“Outros se escusam de inépcia ou preguiça com a notícia de que se há mester da evolução da língua”
Cândido de Figueiredo
Linguista não é gramático. Linguista não sabe gramática. Considerar como “variações linguísticas” os erros de português é, no mínimo, uma deslavada parvoíce. O português do Brasil é paupérrimo. Doente cheio de moléstias, a agonizar.
O vernáculo português teve seus áureos momentos. O Humanismo e a Era Clássica (séculos XVI, XVII, XVIII). Hodiernamente, mercê de Deus, ainda há certa elegância e beleza clássicas no português tido e havido em Portugal e até na África portuguesa. Mas andam muito mal as coisas aqui no Degredo.
O português do Brasil, se é cabível chamar assim, tem noventa por cento dos vícios de linguagem que a Normativa Gramática manda evitar. Tenho apontado aqui nos nossos Devaneios muitos degradantes exemplos de solecismos, barbarismos, et alia crimina que infestam, qual filoxera maligna, nosso belo idioma.
Por agora me permitam uma reflexão filosófica aplicada à evolução e degradação das línguas de modo geral. O axioma é de uma irrefutável lógica: Cultus Populus: Multiplex, difficilis sermo. Ignarus Populus: Simplex, rudis sermo.Um povo instruído, uma sociedade evoluída detém uma língua complexa, rica em todos os aspectos expressivos e literários. Um povo ignaro, uma civilização inferior tem uma língua rude, elementar e reduzida em todos os níveis estéticos e linguísticos.
Assim, ratio sequitur, quanto maior a interferência do vulgo, das massas incultas, menos significativa (e mais moritura) será uma língua. São paupérrimas as línguas que mais sofreram a ação de duas nefandas leis: a Lei da Analogia e a Lei do Menor Esforço. Reduzir, simplificar, conceder estilisticamente é morrer do ponto de vista expressivo-estético.
A infeliz passagem, verbi gratia,do elevado Sermo Classicus para o Vulgaris foi profundamente danosa para as línguas neolatinas. Graves perdas morfológicas e sintáticas. Sessenta por cento do rico quadro verbal do Latim Clássico não sobreviveu ao Latim Vulgar.
O cenário da língua portuguesa no Brasil é, portanto, escatológico. Erros de toda espécie, caos e carnavalização geral. Escritos de autoajuda, literatura de cordel e outras profanações ao bom vernáculo pululam como pragas ao nosso redor. Que fazer, então? Corramos para os Clássicos. A única e verdadeira seiva eterna de uma língua!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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