Prestes a completar 59 anos, Luís Eduardo Gondim de Sousa, conhecido por Dr. Eduardo Gondim, cirurgião dentista e músico autodidata, vive a expectativa de lançar seu primeiro livro. Ele escreve desde os 12 anos de idade.
“Ainda lembro da primeira poesia”, disse, contando para nossa reportagem como foi o processo de criação desse seu trabalho ‘Quetzal – Poemas escolhidos’. “Desde os 12 anos que escrevo. Inclusive lembro do primeiro poema que escrevi. Nessa trajetória de carreira de artista e profissional, muitas pessoas me cobravam. ‘Eduardo, quando você vai lançar um livro?’ Aí foi ficando… até encontrar um momento certo, que é agora”, contou. Mesmo com dificuldades na fala e na locomoção ocasionados por conta da Esclerose Lateral Primária, doença rara de origem desconhecida caracterizada por ser neurodegenerativa do neurônio motor superior, com acometimento de funções cognitivas, Eduardo se mostra um homem feliz e resistente. “A gente só tem o dia de hoje. Então pequenas coisas que a gente reclama na vida, isso aí não tem significado nenhum, porque o que importa é a vida. Você não tem direito de reclamar. A única coisa que você pode fazer é tentar ser feliz. Até então nem eu sabia o quanto era forte”.
A palavra ‘é’
Em meio a tanta confiança, perseverança de um mundo melhor, de pessoas melhores cheias de paz e de bem com a vida, Eduardo contou como foi que surgiu a coletânea de poemas, que intitulou ‘Quetzal – Poemas escolhidos’. “Um dia eu ouvi a palavra ‘é’. Só não me pergunte como. Simplesmente ela surgiu na minha mente. Foi que ‘é’ tanta ansiedade, ‘é’ tanta saudade por aquilo que não existe. Só existe o ‘é’. Então o que nós temos é o aqui e agora. Então esse livro conta uma trajetória de tudo que eu tenho vivido. Coisas boas, coisas ruins, assim como todo ser humano”, ressaltou, explicando que “Uma obra de arte não é sua. Ela passa por você! Você é o instrumento. Então quando a poesia se torna de todos, ela é uma obra de arte. Então é por isso que estou lançando essa coletânea de poemas”.
Além do reconhecimento profissional na odontologia, Eduardo também é conhecido por seu talento musical e poético. Não se pode falar de Eduardo Gondim sem deixar de citar seus trabalhos reconhecidos como a música de sua autoria “Igual a tu (Iguatu)”, canção de 2003, quando Iguatu celebrava 150 anos de emancipação política. Natural do Cariri, adotou Iguatu desde a década de 80, como sua terra de coração. A música fez parte de sua vida desde cedo, com a influência do avô Júlio Barreto Gondim, que tocava clarineta e era maestro em Jardim, cidade do Cariri. Eduardo também conta com a participação em diversos festivais de música em diversas cidades cearense e de outros estados nordestinos, também com duas edições do projeto Performance Poética, do Sesc, com seus escritos.
Segundo Eduardo, o talento é inato. “A gente tem que dividir, dividir com mais pessoas. Eu quero dividir esse meu trabalho com as pessoas que comparecerem ao lançamento e eu puder dividir. São textos, poesias rebuscadas às vezes. Eu gosto muito disso… Soneto. Mas, tem também poesia popular, letra de música. Eu espero o maior número possível de amigos. Estamos abertos a espalhar a poesia”, ressaltou, convidando as pessoas. “Para quem está nos acompanhando nessa conversa, eu só tenho uma coisa a pedir: força! Você encontra força nas mínimas coisas. Então que meu exemplo ou não sirva para motivar aqueles que lutam contra uma doença. E continuar na vida, porque a vida é muito bonita. Espero que um dia quem tocar neste livro, que o faça com muito carinho, porque cada palavra que está nele foi muito bem pensada, muito bem trabalhada. Não com o intuito de se fazer notar, se fazer aparecer como um artista, não”.
Resta lutar
De acordo com Eduardo Gondim, desde 2014, quando surgiram os primeiros sintomas da doença, passou a ser tratada como Parkinson, só que não era. “Em 2020, ela se agravou muito rápido. Isso não era Parkinson. Em São Paulo, no Albert Einstein, foi que surgiu o diagnóstico de Esclerose Lateral Primária (ELP). Não é fácil, é muito difícil conviver com perdas quase que diárias, porque é um problema neurológico muito raro, não tem cura, não tem tratamento é progressivo. E o que nos resta é lutar, conservar o que se tem. É isso que eu faço. Faço fisioterapia, fonoaudiologia, natação, musculação, são vários cuidados. Inclusive, no lado profissional ainda continuo trabalhando, só que prestando assessoria ao meu filho, que é dentista. Eu estou o auxiliando, orientando quando ele precisa. É desse jeito! Muita gente se admira”, finalizou.
Eduardo espera amigos, familiares e convidados no próximo sábado, 22, a partir das 20h, no Sesc de Iguatu.
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