Dr. Jader Mendonça – Médico proctologista

07/09/2019

Por ocasião do ‘Setembro Verde’, quando há mobilizações em todo Brasil pela prevenção do câncer do colorretal, o médico proctologista Jader Mendonça, seguindo orientações da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, fala sobre o tema nesta entrevista exclusiva ao A Praça. Na abordagem, o leitor tem a percepção sobre o que é a doença, como ela se manifesta, fatores de risco e as faixas etárias da população que estão mais expostas à doença

A Praça – O ‘Setembro Verde’ remete à prevenção do câncer colorretal e foi instituído a partir de quando? Foi iniciativa da Sociedade Brasileira de Coloproctologia?

Dr. Jader – O Setembro Verde é uma campanha de iniciativa da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, realizada há vários anos com o intuito de alertar sobre a importância, prevenção e combate ao câncer colorretal. É realizada no mês de setembro juntamente ao nosso congresso anual da especialidade que inclusive será realizado este ano aqui em Fortaleza, sob a presidência da Dra. Sthela Regadas.

A Praça – O que é o câncer colorretal?

Dr. Jader – É o câncer que acomete o cólon e o reto, que é mais conhecido como intestino grosso, o qual é a porção final do tubo digestivo responsável pelo transporte e armazenamento das fezes. 

A Praça – Quais são as causas que corroboram para o surgimento da doença?

Dr. Jader – As principais causas do surgimento do câncer colorretal são alterações genéticas. Estas podem ser hereditárias, quando a pessoa já nasce, ou esporádicas, que são as mais comuns nas quais as alterações ocorrem no decorrer da vida. Na maioria das vezes, estas alterações genéticas formam lesões pré-malignas (pólipos) que se não forem retiradas evoluem para o câncer, por isso é tão importante a prevenção. 

A Praça – Quais são os sinais que a doença pode apresentar antes do diagnóstico?

Dr. Jader – O câncer colorretal é uma doença silenciosa na fase inicial, geralmente quando ela apresenta sintomas já é num estágio mais avançado, porém alguns sintomas e sinais podem chamar atenção para a investigação da doença: sangramento recorrente pelo ânus, alteração do hábito intestinal (diarreia ou constipação), dor abdominal recorrente, anemia, catarro nas fezes, massa abdominal. Como dito acima, infelizmente na fase inicial a doença é silenciosa, não dando muitos sintomas, por isso é muito importante a realização de campanhas como esta para incentivar a prevenção e o diagnóstico precoce que são realizados através de exames de colonoscopia de rastreamento na população mesmo que a pessoa não apresente sintomas. 

A Praça- Que fatores epidemiológicos podem ser mais evidentes em relação às populações que estão mais expostas à doença?

Dr. Jader – O principal fator epidemiológico é a idade. É uma doença que aumenta a incidência a partir dos 50 anos, porém nas últimas décadas tem aumentados os casos em pessoas mais jovens. Acomete tanto homens quanto mulheres, sendo o terceiro mais comum em homens somente atrás dos de próstata e pulmão e segundo nas mulheres atrás apenas do de mama. Outros fatores são: história familiar de câncer colorretal, doença inflamatória intestinal (principalmente a retocolite ulcerativa), tabagismo, obesidade, maior incidência em regiões mais desenvolvidas com alimentação pobre em fibras (verduras e frutas) e rica em carne vermelha, gorduras e carboidratos. 

A Praça – A partir do diagnóstico, o tratamento é somente pela cirurgia?

Dr. Jader – Após o diagnóstico que se dá através do exame de colonoscopia com biópsia da lesão, o tratamento é variável e vai depender do estágio e da localização da doença. Os pólipos e o câncer bem inicial podem ser tratados e retirados pela colonoscopia não necessitando realização de cirurgia. Em tumores mais invasivos, o tratamento cirúrgico é o de escolha, porém dependendo da localização e do grau de invasão do mesmo, podem ser necessários outros tratamentos antes e/ou depois da cirurgia como radioterapia, quimioterapia ou imunoterapia. O tratamento do câncer colorretal é multidisciplinar envolvendo muitos profissionais da área da saúde. 

A Praça- O senhor fala de prevenção secundária através da colonoscopia. E como fazer a prevenção primária?

Dr. Jader – A prevenção secundária da colonoscopia é através da retirada de lesões pré-malignas (pólipos) que já surgiram. A prevenção primária é evitar que estas lesões surjam através de medidas de comportamento e dieta: Evitar o tabagismo, obesidade e sedentarismo. Dieta rica em fibras (verduras e frutas) e pobre em carne vermelha, gorduras e carboidratos. Quando presente, tratar as doenças inflamatórias intestinais.

A Praça – A partir de que idade deve se fazer o rastreamento pela colonoscopia? 

Dr. Jader – O rastreamento na população em geral é iniciado a partir dos 50 anos e realizar o exame a cada 10 anos se normal. Pessoas com história familiar de câncer colorretal ou pólipos deve iniciar a partir dos 40 anos ou 10 anos antes do caso que teve na família. Outras situações mais específicas como doença inflamatória intestinal e síndromes genéticas tem protocolos próprios. Em pacientes com história prévia de polipectomia, o tempo de rastreamento vai depender do tipo, número e tamanho dos pólipos.

A Praça- Em algum momento o preconceito pode atrapalhar no diagnóstico e tratamento do câncer do colorretal?

Dr. Jader – O preconceito sempre atrapalha neste caso. O exame de colonoscopia é muito importante é essencial na prevenção e diagnóstico do câncer colorretal, porém muitos não o fazem por medo do procedimento, pelo desconforto do preparo e até mesmo pelo fato de ser um procedimento endoscópico realizado através de introdução de aparelho pelo ânus. Este tipo de campanha é exatamente para conscientizar a respeito da importância da prevenção e diagnóstico precoce deste tipo de doença. O preconceito com o exame ainda é muito grande, mas tem diminuído ano após ano. Prevenir é sempre melhor do que tratar.

Perfil

Dr. Jader Mendonça é médico formado pela UFC – Universidade Federal Ceará, campus Barbalha, fez Residência em Cirurgia Geral no Hospital Walfredo Gurgel, em Natal-RN, residência em Coloproctologia no Hospital Universitário Walter Cantídio – UFC. Atualmente, cursa Mestrado em Cirurgia pela Universidade Federal do Ceará, é cirurgião e preceptor da Residência Médica de Cirurgia Geral e Coloproctologia do Hospital Universitário Walter Cantídio UFC, cirurgião do Instituto Dr José Frota (IJF) em Fortaleza, mantém consultório no Hospital São Vicente e realiza colonoscopia no Hospital São Camilo em Iguatu.

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1 Comentário

  1. Márnia cavalcante da silva

    As pessoas precisam perder esse medo,quando o corpo responde de uma forma diferente é preciso buscar informações.A matéria aborda um conteúdo muito importante.

    Responder

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