Neste 19 de setembro faria cem anos. O mundo inteiro nutre por Paulo Reglus Neves Freire, ou simplesmente Paulo Freire, a maior admiração e por certo festejará a efeméride.
Menos o Brasil oficial, submetido aos caprichos fascistoides de uma extrema-direita burra e criminosa. Ignoremos seus detratores, falemos de Paulo Freire.
Num lugar chamado Angicos, nas proximidades de Mossoró, sob o sol causticante a crestar o solo infértil de uma região quase inóspita, na sequência de experiências desenvolvidas junto à Universidade Federal de Pernambuco, Paulo Freire criava e coordenaria o que seria um dos mais bem-sucedidos métodos de alfabetização de adultos, cujo exemplo logo atravessaria fronteiras e ganharia o mundo.
Mais que um método, no entanto, nas palavras lúcidas de Carlos Rodrigues Brandão, tinha início ali “um novo sentimento do Mundo, uma nova esperança no Homem. Uma nova crença, também, no valor e no poder da educação. Sinais do amor que o homem planta e que brotavam ali, no chão seco do sertão”, há mais de sessenta anos.
Para Paulo Freire, educar não é transferir conhecimentos, depositar saberes, como dinheiro para a conta de um banco (por isso chamava isso de educação “bancária”), que vai internalizando no aluno a equivocada compreensão de que a exploração e a opressão são fatos naturais, e não o resultado de uma correlação de forças desigual e profundamente injusta.
Na contramão dessa educação opressora, Paulo Freire propunha uma educação para a liberdade, aquela que rompe as fronteiras da individualidade e faz o aluno perceber-se no conjunto das relações sociais, interferindo na sua forma de ler o mundo e inserir-se na realidade como agente de transformação e de enfrentamento do status quo e da ordem social vigente.
Em lugar da reprodução dos valores de uma sociedade de classes, pautada pela exploração do homem pelo homem, a educação proposta por Paulo Freire é, antes de tudo, um ato político, formador de indivíduos conscientes, críticos, sujeitos de sua própria história.
Nessa perspectiva, não se trata de politizar o que, em si, por natureza, já é algo essencialmente político. Não existe neutralidade possível.
Educar é estimular a consciência crítica, desenvolver a autonomia do ser, torná-lo capaz de caminhar pelos seus próprios pés em direção ao futuro sem opressores e oprimidos.
Num tempo em que se fala tanto em crise de identidade do sujeito, com deslocamentos vertiginosos de valores étnicos, raciais, sexuais, culturais, enfim, mais que nunca é importante resgatar o pensamento de Paulo Freire, ressignificando-o em face do mundo atual e dos desafios que temos por enfrentar na perspectiva do que se pretende novo e diferente do que aí está.
Morto em 2 de maio de 1997, Paulo Freire vive na eterna utopia de um mundo mais justo e mais humano, mais igualitário e mais livre.
Neste 19 de setembro, na contramão do que pretendem seus detratores, para quem a desigualdade, os salários aviltantes dos professores, a inexistência de um projeto nacional de educação nada importam, movidos pelo ódio, na intenção despudorada de responsabilizá-lo pelos fracassos de um modelo anódino e perverso, é preciso que se ressalte a incontornável figura do filósofo e educador Paulo Freire, por força de Lei e senso de justiça, legítimo Patrono da educação brasileira.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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