Na entrevista exclusiva ao A Praça, Vitor Friary explica como estilos de vida ativos podem salvar vidas. A meta é prevenir e evitar o suicídio entre jovens através de atividade física e mindfulness, prática mental que envolve manter uma consciência momento a momento dos nossos pensamentos, emoções, sensações corporais e do ambiente, que ajuda a melhorar o bem-estar emocional, reduzir o estresse e aumentar o foco e a concentração
A Praça – Por que a relação entre atividade física, sedentarismo e saúde mental no meio da população jovem ganhou foco neste trabalho?
Vitor – A crescente incidência de transtornos mentais e suicídios entre os jovens nos impulsionou a investigar todos os aspectos possíveis que podem influenciar a saúde mental. A atividade física e o sedentarismo têm sido estudados amplamente por seu impacto direto no bem-estar físico e mental. No contexto juvenil, esses fatores ganham ainda mais importância, considerando que estilos de vida ativos podem ser estratégicos na prevenção de problemas de saúde mental e na redução da vulnerabilidade ao suicídio.
A Praça – Em recente artigo enviado à imprensa, o senhor menciona um estudo da Universidade de Queensland na Austrália, envolvendo mais de 200 mil estudantes em 52 países de baixa e média renda, que aponta dados preocupantes sobre como estilos de vida têm um papel relevante no bem-estar mental dos jovens. Que fatores mais influentes este estudo mostra?
Vitor – O estudo da Universidade de Queensland destaca como a falta de atividade física e o aumento do comportamento sedentário não só afetam a saúde física dos jovens, mas também se correlacionam significativamente com a incidência de depressão e ideação suicida. Os dados mostram que jovens que mantêm um estilo de vida sedentário e têm baixa participação em atividades físicas tendem a relatar maiores níveis de desesperança e pensamentos suicidas.
A Praça – Informações da Pesquisa Global de Saúde Escolar revelam ligação preocupante entre comportamento sedentário elevado, baixa atividade física e aumento da suscetibilidade a pensamentos e comportamentos suicidas entre adolescentes. Um adolescente que gasta pouco tempo com atividade física, e tem vida sedentária acentuada está mais vulnerável a ter pensamentos de desesperança que podem evoluir para o risco ao suicídio?
Vitor – Exatamente. O estudo aponta que um estilo de vida sedentário, associado à baixa atividade física, aumenta significativamente a suscetibilidade a pensamentos e comportamentos suicidas. Isso ocorre porque a falta de atividade física afeta negativamente a saúde mental, reduzindo a liberação de endorfinas e diminuindo a capacidade do corpo de combater o estresse e a depressão.
A Praça – A depressão é uma das doenças mentais com maior predominância das mortes por suicídio entre adolescentes?
Vitor – Sim, a depressão é um dos principais fatores de risco para o suicídio entre adolescentes. Ela muitas vezes passa despercebida ou não tratada devido ao estigma associado a questões de saúde mental. Reconhecer e tratar a depressão em estágios iniciais é crucial para prevenir suicídios e promover uma saúde mental robusta desde a juventude.
A Praça – Qual a relevância que o senhor vê na abordagem para diagnosticar as doenças mentais e identificar os fatores de risco visando prevenir o suicídio no meio dos jovens?
Vitor – É fundamental. Diagnosticar precocemente e identificar os fatores de risco não apenas ajuda a tratar eficazmente, mas também permite implementar medidas preventivas personalizadas. Isso inclui desde intervenções psicológicas até mudanças no estilo de vida, como incentivo à prática regular de atividade física e participação em programas de mindfulness.
A Praça – Quais os papéis da família e da escola na correção desses rumos na vida dos adolescentes e jovens?
Vitor – Família e escola são fundamentais na formação de um suporte robusto para os jovens. Eles podem fornecer um ambiente de compreensão e aceitação que facilita a discussão aberta sobre saúde mental. Além disso, escolas podem integrar programas educativos sobre saúde mental em seus currículos, enquanto as famílias podem promover ambientes saudáveis e ativos.
A Praça – Como poderão ser as ações de promoção da saúde integradas à escola e à família, que visam gerar resiliência e ampliar os fatores protetores entre o público adolescente?
Vitor – Promoção de saúde integrada à escola e à família inclui programas de educação sobre saúde mental, atividades físicas regulares e oficinas de mindfulness. Estas ações não só fortalecem a resiliência dos jovens como também ampliam seus fatores protetores, ajudando-os a desenvolver habilidades de enfrentamento eficazes e uma visão positiva da vida.
A Praça – O senhor fala em ações baseadas em ‘mindfulness’ (MBIs), por exemplo, que surge como abordagem promissora para fortalecer a saúde mental dos adolescentes, com destacada eficácia em melhorar o bem-estar emocional, otimismo e comportamentos de estilo de vida saudável, incluindo exercício físico. Qual o significado do mindfulness? É um tipo de exercício? Como funciona?
Vitor – Mindfulness, ou atenção plena, não é exatamente um exercício físico, mas sim uma prática mental que envolve manter uma consciência momento a momento dos nossos pensamentos, emoções, sensações corporais e do nosso ambiente, através de um olhar gentil e sem julgamento. Essa prática ajuda a melhorar o bem-estar emocional, reduzir o estresse e aumentar o foco e a concentração.
A Praça – Os problemas de saúde mental nos adolescentes e jovens, se não forem tratados podem evoluir com eles para a vida adulta?
Vitor – Sem dúvida. Problemas de saúde mental não tratados na adolescência podem se estender até a idade adulta, afetando adversamente a qualidade de vida, as relações interpessoais e a capacidade de alcançar o potencial pleno. É por isso que intervenções precoces são tão importantes.
A Praça – Como devem ser as intervenções mediante os fatores psicológicos, associados a um estilo de vida que contribuem para os problemas de saúde mental?
Vitor – Intervenções devem ser integrativas e multifacetadas, abordando tanto os aspectos psicológicos quanto os de estilo de vida. Isso pode incluir terapia psicológica, aconselhamento nutricional, programas de atividade física, e suporte para o desenvolvimento de um estilo de vida equilibrado e saudável.
A Praça – Fatores considerados relevantes no aspecto da doença mental entre os adolescentes, estão ligados ao perfil socioeconômico, isolamento social, falta de oportunidade e falta de apoio. Nesses casos como devem ser as abordagens?
Vitor – Em casos em que fatores socioeconômicos, isolamento social, e falta de oportunidades são prevalentes, as abordagens devem ser adaptadas para atender às necessidades específicas desses grupos. Isso pode envolver programas comunitários que proporcionem suporte social, oportunidades educacionais e acessíveis, e serviços de saúde mental que sejam inclusivos e acessíveis a todos.
0 comentários