A síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é um distúrbio emocional que surge em resposta a situações extremamente desgastantes no contexto laboral. Seus sintomas, que variam de exaustão física e mental a estresse, ansiedade e alterações de humor, são um chamado de alerta para uma crise que está se aprofundando nas entranhas das organizações. A médica Sâmia Menezes lança luz sobre o tema em entrevista exclusiva para o A Praça
A Praça O que é a síndrome de Burnout?
Dra. Sâmia – Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome de Burnout se define como “resultante de um estresse crônico associado ao local de trabalho que não foi adequadamente administrado”. Por outras palavras, é uma síndrome de esgotamento profissional, de ordem emocional, que resulta de uma carga excessiva, desgastante de trabalho e redução da realização pessoal.
A Praça – Segundo dados apresentados recentemente pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros enfrentam problemas com a Síndrome de Burnout. O Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo. A senhora vê esses dados com preocupação?
Dra. Sâmia – Vejo esse tema com bastante preocupação, tendo em vista o aumento da carga horária de trabalho em que muitas empresas não dão condições suficientes ao colaborador.
A Praça – Quais os sinais manifestados pela síndrome no corpo do colaborador?
Dra. Sâmia – A síndrome de Burnout não chega de uma hora para outra, ou seja, não é um problema de explosão imediata. Os sintomas vão se apresentando lentamente, dia após dia, até acometerem de vez o paciente. Em muitos casos ela só é percebida quando o profissional já está completamente desmotivado, apático e improdutivo. Cito alguns sinais: exaustão física e emocional, tensão muscular, ansiedade, tristeza, gastrite, desânimo acentuado, dificuldade de sentir prazer e de raciocinar, irritabilidade, preocupação excessiva, alterações do sono, sentimentos de incapacidade ou inferioridade, falta de motivação e criatividade.
A Praça – O que os especialistas querem dizer quando falam que a síndrome de Burnout é uma doença ocupacional?
Dra. Sâmia – Devido a ser uma doença que está caracterizada como distúrbio emocional provocado por situações desgastantes geradas pelo trabalho.
A Praça – O reconhecimento oficial da síndrome de Burnout pela OMS-Organização Mundial da Saúde pode ajudar principalmente aos trabalhadores que precisam do diagnóstico da doença para iniciar o tratamento?
Dra. Sâmia – Sim, com certeza. O empregado diagnosticado com a síndrome tem garantido os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários gerados pelo diagnóstico decorrente do trabalho. Um dos problemas é a má qualidade dos cuidados prestados a muitos que recebem tratamento.
A Praça – Aqueles que são diagnosticados com a síndrome agora têm garantidos os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários concedidos a colaboradores com outras doenças ou acidentes relacionados ao trabalho. Isso sinaliza uma mudança fundamental na forma como a sociedade enxerga e lida com a saúde mental dos trabalhadores?
Dra. Sâmia – Sim. É de fundamental importância, pois o colaborador se sente seguro, quando amparado. Apesar de que algumas pessoas ainda têm preconceito e estigma. É difícil, inclusive, o próprio trabalhador reconhecer que está doente. Ainda é preciso avançar na sociedade para falar naturalmente sobre saúde mental e trabalho.
A Praça – O tratamento é feito com medicamentos ou somente com terapia?
Dra. Sâmia – O tratamento deve ser feito de forma multidisciplinar. Envolve psicoterapia e farmacoterapia. Em alguns casos, o uso de medicamentos pode se fazer necessário, e o psiquiatra é o especialista mais indicado para diagnosticar e tratar o problema. Uma vez diagnosticado com a doença, avalia-se a necessidade de afastamento do trabalho e, sendo necessário, a empresa fica responsável por pagar integralmente o salário do empregado por até 15 dias. Depois desse período, submete-se às regras do INSS.
A Praça – Os números são impressionantes e alarmantes, com o Brasil ocupando o segundo lugar no ranking global de países com maior prevalência da doença. A senhora considera ser crucial examinar as condições de trabalho e os fatores que contribuem para esse cenário preocupante?
Dra. Sâmia – Totalmente! Toda empresa deve ser examinada e acompanhada para observar as condições de trabalho. Redução de salários, negam-se a pagar hora extra, abrangência de várias funções na empresa. Para aliviar a sensação de estresse e esgotamento, muitos profissionais recorrem ao consumo de bebidas alcoólicas, tabaco, medicamentos sem prescrição médica e até drogas ilícitas, o que só piora a condição física e mental do indivíduo. Não basta pagar hora extra, é necessário se preocupar com aspectos de saúde por exigir jornada extensa ou metas difíceis de serem alcançadas que geram estresse ao trabalhador.
A Praça – Há duas décadas, os acidentes do trabalho e questões ortopédicas dominavam os afastamentos do trabalho. Hoje, vemos um cenário diferente, no qual cerca de 70% dos pacientes apresentam problemas psiquiátricos, seguidos por questões ortopédicas. Isso mostra a necessidade urgente de priorizar a saúde mental dos colaboradores?
Dra. Sâmia – A saúde mental é uma questão importante para todos, especialmente para os colaboradores que lidam diariamente com o atendimento ao público ou mesmo que seja em ambiente interno. O ritmo acelerado e as demandas constantes podem afetar negativamente a saúde mental dos trabalhadores e prejudicar sua performance no trabalho. Então, como médica do trabalho, oriento que é fundamental que o empregador cuide da saúde mental de seus funcionários para garantir o sucesso de sua empresa. Forneça treinamento, estabeleça horários de descanso, fomente a comunicação aberta, promova ações e ofereça apoio.
A Praça – A síndrome de Burnout pode significar um sinal de alerta para a necessidade urgente de repensar o ambiente de trabalho no Brasil? Com características mais modernas e priorizando a saúde mental dos trabalhadores?
Dra. Sâmia – É sempre bom lembrar de que a saúde mental dos funcionários é tão importante quanto a saúde física. Adotar essas medidas pode ajudar a manter a saúde mental e garantir que eles possam desempenhar seu trabalho de maneira eficiente e saudável para manter a qualidade de vida.
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