“O ressentimento destrói em nós a capacidade de pensar e compreender a realidade […] Uma de nossas tragédias está no fato de que quase sempre é o fracasso que torna a vida real.” – L. F. Pondé
Há algum tempo li alguns livros aos quais, mediante o tempo exíguo, não obstante, reservara para ler calma e atenciosamente. Debrucei-me especialmente sobre ‘‘Contra um mundo melhor’’, ‘‘Guia politicamente incorreto do sexo’’, ‘‘Guia politicamente incorreto da filosofia’’ e ‘’A era do ressentimento’’, todos da autoria do filósofo pernambucano Luiz Felipe Pondé.
A temática desta crônica não é minha. Tomei-a emprestada do referido autor. Pois bem. Creio que seja válido reservar este espaço para oferecer ao estimado leitor uma perspectiva que possa acrescentar aos seus valores – ou não.
Nossa contemporaneidade está envolta numa sopa de pedras, água e óleo. Grupos incomunicáveis e indissociáveis. E não há perspicácia alguma em percebê-lo; esquerda/direita é um exemplo dessa dualidade imbricada, mas não homogênea (ao menos popularmente, no senso comum).
E o que Pondé tem a ver com isso? – Talvez o preclaro leitor indague. Explico. O filósofo busca tal compreensão na natureza humana. O ressentimento é oriundo da frustração pelo fato de que o universo não responda às nossas expectativas, aos nossos anseios mais proeminentes. Somos mimados mediante o mamilo negado pela mãe terra – que, por nós, muito já faz -, e nisso, estamos cada vez mais resmungões. Tal qual aquele filhinho de papai, inconformado pelo seu presente de aniversário – um Playstation 3 ao invés de um X-box. Que trágico, não?!
Outro ponto é pensar que somos pessoas do bem. (E sabemos bem quem carrega tal nomenclatura). Essas pessoas se acham defensoras da minoria, dos oprimidos. Nisso, julgam-se melhores, mais críticas e ‘‘problematizadoras’’ que as demais. Tal tipo vive num mundo ideal e esquecem do mundo real, negando-o. Sua razão é lutar mediante a ilusão de que o homem é super do bem, e que a culpa de tudo está na política. Tudo mesmo. Nada mais é individual. Nada mais é sentimental. Tudo é política! O sexo é política, o amor é política, a sua vizinha fofoqueira é política… e daí por diante.
Não se pode confiar em quem quer mudar o mundo, pela simples razão de que tudo não passa de um ensejo de tomada de ditadura para implantação da sua própria. Vemos exemplo disso nesse exato momento. Ligue a TV e assista aos telejornais e suas manchetes internacionais.
Gente que pensa que é ‘inteligentinha’ e faz o tipo sociável e liberal, não passa de um mentiroso. É preconceituoso ao tirar foto com um ‘‘excluído’’ só para postar nas redes sociais com o intuito de mostrar o quão evoluído e não preconceituoso ele é; defendem os seus. Na verdade, esse tipo não se diferencia em nada do seu opositor.
A era do ressentimento, como bem frisou Pondé, é a era dos mimizentos, dos chatinhos e chatinhas; inteligentinhos e inteligentinhas. Se te apetece um conselho, caro leitor: não confie em gente do bem… que quer mudar o mundo. São títeres na dependência dos mentores da mentira. A saber, como o Pondé bem cunhou: ‘‘a praga do politicamente correto’’.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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