Por ocasião do Dia Mundial de Consciência e Prevenção ao AVC – Acidente Vascular Cerebral, celebrado em 29 de outubro, uma das doenças silenciosas que mais matam no mundo, o leitor do A Praça é contemplado com entrevista exclusiva com o médico neurocirurgião iguatuense Dr. Saulo Teixeira, que fala entre outros assuntos, sobre como prevenir a doença, que é a segunda principal causa de mortes no Brasil
A Praça – Por que o AVC é considerado uma doença silenciosa, doutor?
Dr. Saulo – Embora o evento em si muitas vezes seja catastrófico, deixando o paciente com limitações graves ou mesmo levando à morte, as formas mais comuns de AVC são resultado de um processo crônico de danos aos vasos sanguíneos do cérebro, que ocorre ao cultivarmos hábitos pouco saudáveis ou comorbidades mal controladas, como pressão alta e diabetes.
A Praça – Quais as diferenças entre um AVC isquêmico e o hemorrágico?
Dr. Saulo – Numa explicação bem simplista, o AVC isquêmico é aquele em um vaso sanguíneo fica obstruído e falta sangue numa determinada área do cérebro, enquanto o AVC hemorrágico é aquele em que um vaso ou uma malformação, como um aneurisma, se rompe, causando um sangramento intracraniano.
A Praça – No caso dos AVCs, existem também para essas doenças os chamados grupos de risco?
Dr. Saulo – Sim. Como para a maioria das doenças que envolvem os vasos sanguíneos, fumantes, diabéticos e hipertensos tem um risco maior de AVCs.
A Praça – Vida sedentária, uso excessivo de cigarro e álcool e o consumo em excesso do sal, gordura, açúcar, podem ser considerados fatores relevantes causar um AVC?
Dr. Saulo – Sem dúvida. Diretamente, como o cigarro, ou indiretamente, como o álcool, vários hábitos aumentam a incidência dos principais tipos de AVC e, uma vez ocorrendo, tornam mais prováveis os desfechos ruins.
A Praça – Quais são os sinais que a pessoa apresenta se ela está sendo acometida de um AVC?
Dr. Saulo – Os sinais clássicos são perda de movimento em algum segmento do corpo, como braços ou pernas, alteração dos movimentos da face e dificuldade de se comunicar (falar, compreender, repetir). Mas há uma infinidade de quadros clínicos possíveis, a depender da localização e da extensão do dano ao cérebro.
A Praça – Pode haver sequelas graves se o socorro à vítima de AVC não for rápido?
Dr. Saulo – Excelente pergunta. Temos uma expressão que diz “tempo é cérebro”! Hoje, há inúmeros mecanismos clínicos e cirúrgicos para reduzir os danos causados por um AVC, entre os quais o mais disponível é a trombólise endovenosa. Nesse procedimento, que classicamente pode ser feito até quatro e meia horas da última vez que o doente foi visto bem, um medicamento ajuda a dissolver trombos e impedir a morte de mais neurônios. O HGF, em Fortaleza, é referência nacional e internacional neste e em outros tipos de procedimento com o mesmo fim. Contudo, é importante dizer que o que tem bons resultados mesmo é a prevenção.
A Praça – Quais as formas mais eficazes de prevenção a esta doença, doutor?
Dr. Saulo – Controle das doenças de base que já citei, como pressão alta e diabetes, além da busca por hábitos saudáveis, dos quais o principal é o exercício físico regular, que inclusive é o mote da campanha desse ano, com o “Movimente-se!”. Alguns pacientes têm indicação, por motivos diversos, de usar medicamentos que diminuem o risco de AVCs, mas quem deve fazer esse manejo é neurologista clínico, o cardiologista ou um médico clínico geral competente.
A Praça – Uma pessoa que sofre AVC pode ter as funções do corpo comprometidas? Recuperada, ela pode voltar a ter uma vida normal?
Dr. Saulo – Sim. As funções são comprometidas de acordo com a localização e a extensão da área acometida. Curiosamente, por uma questão de neuroanatomia, AVCs à direita costumam provocar perda de função à esquerda e vice-versa. Assim como a dificuldade para falar é característica de lesões à esquerda, como regra. Essa perda de função, que chamamos de déficit neurológico é passível de recuperação em alguns casos, a depender, entre outras coisas, de uma boa reabilitação com fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Muitos pacientes voltam à vida normal, mas com risco aumentado de ter novos eventos. A melhor saída é prevenir, desde já.
Perfil
Saulo Araújo Teixeira, 32, é médico formado pela UFC – Universidade Federal do Ceará, com residência em neurocirurgia pelo Hospital Geral de Fortaleza (HGF-SESA) e treinamento em neuroendoscopia pelo ENDOMIN College, na Alemanha. Também é médico legista na Perícia Forense do Estado do Ceará.
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