Entrevista – Dr. Tales Teixeira de Mendonça, Odontólogo

15/07/2023

O mês de julho é classificado pela SOB – Sociedade Brasileira de Odontologia como ‘Julho Laranja’ alusivo à campanha de prevenção das cáries e de outras doenças que atacam a boca das crianças. Neste ano de 2023, a campanha adota o slogan ‘Cuidados precoces, sorrisos para toda a vida’ e destaca que diversos problemas odontológicos podem ser corrigidos e evitados, se tratados precocemente. Nesta edição do A Praça, quem conversa com o público leitor sobre o tema é o odontólogo Dr. Tales Teixeira de Mendonça

A Praça – Quais são os principais problemas dentários que as crianças enfrentam?

Dr. Tales – Infelizmente, a cárie ainda hoje é a doença bucal mais prevalente na infância. A odontologia moderna tem investido bastante em pesquisa e em formação de profissionais voltados para especialidades que buscam restabelecer função e estética, mas é preciso que ao mesmo tempo se busquem estratégias para promoção de saúde coletiva no sentido de diminuir ou eliminar essa preocupação com tratamento de doenças infecciosas como a cárie.

A Praça – Em qual idade as crianças devem começar a visitar o dentista regularmente?

Dr. Tales – A primeira visita odontológica deve acontecer o mais cedo possível, logo na primeira infância, tanto com objetivo de prevenção como no intuito de observar algumas alterações bucais que se manifestam antes mesmo do nascimento dos primeiros dentinhos. Aqui mesmo em Iguatu temos colegas especialistas que dispõem de ambiente lúdico, infantilizado, e utilizam técnicas de condicionamento comportamental e psicológico para tornar esse primeiro contato do bebê com o consultório odontológico, se não prazeroso, pelo menos livre de traumas e de muito estresse para a criança e seus pais acompanhantes.

A Praça – Quais são os hábitos diários recomendados para manter uma boa saúde bucal nas crianças?

Dr. Tales – Algumas doenças infecciosas comuns na infância, como a cárie, não deveriam mais ser motivo de preocupação para os dentistas. A odontologia moderna tem investido bastante em novos materiais e no aprimoramento de técnicas e tratamentos cirúrgicos, ortodônticos, estéticos, reabilitadores, e menos em doenças da boca. É uma tendência natural que a doença cárie praticamente não exista mais no futuro, como já ocorre em alguns países mais desenvolvidos. O Brasil, por questões sociais e educacionais, está caminhando lentamente nesse sentido, mas já se percebe alguma evolução. No meu dia a dia mesmo de atendimentos já observo uma significativa diminuição na prevalência da cárie em comparação com meus primeiros anos de atuação profissional. A cárie é realmente uma doença muito fácil de ser prevenida. Alguns hábitos básicos de higienização e de alimentação estabelecidos pelos pais precocemente, associados a visita preventiva regular a um dentista já são suficientes para que a criança faça parte dessa geração “cárie zero”.

A Praça – Quais são os sinais de alerta dos problemas dentários na infância dos pequenos?

Dr. Tales – Ninguém conhece as crianças tanto quando seus pais, principalmente as mamães. É importante que ao primeiro sinal de alguma alteração na boca, língua e tecidos moles o dentista já seja procurado para uma avaliação. Nos dentinhos é importante que durante a higienização os pais observem presença de manchas, alteração no brilho e na cor, dificuldade de remoção da placa nas margens da gengiva, enfim, qualquer situação que cause dúvidas quando a normalidade deve ser imediatamente comunicada ao profissional, tanto para prevenir como para evitar possíveis tratamentos mais complexos na criança.

A Praça – Que medidas preventivas devem ser adotadas para evitar uma das doenças mais prejudiciais que são as cáries?

