico. Levantamento feito revela que houve aumento também do número de homicídios e outros crimes letais intencionais. Não está comprovada a causa da violência, se há alguma ligação com disputas entre facções criminosas, mas os homicídios continuam ocorrendo sem apresentar diminuição.
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