Para lembrar o Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, o A Praça entrevista o médico psiquiatra Eduardo Vieira, que faz ampla abordagem sobre o assunto, e elenca também sobre muitas maneiras de como ajudar alguém em momento crítico de crise de ansiedade. Dr. Eduardo Vieira também esclarece sobre mitos e verdades envolvendo o tema suicídio
A Praça – Setembro Amarelo é a simbologia de prevenção ao suicídio. O senhor considera importante falar?
Dr. Eduardo – Falar sobre suicídio não é fácil uma vez que corresponde a um tabu social, mas devemos trazer esse assunto para a sala de visita das pessoas, pela relevância e importância do tema. Uma pessoa com ideação suicida precisa ser ouvida, precisa ser acolhida e precisa ser tratada. É um mito achar que quem está com ideação suicida vai cometer o ato sem avisar. Os estudos mostram que a maioria das pessoas com esse pensamento pede ajuda de várias formas, então devemos estar atentos e ter uma maior sensibilidade para percebermos os sinais emitidos pelas pessoas ao nosso redor.
A Praça – Num cenário em que alguém tem dificuldade de expressar o que está sentindo, como perceber os sinais de um potencial suicida?
Dr. Eduardo – Falar sobre suicídio não é fácil uma vez que corresponde a um tabu social, mas Segundo a Organização Mundial de Saúde, em torno de 97% dos suicídios há uma doença psíquica por trás. A patologia mais comumente envolvida com o comportamento suicida é a depressão. Quem está passando por um processo depressivo apresenta sintomas como tristeza contínua, indisposição, isolamento social, alterações no sono (insônia ou sonolência excessiva), alterações no apetite (diminuição ou aumento), sentimento de culpa, choro fácil, perda de prazer em atividades antes prazerosas (sentimento que que a vida está perdendo a graça), desesperança. Outras doenças envolvidas no comportamento suicida são: dependência química, esquizofrenia…
A Praça – Na sua concepção como psiquiatra, quais os agravantes que a pandemia trouxe para as doenças psíquicas, como a depressão e a ansiedade, que mais têm levado pacientes para os quadros agudos culminando com tentativas de suicídio?
Dr. Eduardo – A pandemia está sendo um agravante que pode, em alguns casos, piorar o curso de várias patologias de cunho psíquico. Alguns fatores contribuem para isso: o medo da contaminação, o medo de perdas (de entes queridos e financeiras) e o isolamento social. A mudança repentina na rotina das pessoas pode piorar sintomas previamente existentes ou contribuir para o surgimento de novos sintomas.
A Praça – Quais os cuidados e medidas que a família de um paciente deve adotar para prevenir qualquer tentativa?
Dr. Eduardo – Ao perceber que uma pessoa apresenta sintomas sugestivos de um sofrimento psíquico o ideal seria oferecer ajuda: acolher e ouvir seriam os primeiros passos. Algumas perguntas iniciais devem ser feitas: 1. Você tem planos para o futuro?
- A vida vale a pena ser vivida? 3. Se a morte viesse ela seria bem-vinda? Caso as respostas sejam sugestivas de um desejo de morte, outras perguntas mais diretas devem ser feitas: 4. Você está pensando em se machucar, se ferir ou morrer? 5. Você tem algum plano específico para tirar sua vida? 6. Você fez alguma tentativa de suicídio recentemente? Caso seja confirmado uma ideação suicida deve-se buscar ajuda profissional o mais rápido possível e não deixar aquela pessoa sozinha.
A Praça – Existe uma faixa etária mais suscetível ao comportamento suicida?
Dr. Eduardo – Sim. É mais comum em jovens (adolescentes e adultos jovens) e na população idosa.
A Praça – Cresceu o número de profissionais de saúde acometidos de doenças psíquicas nessa pandemia?
Dr. Eduardo – Sim. Os profissionais de saúde passaram a ser uma das categorias mais suscetíveis a desenvolver sintomas psíquicos durante a pandemia por algumas razões: pelo aumento da sobrecarga de trabalho, pela necessidade de isolamento físico da família e pelo maior risco de serem infectados (uma vez que nessa guerra contra o vírus a equipe de saúde corresponde aos soldados que atuam na linha de frente).
A Praça – Quais são os maiores equívocos envolvendo o tema suicídio?
Dr. Eduardo – Há vários mitos envolvendo o tema: 1. Não devemos falar sobre suicídio pois isso pode aumentar o risco. FALSO. Na verdade, perguntar sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem. 2. As pessoas que falam em se matar querem apenas chamar atenção pois quem realmente quer morrer não fala. FALSO. A maioria das pessoas que pensam em suicídio pedem ajuda antes de praticar o ato. 3. É proibido a mídia falar em suicídio. FALSO. A mídia tem obrigação social de tratar esse importante assunto de saúde pública e abordar esse tema de forma adequada. Isso não aumenta o risco de uma pessoa se matar. É fundamental dar informações a população sobre o problema.
Perfil
Dr. Eduardo Vieira – psiquiatra
Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará – UFC
Residência médica em Psiquiatria pela Escola de Saúde Pública do Ceará
Especialização em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Médico psiquiatra do Hospital São Camilo em Iguatu-CE
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