Devaneios Vernaculares XI Vícios de linguagem et alii morbi

04/01/2020

Literatura – Vera et Magna Litteratura – é forma e conteúdo visando à perfeição estética. O conteúdo deve buscar o Eterno, o Atemporal. Rejeitar tudo o que é datado e, portanto, efêmero. A forma deve sempre esmerar-se no padrão culto da língua. Literatura fora da Norma não é literatura.

Neste último aspecto cito e lamento, por exemplo, dois casos. A literatura da Beat Generation. Kerouac, Ginsberg, Bukowiski e outros. Forte, bela, verdadeira arte do ponto de vista temático. Mas inferior quanto à forma. O idioma de Shakespeare foi aviltado por estes autores com numerosos erros e gírias. O outro caso, nosso genial Guimarães Rosa. Profundo, pleno de símbolos e de filosofia no plano do conteúdo. Mas intragável em seu experimentalismo regionalista.

A nobre Gramática Normativa nos dá um capítulo para que escrevamos escorreitamente e fujamos dos erros quanto à forma. Chama-se “Vícios de Linguagem”. São dez graves “pecados”, segundo Napoleão Mendes de Almeida. A existência canônica deste capítulo deve pautar-nos na boa escrita, no puro vernáculo. Cair nestes vícios é, obviamente, escrever mal. Assim, toda proposta de texto literário que os traga, em menor ou maior grau, será má, péssima ou mesmo sequer atingirá o status de literariedade.

É lamentável – mas infelizmente verdadeiro – que oitenta por cento da nossa literatura, desde o malfadado e fraco Modernismo (século XX), esteja repleta de erros de português. O século presente tende a ser pior. A cultura de massa, as tecnologias bastardas, a carnavalização e a cretinice ocupando o lugar do legítimo saber, da vetusta arte.

O tempora! O mores! (Cícero).E nós: O paupera ars! Pobres tempos, cegos e tolos críticos que não amam o idioma, que não sabem escrever. Cegos ou loucos; ou charlatães. Só assim podemos julgá-los por considerarem como literatura coisas como literatura de cordel, literatura de gênero (seja lá o que isto quer dizer), literatura politizada, panfletária, autoajuda e muitas outras pústulas que denigrem o belo e nobre vernáculo que um dia foi de Camões, Fernando Pessoa e do Padre António Vieira. Vae nobis! Vae nobis!

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

MAIS Notícias
ANTIGOS ADÁGIOS LUSITANOS
ANTIGOS ADÁGIOS LUSITANOS

“Nunc mitibus quaero mutare tristia” Horatius   É cousa conteste que a obra do disserto Pe. Manuel Bernardes (1644-1710) configura-se como um dos ápices do Seiscentismo português e da própria essência vernacular. Autor de forte índole mística, consagrou toda a vida ao...

Recordatio Animae
Recordatio Animae

     “... E eu sinto-me desterrado de corações, sozinho na noite de mim próprio, chorando como um mendigo o silêncio fechado de todas as portas.” Bernardo Soares   Este poente de sonho eu já vi; As tardes dolentes e o luar... As velhas arcadas mirando o mar......

QUIDVE PETUNT ANIMAE?
QUIDVE PETUNT ANIMAE?

(Virgilius)   Lux! E jamais voltar ao sono escuro À sede da matéria... Ser uma sombra etérea, Ser o infinito o único futuro!   Não lembrar! Ter a inocência da água; Ser pedra eternamente! Tal qual o mar onde o rio deságua Em música silente......

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *