Após os resultados do primeiro e segundo turno eletivo para prefeito em todo o nosso país, ficou evidente uma questão: o desinteresse do povo pela política. E isso se mostrou mediante a abstenção massiva que se espalhou praticamente por todo o território nacional. Os votos nulos e brancos se mostraram fortemente presentes também.
Claro que o advento da pandemia entra nessa linha de conta. Não sejamos ingênuos a ponto de desconsiderá-la. Mas ela por si só não é a causa única ou mor. A evasão se deu pelo desapontamento que os cidadãos tiveram pelos seus respectivos representantes aos pleitos municipais. Há pelo menos dois anos vimos uma popularização da política em nosso país.
As redes sociais estavam apinhadas de indivíduos que tudo problematizavam, é verdade, mas, se observarmos pelo lado positivo, veremos que houve uma crescente onda de pessoas realmente interessadas pelo processo político, pelo interesse genuíno de procurar entender quais as ações políticas que agem sobre o indivíduo.
Porém, com a mesma empolgação com que começaram as politizações sociais, também a mesma feneceu em um piscar de olhos. O povo cansou de acreditar nas mesmíssimas promessas de sempre – que nunca tiveram resultado satisfatório. O povo cansou dos chavões, dos jingles, do horário político, dos “santinhos”, das visitas dos candidatos em suas residências… de tudo. O cidadão comum voltou a concentrar toda a sua atenção nas futilidades dos entretenimentos de sempre, como, por exemplo, o futebol como fonte de alienação, de fuga dos temas que realmente impactam a vida do homem.
Talvez devamos recomeçar e rever os nossos conceitos quanto à importância que a política impacta na nossa vida. Recomeçando do zero, talvez seria a hora de refletirmos sobre o nosso senso crítico; duvidar um pouco mais das nossas convicções e buscarmos, nas fontes literárias, o melhor caminho que nos fornecerá a nossa desejada liberdade intelectual. Só assim aprofundaremos o debate e os conceitos a serem defendidos. Esquerda, direita, centro… a questão está bem mais profunda do que conceber tais definições em suas formas clássicas e suas consubstanciações atuais.
O momento é de reflexão, não apenas no tocante a quem elegemos, mas sobre quem somos enquanto eleitores. Entender que elegemos o nosso reflexo de identidade capenga. Elegemos a ignorância, a preguiça, o descaso, a comodidade, o conluio oriundo de interesses escusos de ambas as partes.
Faço votos de que os nossos próximos votos estejam munidos do rigor que realmente mereça. Que os tempos de debate político possam voltar a oferecer bases sólidas para influenciar o povo; mas para isso é preciso primeiramente que a classe política perceba a nova cara do povo renovado.
O processo só muda quando a atitude do povo muda, não o contrário. E é dessa base da pirâmide que virá a solução. Os nossos costumes carecem de mudanças, e, em alguns casos, de abandono de velhos hábitos.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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