O acender da fogueira na véspera de São João, dia 23 de junho, é uma tradição ainda mantida por muitas famílias, mas em especial para a de João da Silva Filho, 76, morador do Bairro Cobobó, nesta cidade.
Seu João Cotó, como carinhosamente chamado, deu os primeiros passos sobre as brasas da fogueira quando ainda era criança, aos 10 anos de idade. De lá para cá, não mais parou e segue essa tradição de passar por cima das brasas na véspera de São João, deixada por seus antepassados. “Eu comecei a andar em brasas com meu avô quando eu tinha 10 anos de idade. Eu via eles fazendo, meu pai, minha mãe, meus tios, eu quis também. Meu avó pegou na minha mão e passamos juntos. E continuo até hoje”, relatou o idoso, que se tornou um devoto de São João Batista. “Comecei mesmo por tradição da família, não era para pagar promessa, mas acabei me tornando um devoto de São João. Isso porque pretendo continuar até o dia que Deus quiser e me der força nas pernas para passar pelas brasas”, comemorou, mantendo viva a tradição de caminhar descalço sobre as brasas.
O devoto relatou que nunca teve medo, não sente dor e acha bonita a formação das brasas incandescentes. “Nem a primeira vez eu tive medo. Vou continuar mantendo essa tradição como uma demonstração de devoção e fé. Eu venho tirando. Eu já pelejei para que os meninos, as pessoas passem comigo, mas nenhum quer passar. Eu chamo para passar comigo, mas têm medo. Tenho fé em Deus, meu São Francisco e no São João, passo e não sinto nada”, afirmou ainda que ele mesmo ‘tira’ a fogueira e ascende.
A data também é celebrada com a presença de familiares, amigos e vizinhos, regada com comidas típicas e bebidas. Este ano foi bem mais especial, quando todos voltaram a se reunir devido às restrições da pandemia da Covid-19. “Essa pandemia foi muito ruim, porque atrapalhou tudo, mas agora vamos continuar o resto da batalha até o fim. Para nossa família são três festas que a gente sempre comemora: Natal, passagem do ano, que é o dia do meu aniversário, e São João”, contou.
Familiares, amigos e curiosos esperam o momento de ele caminhar sobre as brasas. “Eu não tenho coragem. Tem que ter coragem e fé como meu pai tem. É bonita essa tradição que ele mantém. A noite de acender a fogueira, no dia 23, é uma data muito esperada por nós, principalmente por ele, que continua essa tradição”, relatou Epifânio Neto, filho de seu João.
“Da família, de oito filhos, nenhum ainda hoje teve essa coragem de caminhar sobre as brasas. Mas enquanto Deus me der força, nem que chegue a 100 anos, vou continuar”, destacou, seu João.
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