“A política foi primeiro a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior, acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem”. – Paul Valéry
Há anos – não sei precisar com exatidão… talvez 2017 -, estava eu a beber em um bar de costume, quando ouvi dois amigos discutindo sobre a popularidade de seus candidatos para a corrida presidencial. Cada um, evidentemente, puxava a sardinha pro seu lado. Debateram, debateram… no final, brigaram, pediram suas contas e foram embora intrigados, maldizendo um ao outro.
Acho que esses senhores confiam muito em seus candidatos. Tanto que puseram suas mãos no fogo para defendê-los como a um filho ou a uma mãe difamados. “Que tolice”, pensei enquanto tomava a minha cerveja e assistia àquela cena patética de leigos falando sobre quem não conheciam e sobre um assunto que também desconheciam (isso deduzi pela maneira rasa pela qual explicavam, um ao outro, os conceitos sobre a política e a economia nacional).
Sinceramente, não creio que a fé cega em um determinado político ou partido seja o caminho prudente para depositar a confiança no futuro da nação. Claro que devemos, vez ou outra, ter afinidade a este ou aquele candidato; mas fanatismo, não. Não me ocorre pensar a política como um espaço onde indivíduos assumem um cariz messiânico. Isso seria ingenuidade.
O populismo muitas vezes leva ao engano. Se o fatalismo leva ao ostracismo da descrença total, o populismo nos leva a acreditar que a solução para os problemas do país seja encontrada no carisma da figura da vez. O candidato populista reflete o anseio de muitos que encontram nele a sua representatividade… mas, cuidado! Isso não significa que seja precisa e necessariamente nele que esteja a solução para um futuro melhor.
Hitler também foi um populista, lembra? Portanto, advirto mais uma vez: cuidado! Também eu já nutri predileção demasiada por algum ícone político, e depois percebi que não é assim que se deva agir quando se trata do tema. Na realidade, se há algo que o conservadorismo, dentre tantos fatores, me trouxe de bom foi exatamente o ceticismo quanto aos envolvidos nos pleitos nacionais.
Crer que devamos ser conduzidos pela santificação desses senhores é, no mínimo, brincar de política. Se não confio cegamente no Estado enquanto condutor da máquina pública, por quê confiaria nos pretensos à corrida eleitoral, que estão apenas guiando o povo mediante falácias, tautologias, retóricas e sofismas de toda sorte para chegar ao poder?
Portanto, preclaro leitor, deixemos de fanatismos e atentemos para aguçar melhor os nossos sentidos racionais, abandonando, assim, impulsos próprios das épocas eleitorais. O próximo pleito jaz à porta, que a abramos com a chave da razão, não com a da frivolidade.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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