A literatura brasileira portou-se muito bem, produziu relevantes obras, até o século XX. Barrocos, Árcades, Românticos, Realistas, Naturalistas, Parnasianos e Simbolistas cuidaram bem do nosso vernáculo. Produziram os cumes, as magna opera,da nossa língua aqui na “colônia”. Augusto dos Anjos, na poesia. Machado de Assis, na prosa.
Mas o caos, a vulgaridade, a profusão de erros de português começou a reinar a partir da balbúrdia da Semana de Arte Moderna. O malfadado Modernismo, com raras exceções da têmpera de um Graciliano Ramos, foi um festival de solecismos, de má prosa, de péssima poesia.
Os erros existem a mancheias, infelizmente. Justificados, como se fosse cabível, por uma falácia idiota: a “língua portuguesa do Brasil!” Ora, saibamos e aprendamos de uma vez por todas: não existe tal coisa. Nós herdamos e tomamos de empréstimo, humildemente, a língua de nossa alma mater, Portugal. Deveríamos amá-la e fazer uso dela com respeito e com honra. Mas tal não se dá. Nem mesmo no universo da literatura.
Da obra de Oswald de Andrade, aliás fraquíssima, pinçamos: “Eu boto ele na cadeia” e “Me dê um cigarro”, dos poemas “Senhor feudal” e “Pronominais”. Dois crassos erros. No primeiro, o pronome pessoal reto funcionando como complemento verbal. No segundo, a forma pronominal oblíqua iniciando oração. Entre muitos outros, sobretudo na sua ridícula poesia dita “antropofágica”.
Carlos Drummond de Andrade, um poeta sofrível, compôs um dos piores poemas da língua portuguesa. Se é possível chamar de poesia tal texto. Trata-se do “No meio do caminho”. Os versos são um monótono ruído, uma tautologia patética; superficiais e vazios. Não bastassem tais mazelas, têm ainda erros de português. O poeta, como mau estilista, usa erradamente o verbo ter por haver. “Tinha uma pedra no caminho”. O correto seria “havia uma pedra no caminho”. Como assevera Napoleão Mendes de Almeida, o magister magistrorum, devemos usar o verbo haver quando queremos dar ideia de existir.
Erro de português não confere expressividade ou relevo à criação literária. É pobreza estilística, fraqueza vernacular. Os clássicos sempre respeitaram o cânon gramatical e por isso são modelares e atemporais. Escrever bem começa pela correção, pelo respeito à norma culta. Qualquer pretensa literatura que a transgrida não merece nenhuma consideração.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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