Paulo Cesar Barreto
(Arquiteto e Urbanista)
Houve época em que a população de Iguatu enfrentou um sério e constrangedor problema de ordem sanitária e de comiseração humana. É que já se ensaiava na porta do cemitério uma fila de pessoas com seus entes queridos em caixão a procura do sepultamento.
Não havia mais espaços a construir ou adquirir túmulos. Até mesmo na parte reservada aos indigentes era uma tarefa quase impraticável.
Os antigos cemitérios no Brasil refletem uma tipologia de ocupação que se verifica dentro das cidades: uma área onde moram os mais abastados e outra onde ficam os pobres em acentuada desigualdade social.
Em Iguatu, um dos primeiros cemitérios foi construído onde hoje é a Praça Aírton Jucá em frente ao CDL. E funcionou até meados da década de 1930. O intenso e fervilhante movimento social e econômico no pátio da Estação Ferroviária que ficava bem alado forçou sua transferência para o Bairro 7 de Setembro, lado Sul da cidade, mais distante dos olhos dos viventes que moravam no núcleo original da urbe.
Os cemitérios de Iguatu, em seis no total, segundo o Monsenhor e Historiador Francisco de Assis Couto, em seu livro Paróquia de Iguatu – Sua Formação Eclesiástica (1958), passaram por um procedimento que consistia em uma benção de acordo com as prescrições do Ritual Romano, ficando, porém, sem benção, certas faixas de terras reservadas para os casos previstos pelo Código de Direito Canônico.
Em 1995, os serviços funerários não atraíam investimentos e o interesse da iniciativa privada em nosso Município. E uma atitude firme e urgente precisava ser tomada pelo poder público local. O prefeito Marcelo Sobreira, mediante diversas alternativas disponíveis e ponderando sobre as dificuldades financeiras de então e que a escolha fosse para que o novo cemitério ou sua ampliação contemplasse um conceito de reaproveitamento dos espaços ociosos e contíguos ao cemitério existente. E optou junto com sua equipe tornar de utilidade pública e desapropriar através do Decreto nº 007/95 de 20/02/1995 o conjunto usineiro proveniente do ciclo algodoeiro, a tempo desativado, de nome “Casa Machado”, a família do então Senador Sérgio Machado, político em meteórica ascensão no Estado do Ceará e no Brasil.
E para isso foi instituída uma comissão avaliadora que dentre os bens auferidos além do terreno murado com 12.757,00 m² e mais as edificações, composta por galpões, depósito, casa de força e máquinas, escritório e um apartamento em pavimento superior que somavam 1.763,25 m² de área construída e obteve-se para tudo um valor total de R$ 125.000,00 (Cento e vinte e cinco mil reais) – 20/03/1995.
A partir disto foi formado um grupo de trabalho para elaborar um projeto de parcelamento do terreno em túmulos com dimensões de 1,10 m x 2,90 m e que a médio prazo disponibilizasse 1000 unidades para a população em um modelo condominial. Os prédios seriam reformados e readaptados para os usos de uma capela ecumênica, salas de velório, banheiros, gerência, área para fabricação de pré-moldados e loja de flores.
Hoje se entende que foi uma decisão administrativa acertada por seu custo-benefício e pela correção de uma precariedade vivida pelos iguatuenses naquele período.
Apesar da manutenção e gerência ora terceirizada nos dois cemitérios, que melhorou e organizou os serviços de limpeza, jardinagem, vigilância e de manejo interno dos atos funerários, apresenta-se hoje um enorme passivo ambiental devido a falta de um sistema mais eficiente de drenagem das águas pluviais e principalmente o tratamento do necrochorume.
O necrochorume é um líquido que verte por cada cadáver (200 milímetros/dia) que quando escapam da sepultura, penetram no solo com uma alta carga tóxica e microbiológica com vírus e bactérias e contaminam o lençol freático.
E esta condição se agrava devido a localização dos 2 cemitérios que estão a 300 metros a montante da Lagoa de Bastiana cujos lençóis freáticos que a abastecem durante o ano todo provêm de uma região com um raio bem maior onde eles estão inseridos.
A partir de 2003 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) emitiu e publicou uma série de Resoluções referentes ao licenciamento ambiental dos cemitérios no Brasil, dentre elas a RC nº 335 de 03/04/2003 onde estabelece a obrigatoriedade desta regularização. Cabe a Prefeitura de Iguatu mediante seu órgão com esta atribuição encaminhar e supervisionar uma solução dentro das modernas tecnologias de descontaminação do solo disponíveis, para esta grave problema ambiental visto que, hoje, a ocupação do novo cemitério já beira os 50% dos túmulos disponíveis.
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