O passado está em seu túmulo, embora seu fantasma nos assombre, dizia o poeta e dramaturgo inglês Robert Browning (1812-1889).
Mas chegamos aos estertores de 2023 com saldos positivos: fim da mamata tributária com isenção indecorosa de fundos exclusivos e offshore; controle das importações via ecommerce; alternativa convincente e vitoriosa ao “temeroso” teto de gastos como justificativa para o descaso com projetos sociais e incentivos à cultura; subida da Bolsa de Valores a níveis máximos; juros em queda e empregabilidade em alta; queda da inflação; aprovação da Reforma Tributária; retomada de programas de largo alcance para os mais pobres, como o Mais Médicos e Farmácia Popular; aumento real do salário mínimo; produção cultural voltando a níveis compatíveis com a vocação artística do país: incentivo à realização cinematográfica, teatral, literária e intelectual de cunho científico; reconquista do prestígio internacional e proteção institucional contra os inimigos da democracia, entre outras ações que nos devolvem o orgulho de ser brasileiros.
Tudo perfeito? Claro que não. Ainda estaremos por muitos anos entre os países com maior índice de desigualdade social, e a pobreza é algo que a um só tempo nos entristece e envergonha; nossas escolas e universidades carecem de maior atenção, mais recursos, mais tecnologia, mais bibliotecas e mais computadores disponibilizados full time a alunos, professores e funcionários; precisamos de mais casas para as famílias pobres e maiores cuidados (efetivos) com a preservação do meio ambiente; aparelhamento e medidas de inteligência contra a violência que campeia país afora; melhor assistência médica e hospitalar gratuita; maior representatividade de gênero, raça e cor em cargos de importância na estrutura de governo, e mais avanços no sentido de assegurar a todos mobilidade eficiente e confortável.
É claro, pois, que ainda há muito a fazer e conquistar, mas só aos olhos obnubilados do fanatismo político mais vil e mesquinho, do fundamentalismo religioso mais desprovido de racionalidade, dos interesses inconfessáveis de partidos políticos de direita e extrema direita, podem-se negar as evidências: o Brasil é outro desde janeiro do ano que termina.
E crescerá em 2024 para além das previsões desonestas de economistas liberais a serviço dos donos do dinheiro, essa gente perversa da Faria Lima, e de uma imprensa que manipula dados, forja situações improváveis e difunde por interesses escusos o pessimismo em escala criminosa.
Num cenário externo confuso, quer sob o ponto de vista econômico, quer sob o ponto de vista político, com nuvens pesadas desenhando imagens ameaçadoras nos céus de superpotências, como os Estados Unidos, ou países medíocres, a exemplo da Argentina, é mau brasileiro aquele que cerrar os olhos para o sucesso com que chega ao final do primeiro ano de mandato o petista Luiz Inácio Lula da Silva, e escancaradamente questionável o caráter dos que cospem no prato em que comem (que me desculpem a falta de imaginação do lugar comum).
Viúvas do arbítrio, amantes do atraso, comparsas da criminalidade subliminar, saudosistas do autoritarismo primitivo de antes – e afeitos ao moralismo torto e rasteiro que nutre o sonho de voltar, esses não passarão. Não passarão.
Feliz Ano Novo!
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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