Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor.
A história da foto será uma série sobre a vida, a cultura e algumas paisagens do nosso Centro-Sul do Ceará. Uma imagem vale mais que mil palavras e cada foto tem a sua história. A foto desta história foi feita em 2017.
O ano de 1927 foi agitado. O cangaço tomava conta do sertão e Lampião era seu principal bandido. Na sua incursão pelo Rio Grande do Norte, rumo a Mossoró, o bando atacou a cidade onde ficava a igreja que guardava o batistério de dona Severina Andrade, nascida em 15 de fevereiro de 1912, mas oficialmente registrada em 1914.
Segundo ela mesma informa, “a igreja onde eu fui batizada foi destruída pelo bando do Lampião e queimaram todos os batistérios. Meu pai, com medo, registrou errado meu ano de nascimento”, afirma.
Quando a registrei oficialmente, em 2017, seriam 103 anos de idade, mas acredito nos 105 anos. Potiguar de nascimento, da cidade de Jardim do Seridó, no Estado do Rio Grande do Norte, dona Severina Andrade tem hoje 110 anos. Fui apresentado a ela em 2017, pelo secretário de Cultura de Quixelô, Aílton Fernandes, que foi junto comigo para fazer a matéria.
Depois que saiu de Jardim do Seridó (RN), dona Severina foi para Belém da Paraíba e, anos depois, em 1969, veio ao Ceará e acabou se estabelecendo em Quixelô.
Casada duas vezes, dona Severina ficou viúva trinta dias depois do primeiro matrimônio e grávida do primeiro filho. No segundo casamento foram mais sete filhos. Dois já faleceram. Podemos dizer que dona Severina riu da cara da morte várias vezes, a principal delas ao sobreviver a um câncer de mama.
Mas qual o segredo de viver tanto e viver bem? A resposta foi imediata: “Viver sem estresse. Em paz”, enfatiza.
Dona Severina não tem pressão alta, nem diabetes e muito menos problemas no coração. A dieta é de fazer inveja a muitos jovens. Come tudo que gosta. Carne de porco ela não gosta e o capote ela evita, pois acha “pesado demais” para a sua idade. O importante é “comer de tudo um pouco; não muito, mas um pouco de tudo”. No ano da foto, o legado de dona Severina era composto por oito filhos nascidos de parto normal e em casa, 21 netos, 15 bisnetos e 4 trinetos.
Dona Severina estava lúcida e ativa. Em certo momento da nossa conversa levantou-se rápida e tranquilamente. Os passos firmes a levaram sem dificuldades até a porta da casa. Tem boa audição e vê bem. Exatamente por isso, é bastante curiosa. Tudo que acontece na rua onde mora ela quer saber. Foi nesse momento que fiz a foto: na porta de casa, descobrindo que o barulho lá fora era por conta da mudança de um vizinho.
O filósofo Sêneca afirmava que “era melhor viver bem do que viver muito”. Mas dona Severina contraria o mestre ao mostrar que dá sim para viver muito, viver bem e feliz.
0 comentários