“The rest is silence…”
Skakespeare
No dia 11 de setembro de 1859, Machado de Assis escreveu: Afinal tudo isso desaparece como fumo que o vento leva em seus caprichos, e o homem à semelhança de um charuto desfaz a sua última cinza, quia pulvis est.
Aqui não é pessimismo; é realismo no sentido próprio da palavra. A percepção notória da finitude humana moldada numa poética metáfora, culminando com o rito latino-cristão das cinzas.
É bastante provável que Machado de Assis tenha degustado um bom charuto. Era cousa usual ao seu tempo. Hábito elegante. Nosso maior escritor, de índole e modus vivendi inteiramente clássicos, não tinha excessos em nada. Deve ter fumado eventualmente, pour calmer l’âme.
No entanto, não só os gênios, mas todo espírito contemplativo, bom leitor, não pode escapar aos devaneios que inspira a fumaça evolando-se de um delicioso charuto…
Destarte, podemos imaginar o autor de Crisálidas reclinado em uma velha poltrona a fumar charuto e a devanear… Que visões povoariam tais elocubrações? Com acerto estariam eivadas de leituras de Lucrécio, Skakespeare, Pascal, Leopardi e, obviamente, Schopenhauer. Leituras de amargo teor.
Machado também, asseguro, evocaria espectros tristes de sua própria existência. Sofreu muitas perdas. O amigo José de Alencar, a santa esposa Carolina. Nós o imaginamos a fumar já na velhice. A contemplação e o solitário pensamento são ofícios de velhos.
Fumar charuto faz bem para a alma.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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