Dr. Tales – O primeiro cuidado preventivo básico em relação à cárie é a escovação. Na primeira infância devem ser utilizados cremes dentais sem flúor, e à medida que vai crescendo, seguindo a orientação e acompanhamento profissional, incluir na higienização do dia a dia o creme fluoretado. O flúor é o material odontológico preventivo mais pesquisado, são várias décadas de estudos e trabalhos científicos atestando sua enorme capacidade preventiva. A escovação precisa também ocorrer em horários específicos, após as refeições e principalmente após a última refeição da noite, antes da criança dormir. Nada de mamadeiras durante o sono, e se por motivos nutricionais haja essa necessidade por orientação do pediatra, que seja feito a higienização logo após o consumo desse alimento. As cáries causadas pelo aleitamento noturno, mesmo que seja o leite materno, são altamente agressivas e de rápida evolução. É preciso atenção dos pais quando a esse tipo de hábito. À medida que a criança se desenvolve, a preocupação deve ser de monitoramento do consumo de açúcar refinado, guloseimas, refrigerantes, achocolatados e doces em geral. Mas não é necessário radicalismo. Nada está proibido. Os avós continuam liberados a presentear seus netinhos com doces (risos), desde que os pais estejam de olho nos excessos e nos horários das escovações. Tudo é o bom senso.

A Praça – Quais são os riscos associados ao uso prolongado de chupetas e mamadeiras?

Dr. Tales – O uso indiscriminado de chupetas e outros hábitos associados ao que chamamos de sucção não nutritiva podem ocasionar alterações no desenvolvimento dos maxilares e ossos da face e no posicionamento dos dentes. Sabemos que existe uma fase em que a criança tem essa necessidade psicológica, mas quando o hábito se prolonga por mais tempo e principalmente quando se torna muito intenso, os efeitos deformadores podem se consolidar e levar a necessidade de futuros tratamentos ortodônticos. A notícia boa é que se o hábito for interrompido precocemente, na maioria das vezes os efeitos adversos são revertidos espontaneamente. Importante também observar se há sinais de dificuldade respiratória, alguma obstrução que possa também causar alterações no desenvolvimento buco-facial. A participação dos pediatras nesse tipo de diagnóstico é fundamental.

A Praça – Como os pais podem lidar com o medo ou a ansiedade das crianças em relação às visitas ao dentista?

Dr. Tales – Resumidamente a atuação dos pais é o fator primordial na prevenção dos mais diversos problemas bucais da criança. São os orientadores, os principais promotores de saúde. Cabe a eles conduzir, orientar, cuidar da alimentação e da higienização, interromper maus hábitos e, claro, apresentar o ambiente odontológico a seus filhos o mais cedo possível. De preferência levando aos profissionais de confiança e que sejam capacitados para atender esse tipo de público.

A Praça- Existem técnicas especiais de escovação ou fio dental recomendados para crianças com necessidades especiais?

Dr. Tales – Quanto a crianças com necessidades especiais, os pais devem ter maior atenção ainda nos fatores preventivos. Sabemos que muitas vezes, a depender da limitação psicológica e emocional da criança, tratamentos mais complexos podem ser mais estressantes tanto para os pacientes como para os próprios pais. Independente do nível de dificuldade comportamental, pode-se facilmente evitar as principais doenças da boca com relativa facilidade, se pais e profissionais estiverem comprometidos e atuarem juntos em todas as frentes preventivas, desde os primeiros anos de vida da criança. Quando as limitações neurológicas são mais graves, muitas vezes é recomendável uma abordagem multidisciplinar envolvendo especialistas da área odontológica juntamente com médicos, psicólogos e outros profissionais que atuam nessa área comportamental.

Perfil

Tales Teixeira de Mendonça é formado em Odontologia pela Universidade Federal do Ceará-UFC, membro do Centro Avançado em Sistema Autoligável de Ortodontia, pós-graduado em Odontologia Estética e Cirurgia Plástica Gengival, especialista em Ortodontia, especialista em Odontopediatria.

 

 

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