Endimeão
Endimeão era um jovem pastor da Cária; Formosíssimo. Cometeu certa vez uma terrível Hybris: apaixonou-se pela deusa Juno, esposa de Júpiter e Regina deorum, Rainha dos deuses. De acordo com alguns mitógrafos, teria recebido a Nêmesis de dormir por trinta anos. Outros poetas, mais severamente, afirmam que foi condenado a dormir para sempre. Eternamente belo, jovem e a dormir profundamente.
Nessa condição de Aeternus in somnis, Diana, em seu atributo de deusa da lua, o amou. Todas as noites vinha contemplá-lo a dormir, tomada de paixão, derramando seus prateados raios sobre o garboso mancebo.
Não há detalhes, infelizmente, sobre a Hybris que o jovem Endimeão cometeu. O amor por Juno é eivado de pecado, pois ela é uma das deusas marcadas pela casta condição. É a altiva uxor fidelis et magna, a grande e fiel esposa do deus dos deuses, Júpiter.
Entretanto, o que importa analisar aqui é a Nêmesis intrigante que recebeu. Indulgente castigo, talvez possamos julgar. Dormir para sempre. Juventude eterna. Mas que implicações exegéticas devemos considerar?
A priori, não nos precipitemos em avaliar como positivas tais manifestações da implacável Nêmesis. Nas análises mitológicas sempre devemos ter em mente que a mão divina que concede o bálsamo é a mesma que dá a maldição.
Endimeão deve padecer para sempre de uma aeterna solitudo, uma solidão eterna. Uma existência completamente à margem da realidade. Um universo in somnis perpetuis. De que lhe servirá a juventude perene? Tal sublimação da Hybris, fato aliás recorrente entre os mitos, traz em seu cerne uma maldição.
De todo modo, o sono de Endimeão é um dos topoy de grande poeticidade na Mitologia Clássica. Encarna, verbi gratia, toda a via do Espírito Romântico nas Artes, uma vez que o Somnium é presença visceral no núcleo duro da célula atemporal do citado Espírito. Valete, Lectores!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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