A história de fé e devoção ao Senhor do Bonfim se confunde com a história de Icó, antes mesmo de a cidade ser emancipada. Jesus Cristo na Cruz, que não é padroeiro da cidade, já era celebrado.
“A fé aumentou com inauguração da igreja, em 1749. Ao longo dos anos vem crescendo. Em Icó, Senhor do Bonfim é venerado”, conta o historiador e memorialista Altino Afonso Medeiros, conhecedor da história e lenda de Icó. Neste período agora entre 22 de dezembro a 06 de janeiro, Icó se transforma para celebrar Jesus Cristo.
No final da tarde, os sinos da igreja tocam chamando moradores para mais uma noite de festejo, antes mesmo de escurecer já tem gente lotando os bancos e cadeiras armados na frente da igreja, outros trazem de casa uma banqueta para sentar. “É sempre assim: todo período de novena dedicada ao Senhor do Bonfim, que é a representação de Jesus Cristo Crucificado, é alvo de grande devoção”, ressalta o Frei Juracy Barbosa, pároco de igreja matriz de Icó, reitor do Santuário do Senhor do Bonfim.
No interior da igreja, na parte mais alta do altar principal, a imagem de Senhor do Bonfim se destaca pelo arco de flores, o brilho das luzes e cor dourada dos raios que o adornam. Não é o padroeiro de Icó, mas a devoção, é muito grande e difundida na cidade.
Fé e devoção
Movidos pela fé, os devotos rezam e cantam louvores. Desde que veio morar em Icó, há pouco mais de dez anos, Maria das Graças de Lima participa dos festejos e adorações todas as sextas-feiras, às 18h, acende velas e reza aos pés da imagem que fica ao lado do santuário por graças alcançadas. “Eu já ouvia falar muito na festa de Icó, mas não sabia dessa devoção tão grande. Quem não é fica devoto. Ainda mais que é nosso Senhor Jesus Cristo”, celebra por graças alcançadas.
“Esse é o resultado da tradição e fé do povo icoense e de quem não é. O santuário dedicado ao santo é um dos mais importantes monumentos arquitetônicos de Icó, além de acontecer aqui uma das principais festas religiosas do Ceará. Foi a primeira do Ceará, antes de existir Padre Cícero em Juazeiro do Norte e São Francisco em Canindé, Icó já tinha essa festa religiosa. Atualmente, a terceira maior do Estado”, acrescenta Altino Afonso.
No dia 1º de janeiro de cada ano, acontece em Icó a tradicional procissão em louvor ao Senhor do Bonfim, quando mais de 20 mil pessoas participam de uma das maiores e mais antigas festas religiosas que acontecem no estado do Ceará, iniciada em 1749, que neste ano completa 270 anos. Por atrair tanta gente, a celebração da novena acontece fora da igreja, em frente ao santuário. O novenário é momento de confraternização entre os moradores e renovação da fé em Jesus Cristo. “Eu me lembro que vinha pra cá com minha mãe, ainda criança. Hoje estou com 85 anos de idade, participo ativamente dessa festa. É o momento mais esperado ainda hoje pra mim. É emocionante”, comenta a aposentada Luíza Vieira.
Procissão e queima de fogos
A caminhada com a condução do andor do Senhor do Bonfim, ornamentado, é o ponto alto da festa. Ruas e avenidas do centro histórico ficam tomadas esperando a passagem da imagem de Jesus. Com o retorno da imagem para igreja, após a procissão, acontece também a queima de fogos. Em Icó, os fogos são instalados no chão, feitos com pólvora, madeira e pedaços de madeira. Muitas pessoas se arriscam em meio à bateria de fogos. “É um ato de coragem. É visto como sinal de devoção e sacrifício por graças alcançadas”, pondera o Frei Juracy.
A programação religiosa dedicada a Senhor do Bonfim só termina no dia 6 de janeiro, quando ocorre a recondução da imagem ao altar principal do santuário. Além do novenário, milhares de católicos participam também no 15 de novembro de cada ano da tradicional romaria do Senhor do Bonfim. Outro ponto de peregrinação é na estátua instalada em setembro de 2016, ao lado do santuário. A escultura será colocada em um horto, que está para ser construído em um morro próximo à cidade. “Além da nossa festa, a romaria é um momento rico, de renovação e fortalecimento da fé. A devoção ao Senhor do Bonfim é fervorosa”, complementa Frei Juracy.
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