No mês de julho, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia instituiu a campanha Julho Turquesa para lembrar o combate às doenças causadas pela síndrome do ‘olho seco’. Nesta edição, o A Praça traz entrevista com o médico oftalmologista Ariosto Bezerra Vale, que faz uma leitura completa da doença, suas causas e efeitos
A Praça – Neste mês de julho, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia alerta sobre o crescimento no meio da população da doença oftalmológica conhecida como ‘olho seco’. O percentual de pessoas atingidas pode chegar a 14%. O senhor considera esse percentual muito alto?
Dr. Ariosto – A campanha Azul Turquesa é uma iniciativa da Sociedade brasileira de Oftalmologista, do Conselho Brasileiro de Oftalmologista, e da Portadores de Olhos Secos, uma entidade sem fins lucrativos, que visa conscientizar a população, sobre essa doença, e também da entidade chamada ‘Portadores de Olhos Secos’, uma entidade sem fins lucrativos, que visa conscientizar a população sobre essa síndrome, que é tão prevalente em nosso meio, que chega aí em torno de 20 a 25% da população tem algum nível de ‘olho seco’. A maioria é um nível leve, moderado. Em alguns casos, a gente observa em nosso consultório, paciente com olho severo, e a função dessa campanha é conscientizar a população durante o mês de julho, sobre as características dessa doença e o seu tratamento, a necessidade de procurar um profissional, um oftalmologista, para que seja diagnosticado e tratado adequadamente, já que causa extremo desconforto para o paciente e diminui muito a qualidade de vida. É um incômodo constante, principalmente para as pessoas que passam muito tempo em frente as telas.
A Praça – Existem fatores pré-determinados para esta doença?
Dr. Ariosto – Importante lembrar que essa é uma doença multifatorial. Hoje a principal causa do ‘olho seco’ são os hábitos de vida que nós temos. O fato de ficarmos expostos às telas, durante muitas horas, principalmente celular, computador, aliado ao meio onde ficam expostas essas telas, o ar-condicionado, diminui muito a umidade do meio, tudo isso pré-dispõe ao olho seco.
A Praça – Existem outras doenças associadas ao ‘olho seco’?
Dr. Ariosto – Existem várias doenças que são responsáveis pelo ‘olho seco’. Doenças de caráter imunológicas, as reumáticas, tireoide, várias doenças por si só, também causam ‘olho seco’, além de alguns medicamentos.
A Praça – Como a doença é tratada pelos profissionais?
Dr. Ariosto – Para fazer o tratamento, primeiro tem que diagnosticar. Precisamos submeter o paciente a alguns testes, feitos no consultório. Um dos mais comuns e mais simples é o que a gente coloca um colírio e avaliamos em quanto tempo existe quebra do fluxo lacrimal. Existe também outro teste comum, em que colocamos uma fita e o paciente fica sem piscar por alguns minutos e então avaliamos em quanto tempo essa fita fica umedecida. A partir disso estabelecemos o nível do ‘olho seco’, entre outros testes, quando instituímos o tratamento adequado.
A Praça – O tratamento é somente medicamentoso ou há alguma relação com os hábitos e estilo de vida do paciente?
Dr. Ariosto – A partir do momento em que diagnosticamos o ‘olho seco’, a sua intensidade, o seu fator causal, o tratamento não é só usar um colírio, vai depender do tipo de ‘olho seco’, porque cada caso é um caso. Há situações em que nós vamos só mudar o estilo de vida do paciente, pedir para ele piscar mais, diminuir a sua exposição às telas; em outros nós vamos instituir o tratamento, uso do lubrificante com uma frequência maior, aí nós vamos estabelecer qual o tipo de lubrificante, que existe hoje no mercado brasileiro, em torno de 40 tipos de lubrificantes diferentes, e é importante que a gente saiba e conheça cada um deles, para saber qual se adequa melhor a cada paciente. Importante lembrar que um lubrificante, que é usado por um paciente, pode não ser adequado para outro. É preciso ver as características daquele lubrificante se ele tem conservante, então tudo isso nós vamos estabelecer a partir do diagnóstico.
A Praça – Existe alguma relação das variações do nosso clima com a incidência da doença? Clima mais seco, menos umidade no ar?
Dr. Ariosto – O clima é um fator adjuvante na síndrome do olho seco. Em algumas épocas do ano, principalmente quando o clima está muito seco, quando a umidade do ar cai muito, onde tem muitas queimadas, fuligem, fumaça, deixa os pacientes com aquela sensação maior de irritação nos olhos, vermelhidão, coceira, tudo isso piora um olho seco já pré-existente. Pessoas que moram no Cerrado Brasileiro, vivendo o clima, onde a umidade do ar cai a níveis muito baixos, também sofrem muito em determinadas épocas do ano.
A Praça – Existe uma faixa etária da população mais afetada, mais exposta?
Dr. Ariosto – Não podemos esquecer que a síndrome do olho seco acomete praticamente todas as faixas etárias. As mulheres, por exemplo, depois dos 40, 50 anos, devido à diminuição da produção de alguns hormônios, diminuem também a produção lacrimal. Isso aí é uma causa de olho seco, importante aí nessas faixas, mas a gente vê muitos adolescentes, crianças, às vezes, se queixando de secura ocular, irritação, sensação de areias nos olhos, pelo fato de passarem muitas horas expostas ao celular, tablets, TV e outras telas. E a gente já institui tratamento para olho seco, nessa faixa etária mais precoce, que há vinte anos atrás a gente não via.
A Praça – Que medida o paciente deve adotar para fazer o diagnóstico adequado?
Dr. Ariosto – Para que o paciente seja diagnosticado adequadamente é necessário ele procurar o médico oftalmologista. A partir de então nós fazemos alguns testes no consultório e classificamos o tipo de ‘olho seco’ que ele tem: leve, moderado ou severo. Se é devido à diminuição da produção da lágrima, se é devido ao processo evaporativo, se é devido à disfunção das glândulas, se o paciente tem alguma ‘blefarite’, que esteja ocasionando o processo inflamatório, que vai causar essa doença, e, a partir de então, vamos instituir um tratamento adequado para cada caso.
A Praça – Quem tem pré-disposição à doença deve evitar exposições excessivas nas telas luminosas, do computador, tablet, telefone?
Dr. Ariosto – Vamos deixar bem claro que esta é uma doença multifatorial. Existem várias causas, entre elas a exposição excessiva às telas, exposição excessiva ao ar-condicionado. Normalmente quando estamos vendo uma tela, piscamos 50% menos do que piscaríamos numa situação normal, e hoje a maioria das pessoas passa muitas horas exposta a tela de computador e celular, e isso aí é um fator, não só causador, mas agravante, se a pessoa já tem pré-disposição a doença do ‘olho seco’.
A Praça – É comum, nesses casos de ‘olho seco’, identificar casos de automedicação?
Dr. Ariosto – É sempre importante lembrar as pessoas para evitarem a automedicação. É muito comum no consultório o paciente chegar, às vezes, usando uma, duas, três drogas diferentes, três colírios diferentes, achando que aquilo está relacionado com ‘olho seco’ e a gente diagnostica outro problema que não tem nada a ver com ‘olho seco’. Então é relevante frisar que diante de qualquer desconforto ocular, é preciso procurar o médico oftalmologista, porque só ele vai saber diagnosticar e tratar adequadamente o seu caso.
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