Muito justificadamente Dante chamou a Gramática de La Prima Arte.Falava sobre a gramática pura, a Normativa. Não sobre estéreis especulações linguísticas. O estudo do português deve ser normativo e retomar sempre o estudo do Latim.
Tomemos o caso da intrigante preposição latina In. Ela tinha dupla regência: acusativo (com verbos de movimento) e ablativo (com verbos circunstanciais). Sabemos que ela gerou a nossa polivalente preposição “em”, usada quase sempre de modo errado.
Façamos o bom leitor pensar. Na frase “moro em Iguatu” a estrutura “moro em Iguatu” é sintaticamente objeto indireto ou adjunto adverbial de lugar? Se considerarmos a primeira opção, o verbo é transitivo indireto. Se a segunda, o verbo é intransitivo. Defensáveis são as duas alternativas. A ideia de completude ou não do verbo é assaz subjetiva para o julgarmos intransitivo ou transitivo.
O latim, magna mater lingua,resolveria tal dilema colocando a discutida estrutura em ablativo. Como em “moro em Roma”. In Roma habito.Ou, mais arcaicamente, no desaparecido caso locativo. Romae habito.
Entretanto, a verdade seja dita, no próprio idioma do Latium era algo incerta a regência desta preposição. O exímio gramático Napoleão Mendes de Almeida especifica, inclusive, a noção de movimento ligada ao verbo quando da regência acusativa. Deve haver, segundo ele, ideia clara de deslocamento de um ponto a outro. Assim, na frase “andava no jardim” tal não se dá, pois não houve tal percepção. A semântica neste caso é ablativa, de lugar onde. In horto ambulabat, seria a versão latina.
Vexata quaestio (delicada questão) é de fato a preposição “em” quanto a sua regência e aplicação. É seguro afirmar que desde a origem latina até às dialetações românicas ela tinha e manteve algo de adverbial (ablativo). Usada com o substantivo “domicílio”, verbi gratia,só deverá aparecer se vinculada ao substantivo “entrega”, o que configura expressão circunstancial de lugar. Se, por outro lado, usamos o verbo deste substantivo, “entregamos”, ela não pode ser usada. Corretamente devemos escrever: “entregamos a domicílio”, com a preposição “a” indicadora de movimento.
Certus eras, Magne Dante.Estudemos, bom leitor, estudemos a única e verdadeira gramática. A Normativa.
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