Deus Faz e Junta!

08/06/2024

Kleyton Bandeira Cantor, compositor e pesquisador cultural

Kleyton Bandeira
Cantor, compositor e pesquisador cultural

Aos 5 anos de idade, um garotinho chamado Flávio José Marcelino Remígio viu, cantando em praça pública, na cidade de Monteiro-PB, ninguém mais, ninguém menos do que Luiz Gonzaga, o rei do baião. Foi amor à primeira vista. Daquele dia foram dois anos de súplica aos pais por uma sanfona que, graças a Deus, aos 7 anos veio.

Aos 10 anos, Flávio José formara o seu primeiro trio, junto de seus irmãos; aos 17 se mudara para Sertânia, cidade vizinha de Monteiro, para fazer parte da orquestra municipal; depois disso, de volta à cidade natal, formou uma banda baile chamada “Os Tropicais de Monteiro”.

A vida, meio que à sorrelfa, quis dar um golpe no rei do xote. Foi quando Flávio José deixou a música para se dedicar à carreira de bancário. No entanto, com a instabilidade econômica na qual vivia o país ali pela década de 80, surgiu a possibilidade de algumas demissões no Banco e Flávio José, que não é bobo nem nada, se adiantou e voltou a fazer alguns shows, em conciliação com o trabalho no Banco, já prevendo o pior.

Pois é, Flávio ficava no banco durante o dia, corria pra fazer shows no período da noite e, depois do show, já colocava a roupa de bancário e voltava correndo para o Banco. Ufa!!

Nessa época, ele ficou conhecido pelos seus colegas bancário como “o cantor do 300 km”, pois não podia sair para lugares mais distantes por causa do seu emprego no Banco.

Mas Deus é justo e Ele faz e junta: no ano de 1991, o destino cuidou de que Flávio José encontrasse um camarada chamado Maciel Melo que lhe mostrou, simplesmente, “Que Nem Vem Vem”, “Caboclo Sonhador” e “Terra Prometida”. Flávio gostou tanto das músicas que decidiu não gravar todas de uma só vez, mas sim uma a cada ano, e assim o fez.

A primeira, gravada, ainda em 91, foi “Que Nem Vem Vem” e foi um enorme sucesso. Certo dia, Flávio recebe um telefonema de uma amiga de infância, por volta das 2h da manhã, dizendo-lhe que o parque do povo fervia ao som de “Que Nem Vem Vem”, que as pessoas, munidas de panfletos com a letra da canção nas mãos, cantavam, aos berros, a música.

No ano seguinte, a rede de Globo enviou à Campina Grande, para fazer a cobertura das festas de São João, no Parque do Povo, os renomados artistas Luiz Fernando Guimarães e Regina Casé e advinha qual canção eles apresentaram; isso mesmo: “Caboclo Sonhador” e, em seguida, “Que Nem Vem Vem”. Daí em diante o telefone na casa de Flávio José não parou mais de tocar; o Brasil inteiro queria o show do nosso Rei do Xote.

No ano seguinte, “Terra Prometida” não teve a mesma repercussão, no entanto a carreira de Flávio José estava consolidada e o país inteiro já sabia quem era o paraibano de Monteiro que tocava sanfona e cantava de uma maneira única e encantadora.

Em seguida vieram os sucessos “Meu Mungunzá”, composição de Petrúcio Amorim, e “Espumas ao Vento”, “Me Diz Amor” e “A Natureza das Coisas”, ambas composições de Accioly Neto.

E foi assim que surgiu um dos maiores expoentes do nosso forró e embaixador desse patrimônio cultural genuinamente nordestino que são os festejos juninos.

Flávio José nasceu na cidade de Monteiro-PB, no dia 1º de setembro de 1951 e ainda hoje alegra as pessoas por onde passa com suas canções que têm como marca registrada histórias de amor, saudades e lutas.

Forte abraço e bom final de semana!

 

 

 

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