Dona Neném: exemplo de força e vitalidade sertaneja

24/09/2022

Vida simples. Acordar bem cedo, dividir o dia nos afazeres de casa e na roça, brocando, plantando, colhendo, carregando lenha, água no lombo do jumento… é assim o dia a dia da agricultora Maria Borges, moradora do Sítio Gado Bravo, na região do Distrito de José de Alencar, nesta cidade. A casa em que mora divide com uma neta e três bisnetos que cria como se fossem filhos.

Aos 73 anos, a aposentada sempre enfrentou a vida no campo. “Comecei a trabalhar na roça aos 5 anos de idade. Meu pai ensinou a gente a lida no campo cedo, eu e minhas irmãs. A gente cresceu assim. Eu aprendi tudo com meu pai. E tenho gosto”, afirmou dona Neném, como é conhecida.

Dona Neném sempre teve ligação com o campo. E foi a imagem de uma senhora de idade avançada arrastada por uma estrada carroçável que despertou a atenção da nossa reportagem, durante uma passagem pela região. Numa breve conversa, os relatos de dona Neném logo despertaram a curiosidade. E hospitaleira que é fez um convite para conhecer mais sobre sua história. Seu dia a dia. “Eu gostava de ajudar meus pais com os trabalhos na roça. Mesmo que aposentada, nunca deixei de trabalhar. O dinheiro não dá, tem que trabalhar mesmo. A vida não é fácil. tudo caro”, comentou enquanto numa conversar e outra mexia no barro molhado e com as mãos rebocava as paredes da casa de taipa, que está construindo no terreno da casa.

Por conta das obras da Transnordestina, a casa em que dona Neném morava teve que ser demolida, mas ela ganhou uma de alvenaria numa área mais alta, ampla e mais confortável. “Eu não me acostumo a morar em casa assim não. Vou deixar os meninos irem morando aí. levantando outra para mim. Aqui vai ser minha nova moradia. Antigamente quando morava no Alencar, eu tinha uma casa de tijolo, mas dormia na cozinha porque era de barro. Eu gosto é do barro. E é porque o tijolo da minha casa quem fez fui eu. Eu faço de tudo. Não paguei um tijolo pra fazer. O alicerce dela é bem feito, cavado na pedra bruta. Eu mesmo cavei. Agora fazendo essa aqui para mim”, contou.

Ela afirmou que antes tinha pagado para uma pessoa construir, mas a casa caiu por duas vezes, foi quando decidiu levantar a casa sozinha. “ fazendo. Passou o inverno todinho e depois que comecei não caiu. A casa vai ficar boa, tem um quarto, cozinha, a sala de jantar e sala de fora”, risos.

 

Sem pressa

Entre uma coisa e outra, aproveitava também para mexer no feijão cozinhando em um fogareiro de tijolos. “É o jeito. Tem que ser assim. Quando pensa que em casa, na roça, cuidando dos bichos, tirando o barro. Tenho o gosto de viver na roça. Não paro, só de noite quando termino tudo é que vou dormir. Mas, logo cedo acordo”, ponderou.

Dona Neném demonstra muita disposição para a vida que leva. “Gosto de fazer as coisas sem pressa e sem ninguém me incomodando”. Por isso raramente vai à sede do distrito de José de Alencar, ou mesmo a Iguatu. “Se for, é um negócio ligeiro. Volto logo para cá.”

No campo a aposentada prefere ficar trabalhando, não tem contato com telefone, gosta de andar a pé, cozinhar a lenha. Leva uma vida ainda como antigamente. Dona Neném lamenta que o período de chuvas este ano na localidade dela não foi boa. “Não choveu muito aqui. É tanto que no barreiro o pouco de água que pegou, já acabou. Tenho que ir pegar água no açude. Mas, deu para tirar um pouco de coisa da roça”, ressaltou.

Disposição, coragem e simplicidade

A vida de dona Neném chama atenção de outros moradores, pela disposição, coragem e força de vontade de continuar levando uma vida bem simples, no seu lugar de origem. “Dona Neném sempre foi assim. Essa pessoa que sempre viveu no sítio, gosta da vida que leva. Eu sempre tive essa admiração. Desde que me entendo por gente que conheço Neném e toda vida foi trabalhando para cuidar seus filhos e sempre na roça. Ela nunca teve outra atividade, a não ser a roça. É uma guerreira. As irmãs dela e as filhas também são do mesmo jeito. Gostam de trabalhar na roça”, comentou a amiga e agricultora Gorete Freire.

A filha de Neném, Luíza Borges, que também é agricultora, contou que aprendeu também com a mãe a gostar do campo, ter disposição para trabalhar. “O trabalho na roça aprendi com ela. Agora só não sei é brocar, mas o resto a gente planta, colhe. A gente pede para ela diminuir esses serviços pesados, mas não tem jeito. Ela gosta demais. Não sai daqui de dentro. A gente não tem tempo para ajudar, mas ela está fazendo tudo sozinha. A gente trabalha para se manter”, disse.

Para ter disposição, tem que ter também boa saúde. Segundo a aposentada, tem uma saúde boa. “Graças a Deus, não sinto nada. Eu tenho saúde pra brocar, plantar minha roça, colher. Faço cerca. Cuido dos bichos, meu jumentinho que boto lenha, água, boto tudo. De primeiro, o povo sofria, passava fome, não tinha chinela, não tinha roupa, não tinha nada. A gente foi criada assim. Hoje é tudo mais fácil. Mas o povo quer as coisas sem trabalhar. Isso não dá certo”, comentou, afirmando ainda que não gosta de ir à cidade. Só vai quando é preciso. “Vou lá e volto logo. Não gosto da cidade não. Aqui passo o dia e a noite. É sossegado. Quem não gostar de um mato desses, é sinal que não gosta de nada. Eu não troco minha casa aqui por aquelas casas de lá. Aqui sou feliz. Nós nascemos e nos criamos debaixo de uma casa dessas. E vou continuar vivendo. Só saio daqui debaixo quando eu morrer. Espero que demore muito tempo”, brincou a aposentada.

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