Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor
A história dessa foto bem velhinha, quase apagada e única, é bem interessante. Ela é de 1847. Então senta que lá vem história!
O ano é 1825, um dia como outro qualquer. Dom Pedro I recebe três filhas de um militar insurgente que havia participado da Confederação do Equador, ao lado de pessoas conhecidas como Bárbara de Alencar. Salão lotado, um calor infernal e dias de viagem depois Filadélfia, Gertrudes e Rosa estavam frente a frente com D. Pedro I para implorar o perdão do imperador para que um condenado à morte fosse salvo. Depois de uma longa conversa, saiu o acordo e acataram a condição. O viúvo e pai de sete filhos deveria se tornar padre e assim ficar por toda a vida. O perdão foi concedido e José Ferreira Lima Sucupira, libertado, escaparia, por enquanto, da execução.
Mas a história não acaba por aqui. Agora é que ela começa a ficar interessante. Antes preciso contar como chegaram até aqui.
Da sentença de morte para a vida sacerdotal
Estava indo bem na carreira militar, mas tomou parte na Confederação do Equador, sendo um dos deputados indicados pelo Ceará ao Congresso organizado no Recife, em 1824, e como tal condenado à morte pela com missão militar.
O estopim para a proclamação da Confederação do Equador, contudo, veio com a nomeação de um governador para a Província de Pernambuco que representava tudo o que os insurgentes repudiavam. Começava a Confederação do Equador no dia 02 de julho de 1824, dois anos após a Proclamação da Independência do Brasil. O líder da revolta, o pernambucano Manoel de Carvalho enviou convites às demais províncias do norte e nordeste do Brasil para que se unissem a Pernambuco. O novo Estado republicano seria formado por Pernambuco e pelas províncias do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Alagoas.
A revolta foi sufocada e um dos presos era José Ferreira Lima Sucupira. Mas eles não saíram de mãos abanando. Em 1824 seria promulgada uma nova Constituição por D. Pedro I e ela trazia a extinção do Poder Legislativo e sua substituição pelo Poder Moderador e a mudança do sistema eleitoral na Constituição de 1824, que vedava aos brasileiros o direito de se candidatar ao Parlamento, o que só era possível aos portugueses.
A reviravolta
José Ferreira seguiu, então, a carreira sacerdotal e como sacerdote foi deputado provincial de 1834 a 1837 e representou o Ceará na quarta legislatura da Assembleia Geral (3 de maio de 1838 a 21 de novembro de 1841).
Em virtude da lei de 3 de outubro de 1834, foi nomeado um dos cinco vice-presidentes das províncias e José Ferreira Lima Sucupira quase foi escolhido senador pelo Ceará.
Anos mais tarde, após uma vida inteira dedicada ao sacerdócio e à política recebia a comenda de Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e tornou-se cônego honorário da Capela Imperial sendo depois nomeado o primeiro vigário-geral e provedor do bispado do Ceará, tendo sido antes pároco de Itapajé. A diocese da Fortaleza foi canonicamente erigida pelo Papa Pio IX só em 1854 através da bula pontifícia “Animarum Salute”. À época o território da nova diocese, desmembrada da Arquidiocese de Olinda e Recife, contava com cerca de 650.000 habitantes. Também era jornalista, redigiu O Cearense Jacaúna (1831) e O Cirineu (1857).
O inusitado na história da foto desse mês e que sugere um bom roteiro de filme ou livro, é o fato de um condenado a morte, virar padre e terminar seus dias como membro honorário da Capela Imperial o que mostra ter um excelente relacionamento com aqueles que o queriam morto e, como vivo, não posso duvidar, ter influenciado ideias e ideais para um novo Brasil que se avizinhava. Por isso, nenhum destino pode ser dito como selado.
José Ferreira Lima Sucupira tem nome de rua no Crato como Padre Sucupira e em Fortaleza como Cônego Lima Sucupira. Nasceu no Crato, em 8 de setembro de 1781 e faleceu em Fortaleza, no dia 25 de janeiro de 1867 tendo sido militar, jornalista, sacerdote e político brasileiro.
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