“Vestra vero, quae dicitur vita, mors est”
Cicerus, in- Somnium Scipionis
Sócrates – Pois bem, aquilo que, como tu dizes, procuras há muito tempo está debaixo dos teus olhos.
Filebo – Como?
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Por toda a vida li Platão e ainda o leio. Nem sempre o labirinto da dialética socrática nos mostra um trecho claro como este que citei. É do diálogo Filebo, no qual se discute qual deve ser o sumo bem para o homem. Filebo e Protarco defendem que é o prazer. Sócrates afirma que é a sabedoria.
O melhor entendimento de Platão é o dos velhos, assim como eu. Ler o divino ateniense na juventude é desperdiçar sementes… é não ver tesouros… é ser cego na Caverna.
Quanto tempo tateamos na escuridão dos Sentidos? E olhamos sem nada ver. Os cheiros não são perfumes; manjares são abominações; sons são ruídos, não música; o que tocamos se nos desvanece…
É que nossos caminhos pertencem à Matéria. Rotas para o precipício; trilhas do Erro. A Criança precisa encontrar o Velho.
Mas é dorida a procura da Beleza, da Plenitude que perdemos. Nunca a encontraremos, hoje tenho certeza disto, no turbilhão dos prazeres. Este vinho da terra nunca nos saciará. Que orgasmo tão profundo e tão forte, mesmo que com Helena ou com a própria Vênus, não nos deixará tristes e traídos depois?!
É torturante olhar através das janelas acorrentados como estamos. Pesa-nos o Cárcere. Pendemos para a terra e para o pó. Mas felizmente temos lampejos da Perdida Paz. Centelhas luminosas…
O que devemos fazer então, enquanto estamos aqui cumprindo a existência? Um conselho vos dou. Procurai distinguir sempre e em tudo o que são Lumina (luzes) e o que são tenebrae (trevas). É fácil perceber, mas muito difícil seguir. Tudo o que é do espírito são luzes; tudo o que é da matéria são trevas. O mundo material é verdadeiramente demoníaco; estavam certos os Gnósticos.
E tentemos lembrar; lembrar é tudo.
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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