Recente estudo da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento mostra o aumento da participação de mulheres na agricultura familiar no Brasil. A análise do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA aponta que essa participação chegou a 80% em comparação à masculina em 2019. De acordo com a participação por número nas regiões, a maior parte está no Sudeste, 88%, seguida pelo Nordeste, 84%, Centro-Oeste, 80%, Norte, 67% e Sul, 65%. Em Iguatu, na Região Centro-Sul cearense, dados da Secretaria de Agricultura e Pecuária, SEAP, apresenta que a participação feminina ultrapassa 40% das 99 pessoas cadastradas que fornecem alimentos para o programa. A expectativa é que a partir do próximo ano essa participação aumente ainda mais.
No Sítio Barra II, na zona rural, encontramos as irmãs Camila e Samara Alves de Souza. Samara é inscrita no PAA já algum tempo e Camila, que passou a trabalhar na área rural desde o ano passado, está providenciando a documentação para também passar fornecer o que produz para o programa. Elas desenvolvem o trabalho na propriedade da família. Por lá, são cultivados canteiros de hortaliças, plantios de banana, milho, jerimum e melancia, além de um criatório de suínos. “A agricultura é uma das atividades mais importante, porque nessa pandemia a gente nunca parou, porque é do campo que saem os alimentos e a gente que trabalha aqui não é valorizado como deveria ser”, pontuou Camila Souza, 25, que além de agricultora é tecnóloga em Irrigação e Drenagem (IFCE Iguatu) e mestra em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal do Ceará. A jovem lamenta que apesar dos dados apresentarem um aumento da presença da mulher trabalhando diretamente na agricultura familiar, na região que mora ainda são poucas as mulheres que trabalham diretamente no campo. “Eu e Samara estamos aqui todos os dias de domingo a domingo, trabalhando, cuidando da horta, das outras coisas, quando chega no período de colheita, a gente sai vendendo de porta em porta ou então a gente coloca no projeto”, contou orgulhosa, mostrando um pouco de cada coisa que produzem.
Não diferente da irmã, Samara Souza, 29, também priorizou os estudos. Concluiu o ensino médio e tem cursos técnicos na área de comércio e tecnológico em Irrigação e Drenagem, todos pelo Instituto Federal do Ceará, campus Iguatu. “Há um ano eu tomei essa iniciativa de implantar uma horta. A ideia principal era mais para o consumo de casa, uma produção mais orgânica, natural, para ter mais qualidade. A partir daí as pessoas tomaram conhecimento e começaram a comprar também e chegou a esse tamanho a produção”, disse Samara, afirmando que todo o excedente agora é vendido. “Eu gosto de fazer esse trabalho. Eu amo o que faço. Já trabalhei em duas empresas na cidade, uma de irrigação e drenagem e outra em telemarketing, mas não me sentia bem. O sol é quente? É, mas é gratificante quando a gente vê o fruto do nosso trabalho rendendo bem”, comemorou.
Para as irmãs, o PAA é importante porque garante a segurança da comercialização como também na parte financeira. “A gente vende por um preço bom e tem a garantia da certeza de receber certinho todo final de mês”, disse Samara.
Produto de qualidade
Na mesma localidade há também outra agricultora que se destaca na área da fruticultura e produção de polpas de frutas. Elissandra Bezerra montou na própria casa uma fábrica de polpas. Desde 2012, participa do PAA, mas antes vendia as polpas de porta em porta. “Eu acho muito importante esse programa, mas acredito que falta ainda mais incentivo para a agricultura familiar, para a mulher na agricultura. Teria que ter mais atrativos. Eu que crio meu filho praticamente sozinha, eu procurei o programa e desde o início, sempre fui bem recebida. Para mim, vem dando certo. Tem preço bom. A gente que é agricultor necessita de apoio do governo. Sem agricultura como é que o povo vive?”, indagou, afirmando que em 2014 realizou um dos sonhos em legalizar a fábrica, com registro junto ao Ministério da Agricultura. “Ainda estou buscando, ainda não consegui chegar no que eu quero, porque todo dia a gente está buscando algo diferente. Mas Deus sempre nos ajudou até aqui e vai continuar ajudando. Tenho fé”.
Diante de tantas conquistas, em 2017, Elissandra passou tocar um plantio de frutas. Ela tem uma área com 320 pés de acerola, 560 pés de caju, 140 de cajá, no próximo ano pretende fazer um plantio de manga jasmim injetada e até açaí. “É um desejo do meu coração e sei que Deus vai realizar, com essa plantação de frutas, tem dias que a gente apanha 30 caixas de caju, 40 caixas de acerola num dia. A fruta cara que comprava, a gente produz frutas de qualidade. O agricultor se preocupa com a qualidade porque seus próprios filhos estão consumindo o que ele produz”, ressaltou.
Incentivo
Diante dessa força de vontade e garra da mulher no campo, a participação das mulheres no PAA tem aumentado em Iguatu. “Hoje nós estamos com mais de 40% de mulheres beneficiárias do programa. É maior percentual dentro dos quatro anos do programa em nossa cidade”, apontou Francicleiton Freires, coordenador do PAA em Iguatu, afirmando que o programa em Iguatu compra 35 itens diferentes fornecidos pelas 99 pessoas cadastrados no PAA. Os alimentos são doados para sete entidades públicas do município da rede socioassistencial entre essas a Cozinha Comunitária, os CAPS, Hospital Regional e Abrigo Domiciliar. “A gente tem incentivado de várias formas a participação das mulheres com outras ações da secretaria através da assistência técnica, hoje a secretaria tem o sistema de inspeção municipal que habilita produtores a fornecerem produtos de origem animal de forma correta e outras atividades que vem fomentar a participação das mulheres no programa”, disse Freires.
O Ceará já recebeu mais de R$ 51,4 milhões para o Programa Aquisição de Alimentos (PAA) apenas neste ano.
O incentivo à maior inclusão feminina no PAA começou a fazer parte das políticas públicas voltadas ao pequeno agricultor a partir de 2011, quando se instituiu como um dos critérios de priorização na seleção e execução do programa a participação mínima de 40% de mulheres como beneficiárias fornecedoras na modalidade de compra com doação simultânea (CDS) e 30% na de formação de estoque (CPR- Estoque). O estudo aponta ainda o número geral de participantes nos projetos, que são separados por categoria. A maior presença feminina no ano passado pôde ser observada na Agricultura Familiar (2.169), seguida dos Assentamentos da Reforma Agrária (1.538), Quilombolas (475), Agroextrativismo (264), Pesca Artesanal (133), Comunidades Indígenas (113) e Atingidos por Barragens (9).
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